Depois de muito relutar, mas com uma vontade irrefreável de conhecer pessoalmente – a quem antes conhecia de ler, onde de há muito nutria uma admiração pela sensatez das coisas escritas e das poesias de efeito. Foi lendo suas composições que me fiz poeta e agora, queria ouvi-lo, queria contato com quem tanto me inspirou a dar vazão em forma de cantos ao turbilhão sentimental que fervilha em nossa alma.
Quebrando os elos que me prendiam aos receios de minha humildade, em um domingo deste, início de tarde resolvi fazer-lhe uma visita e levar-lhe um exemplar de meu modesto livro e finalmente estar perto do grande Poeta Zeca Muniz – o “Velho Zeca” – como hipocoristicamente é chamado por seu filho, e meu amigo: Zé Orestes.
Estava ali deitado, como que não mais importando ver o tempo passar. Na confortável rede, em cor bege e de lindas varandas ornamentando seu contorno, o Velho Zeca descansava dos noventa anos já quase completos. Muito tempo para uma vida só, penso eu... quantas e tantas coisas lhe ocorreram neste lapso temporal. Quanta gente conheceu, quanta gente viu nascer e morrer. É testemunha ocular dos acontecimentos históricos mais marcantes de nossa “Terra Cruz”. Dentre os tais, cite-se os de maior envergadura, como o do longevo e profícuo paroquiato de Pe. Valdery, quarenta e seis anos completados agora em setembro próximo para ser mais exato, presente que esteve desde os seus momentos primeiros, como também no de Monsenhor Edson e ainda no mais distante destes, o do saudoso Monsenhor Sabino de Lima. É muito tempo para uma vida só.
Vendo esta imagem permeada de tantas comparações, fico como intimidado de despertá-lo de seu sacrossanto descanso da tarde. Mesmo assim me atrevo. Bato palmas, ele não desperta, tampouco alguém vem me atender ao portão. Bato palmas novamente, agora, uma simpática senhora me atende com um largo sorriso e me convida a entrar. A casa é confortável, percorro-a curiosamente por suas dependências iniciais desejando incluir algumas partes em meu projeto de moradia a tanto engavetado no meu arquivo de prioridades ainda não realizadas.
Identificando-me e apresentando minha razão da visita, a doce senhora, que depois de uma inicial conversa, se apresentou como esposa do Velho Zeca. Confesso que de logo estranhei a diferença de idade entre ambos, no que ante minha intima e inconveniente interrogação ela me esclarece ser sua segunda esposa sem que eu lhe tenha indagado, creio que deixei escapar minha indiscrição...
Antes mesmo que eu chegasse próximo à rede, o Velho Zeca desperta, levanta-se com dificuldade, ajeitando os lisos e ralos cabelos, alinhando a blusa desbotoada logo me estende a mão cumprimentando-me, ao mesmo perguntando a sua esposa: “quem é este moço?”. Antes mesmo que ela respondesse, eu mesmo me identifiquei, dizendo-lhe que ali estava para levar-lhe como presente o livro por mim escrito e ainda pouco lançado. Qual foi o meu contentamento quando ele disse a mim que já tinha visto “algumas coisas”, que tinha gostado e que eu sabia o que escrevia.
Tendo este assunto como fio de meada, iniciamos assim uma gostosa conversa. Minha admiração e alegria por ouvi-lo eram imensas. Guardava cada palavra dita, cada ensinamento, cada lição de vida tirada daquele momento impar que não via passar, mas o crepúsculo em vermelho sangue manchando o nascente me dizia que as horas haviam passado.
Estava diante de um autêntico poeta, um ourives das letras, das frases conexas que dão vida a escritos que exalam simplicidade e visão profunda de realidade em uma amálgama que converte ao mais puro preceito da boa vida.
Um homem na altura de seus noventa anos, aquele que já foi e fez o retorno no circuito da existência, agora com a dádiva do conhecimento empírico, pois em seu regresso, teve a oportunidade de ver por onde “andou”, contemplando os erros e acertos. E ali estava o Velho Zeca com tantas coisas a serem passadas... tanto ainda a ser útil pelo imenso volume de razão de vida, pelo exemplo de fé a ser imitado, pelo modelo de pai a ser espelhado, pelo homem honrado que é...
Das tantas frases ouvidas naquela tarde, uma ficou de forma especial; disse-me ele com meu livro em mãos: “olha meu filho, continue escrevendo poesias, elas são a expressão de nossa alma, elas nos fazem melhor, nos elevam”.
Elevado eu me senti naquela instante. Pude ter a felicidade de partilhar da aura envolvente dele exalada. O olhar cansado e manso de quem muito já viu, e muito tem a apontar como se deve verdadeiramente enxergar e bem viver. Verdade por ele confeccionada em um de seus inúmeros versos:
“E no fim da jornada me resta agruras,
E contemplando a essência da vida
Vislumbrei lampejos do transcendental.
Buscando valores que temos na alma,
Mudamos caminho na reta final.”
Parabéns Poeta! Deus o abençoe ainda mais, como sempre o abençoou em tão longa e benfazeja vida. Tanto a você como a todos por quanto lhe são amados.
Obrigado por ter concedido a mim, naquela tarde, um rastilho da luz do incandescente sol que é sua vida longa... longa vida...
