segunda-feira, 30 de julho de 2012

A Lenda - Orestes Albuquerque

Diz a Lenda, que uma Lenda muito vaidosa, inconformada com o descaso do povo com sua Lenda, pois, vivendo à beira do esquecimento, resolveu certo dia abandonar sua Lenda e, numa atitude Lendária, criar uma Lenda que jamais fosse esquecida. A Lenda seria de outro planeta. Lenda de causar arrepio na mais Lendária das Lendas. Foi um reboliço Lendário. Todas as Lendas se revoltaram enciumadas; ora mais, o que deu nessa Lenda? Andou tendo pesadelos? - Precisamos renovar as Lendas. Estamos todas envelhecidas e fora da mídia, disse a Lenda rebelde. - Não se cria uma Lenda assim, aponta-lhe o dedo, uma Lenda autoritária. - E você sabe como começa uma Lenda? Perguntou-lhe a Lenda que acabara de criar a Lenda; - Nunca se sabe ao certo, Lenda é Lenda. Quando me entendi por Lenda eu já era Lenda, retrucou a Lenda mais conservadora. Todas as Lendas se reuniram no Lendário calabouço, com suas perucas de bobs e seus guarda-pós mofados. Foi uma catinga Lendária jamais vista ou sentida, até pela mais Lendária das Lendas. A Lenda-Mor, já moribunda, então eleita pelo Concílio das Lendas, cheia de ácaros e demais parasitas, veio ter com a Lenda transgressora. Senhora Lenda, disse-lhe a Lenda-Mor, moribunda: de onde tirastes essa Lenda, que nem a mais Lendária das Lendas, no caso eu, se pôs a conhecer? Não existe qualquer registro da historia da tua Lenda. A Lenda subjugada então lhe respondeu: Toda Lenda nasce de uma mentira bem contada, não se sabe por quem. Pelo menos a minha, tem autoria! A Lenda pagou caro pela rebeldia. Retornou para sua Lenda, condenada que foi a um século de mofo, um milênio de esquecimento e mais uma década de prestação de serviços à comunidade literária, espanando livros empoeirados no Museu das Lendas.




Orestes Albuquerque
SÁBADO, 21 DE JULHO DE 2012