sábado, 2 de junho de 2007

Um lugar ao sol - Maria Lúcia


Depois de uma noite de insônia e solidão, finalmente o sol. Quem já não se sentiu assim: tendo vontade de abraçar, mais uma oportunidade de ver o mundo às claras. É como se o sofrimento da noite passada ficasse tão distante, incapaz de fazer parte deste outro momento, em que essa dádiva divina nos faz enxergar fora e dentro de nós mesmas para dizer-nos que ainda vale à pena sonhar. Apesar de ontem, vale a pena acreditar que o Criador faz o sol nascer para todos, e todos tem o seu lugar ao sol, o seu lugar no mundo.
Reflito muitas vezes sobre o não acaso de estar aqui, nesta dimensão. Cada dia que nasce me fortalece a esperança de buscar o meu lugar, seja onde for.
Quero que eu seja capaz de ver, dentro de mim, minhas limitações para mudar se for possível, fora de mim, quem está ao meu lado, e dar a mão, se alguém estender e sua em minha direção. “Eu já cheguei muito perto de onde sonhei”, me distanciei de novo e de novo voltei. A vida é assim, pequenas realizações nos levam ao topo, e elas não são percebidas por alguém. São tão insignificantes para uns e tão significantes para nós, sujeitos a elas. Sou grata por tudo que pude realizar em minha vida, sou mais grata ainda pela inquietação que ainda existe dentro de mim. Aos 51 anos, eu sou capaz de recomeçar, eu me acho louca às vezes, mas acabo achando normal. Se não fosse assim não seria eu.
Enquanto espero, a realização das minhas buscas: vou a “Pasárgada”, como Manuel Bandeira e lá a “vida basta”. Assim vivemos os sonhadores, os crentes e os considerados loucos, pelos moldes do capitalismo, onde a estabilidade financeira é a competição mais disputada. Embora que com muitos obstáculos haja um grande número de “vencedores”. Nesta corrida, àquele que leva à realização e à felicidade chegam bem poucos.
Vencer e não ser feliz! É tornar-se vencido e não vencedor. Cito um relato sobre o ser humano que revela algumas verdades que sabemos, mas não admitimos em relação a nós: “O ser humano perde a saúde para ganhar dinheiro, depois perde dinheiro para recuperar a saúde. E por pensar ansiosamente no futuro, esquece do presente, de tal forma que acaba por não viver, nem o presente, nem o futuro. E vive como se nunca fosse morrer e morre como se nunca tivesse vivido”...
Esta é uma realidade existencial cada vez tão mais crescente em nossos dias que precisamos mudar dentro de nós, se queremos, para que possamos dizer que a vida pode ser maravilhosa, vivendo os momentos, um de cada vez. Acompanhando, por exemplo, o crescimento dos filhos. Lembro-me de como foi bom, não ter emprego durante o crescimento do meu filho. Era tudo tão escasso, mas de tudo tinha um pouco. Deus providenciava e nunca faltou o essencial para ele crescer forte e saudável. Às vezes, emocionava-me ao vê-lo brincar. De certa distancia, observava sua criatividade com os brinquedos: pecinhas de montar, bonecos e carrinhos, quando ele criava estórias engraçadas. Depois com os materiais escolares: os desenhos e pinturas, as primeiras músicas ensinadas pela “tia”, as historinhas que ele contava, antes de aprender a ler, olhando para os desenhos, as primeiras palavras lidas e escritas. Era tudo novidade para ele. Para mim era a emoção de ter alguém se “formando” sob minha responsabilidade, era a certeza de que Deus estava do meu lado, ajudando-me nos momentos difíceis. Foi e continua sendo a maior e a mais gratificante experiência da minha vida: ser mãe.

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