Com todo carinho e respeito que se possa imaginar!
Quebrando os elos que me prendiam aos receios de minha humildade, em um domingo deste, início de tarde resolvi fazer-lhe uma visita e levar-lhe um exemplar de meu modesto livro e finalmente estar perto do grande Poeta Zeca Muniz – o “Velho Zeca” – como hipocoristicamente é chamado por seu filho, e meu amigo: Zé Orestes.
Estava ali deitado, como que não mais importando ver o tempo passar. Na confortável rede, em cor bege e de lindas varandas ornamentando seu contorno, o Velho Zeca descansava dos noventa anos já quase completos. Muito tempo para uma vida só, penso eu... quantas e tantas coisas lhe ocorreram neste lapso temporal. Quanta gente conheceu, quanta gente viu nascer e morrer. É testemunha ocular dos acontecimentos históricos mais marcantes de nossa “Terra Cruz”. Dentre os tais, cite-se os de maior envergadura, como o do longevo e profícuo paroquiato de Pe. Valdery, quarenta e seis anos completados agora em setembro próximo para ser mais exato, presente que esteve desde os seus momentos primeiros, como também no de Monsenhor Edson e ainda no mais distante destes, o do saudoso Monsenhor Sabino de Lima. É muito tempo para uma vida só.
Vendo esta imagem permeada de tantas comparações, fico como intimidado de despertá-lo de seu sacrossanto descanso da tarde. Mesmo assim me atrevo. Bato palmas, ele não desperta, tampouco alguém vem me atender ao portão. Bato palmas novamente, agora, uma simpática senhora me atende com um largo sorriso e me convida a entrar. A casa é confortável, percorro-a curiosamente por suas dependências iniciais desejando incluir algumas partes em meu projeto de moradia a tanto engavetado no meu arquivo de prioridades ainda não realizadas.
Identificando-me e apresentando minha razão da visita, a doce senhora, que depois de uma inicial conversa, se apresentou como esposa do Velho Zeca. Confesso que de logo estranhei a diferença de idade entre ambos, no que ante minha intima e inconveniente interrogação ela me esclarece ser sua segunda esposa sem que eu lhe tenha indagado, creio que deixei escapar minha indiscrição...
Antes mesmo que eu chegasse próximo à rede, o Velho Zeca desperta, levanta-se com dificuldade, ajeitando os lisos e ralos cabelos, alinhando a blusa desbotoada logo me estende a mão cumprimentando-me, ao mesmo perguntando a sua esposa: “quem é este moço?”. Antes mesmo que ela respondesse, eu mesmo me identifiquei, dizendo-lhe que ali estava para levar-lhe como presente o livro por mim escrito e ainda pouco lançado. Qual foi o meu contentamento quando ele disse a mim que já tinha visto “algumas coisas”, que tinha gostado e que eu sabia o que escrevia.
Tendo este assunto como fio de meada, iniciamos assim uma gostosa conversa. Minha admiração e alegria por ouvi-lo eram imensas. Guardava cada palavra dita, cada ensinamento, cada lição de vida tirada daquele momento impar que não via passar, mas o crepúsculo em vermelho sangue manchando o nascente me dizia que as horas haviam passado.
Estava diante de um autêntico poeta, um ourives das letras, das frases conexas que dão vida a escritos que exalam simplicidade e visão profunda de realidade em uma amálgama que converte ao mais puro preceito da boa vida.
Um homem na altura de seus noventa anos, aquele que já foi e fez o retorno no circuito da existência, agora com a dádiva do conhecimento empírico, pois em seu regresso, teve a oportunidade de ver por onde “andou”, contemplando os erros e acertos. E ali estava o Velho Zeca com tantas coisas a serem passadas... tanto ainda a ser útil pelo imenso volume de razão de vida, pelo exemplo de fé a ser imitado, pelo modelo de pai a ser espelhado, pelo homem honrado que é...
Das tantas frases ouvidas naquela tarde, uma ficou de forma especial; disse-me ele com meu livro em mãos: “olha meu filho, continue escrevendo poesias, elas são a expressão de nossa alma, elas nos fazem melhor, nos elevam”.
Elevado eu me senti naquela instante. Pude ter a felicidade de partilhar da aura envolvente dele exalada. O olhar cansado e manso de quem muito já viu, e muito tem a apontar como se deve verdadeiramente enxergar e bem viver. Verdade por ele confeccionada em um de seus inúmeros versos:
“E no fim da jornada me resta agruras,
E contemplando a essência da vida
Vislumbrei lampejos do transcendental.
Buscando valores que temos na alma,
Mudamos caminho na reta final.”
Parabéns Poeta! Deus o abençoe ainda mais, como sempre o abençoou em tão longa e benfazeja vida. Tanto a você como a todos por quanto lhe são amados.
Obrigado por ter concedido a mim, naquela tarde, um rastilho da luz do incandescente sol que é sua vida longa... longa vida...
Com todo carinho e respeito que se possa imaginar!
Homenagem da Biblioteca Pública Municipal ao Aniversário do Poeta Popular Zeca Muniz neste 26/03/2011. Na ocasião acontecerá uma missa em Ação de Graças na Igreja Matriz as 9h da manhã.