sexta-feira, 12 de agosto de 2011

DIA DOS PAIS (Crônica de um convertido)


A vida nos é dada para grandes coisas, e creio piamente que ser pai é o maior de todos os dons. Filhos são mensagens que mandamos para um tempo que não vamos viver. Mais do que a carga genética que é duplicada e transmitida para eles, nos dando uma noção de eternidade, eles, os filhos, são a prova real da capacidade que temos de formação, pois o que eles serão, nada mais é do que o reflexo do que fomos como pais.
Certa feita, quando me dirigia para mais uma missa do tríduo para a preparação de Pentecostes, um amigo me interpelou perguntado do por que de minha constante frequência à Igreja, algo que ele, conhecendo-me tão profundamente como me conhecia, estava deveras atento a tamanha mudança, e, de há muito queria ouvir-me sobre.
Não somente por ser o amigo tão bem quisto por mim, mas por uma vontade irrefreável de dar testemunho da felicidade por mim agora vivida, eu respondi-lhe com felicidade, relatando:
Em um tempo, em que eu, estando afastado, desgarrado por vontade própria, provei qual o filho pródigo da devassidão e, perdulário, esbanjei a minha espiritualidade que facilmente sucumbiu em falsos prazeres que dada a sua falta de consistência e fugacidade só me trazia de retorno a insaciedade. Foi quando no maior revés de minha vida, em uma sexta-feira, precisamente às dezoito horas e quarenta minutos, eu vi fecharem-se para sempre o azulado olhar de meu pai.
Ali, naquele leito hospitalar, envolto em alvo lençol, inerte, dormindo pra sempre, estava quem até então pensava ser eterno, e, nunca passado em minha consciência que ele teria fim - como ainda - que nunca fosse ter que vivenciar tamanha verdade dolorida e difícil de ser aceita... que pais não são para sempre, e o meu... tinha se ido.
Sim, somos filhos de Deus, e sendo-os, somos herdeiros de sua imensurável graça, tive essa certeza, quando em uma sexta-feira, no mesmo horário de dezoito horas e quarenta minutos, no mesmo hospital, o mesmo médico que me confortou naquele triste momento, agora me cumprimentava pela minha felicidade de ver abrirem-se os mesmos olhos azulados de meu pai irradiando no azul olhar de minha filha que nascia...
Era dia de Corpus Christi. Tentando inutilmente disfarçar teimosas lágrimas que escorriam latentes de meu mais profundo íntimo. Saí ao pátio do hospital como que querendo agradecer sem saber a quem, e, nem mesmo como.
Ali, na semi escuridão do pátio, recolhido entre indagações, ouvi quase que inaudível o serviço de som da Matriz trazido àquela distancia pelas perceptíveis ondas do vento os cânticos procissionais. Pude distinguir de forma clara, como se fosse pra eu refletir, a entoação do verso cantado em solo pelo vigário: “venha a fé por suplemento...”. Foi neste momento que as lágrimas antes, tímidas e dolentes, transformaram-se em copioso choro permeado por um arrependimento profundo que me trucidava e ao mesmo me dava calma e paz a minha alma de antes tão combalida.
Era como se eu ouvisse a resposta de minha inquietação dizendo-me: “Olha meu filho, mesmo estando você de mim afastado, eu nunca me afastei de ti...”
Terminado o meu relato, pensei ter visto brilharem nos olhos de meu amigo um reflexo de sua emoção com meu testemunho que se transmutava em lágrimas.
Nada mais me foi perguntado por ele, mas mesmo assim lhe disse que não há um só dia em que não agradeça a Deus por tamanha dádiva em minha vida, não existe expressão maior de felicidade do que a paternidade. Por ela me fiz gente, por ela mudei meus conceitos de vida... por ela, agora posso dimensionar a grandeza real de meu PAI, homem limitado, não o super-homem de minha infância, que de sua limitação transpôs os limites das possibilidades para nos dar o melhor que nunca teve, e desse melhor, nos fazer pessoas de bem, como nos fez.
Como quando em seu instante derradeiro, onde não comovido, mas agradecido, eu segurei-lhe sua mão já gelada pelo passamento de sua vida naquela sexta-feira ida, e beijando-a agradeci-lhe. Hoje, mais feliz por ter-lhe tido como pai, com ardor de minha alma lhe digo: Obrigado meu PAI, muito obrigado por ter-me feito gente, como pelo exemplo de eu ser para minha filha, o igual ao do senhor recebido!


Paulo Roberlando da Silva Ribeiro
12 de agosto de 2011

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