sábado, 2 de junho de 2007

Raízes -Maria Lúcia


Embora não muito cedo, aprendi a lutar por ideais sonhados ao longo de minha incapacidade de sair para enfrentar os desafios do mundo. Como já disse, quando saí para estudar, já era adulta e não sabia muitas coisas da vida de adulta, a não ser o que timidamente minha mãe me dizia ou eu lera em alguns livros ou revistas. No final dos anos 70, onde tudo era permitido, já havia acontecido à repressão militar, a liberdade da censura e eu de nada sabia.
A literatura que eu lia, agora na cidade, as músicas, os programas televisivos, raros, os atores, cantores que eu nem sabia serem reais. Tudo era novo, e muito atraente. Mas eu sabia o que queria. A base sólida que eu trazia na bagagem era essencial para eu saber selecionar meus programas. Entrei para o grupo de jovem, a catequese, onde conheci e convivi com muitos colegas e poucos amigos.
Meus horários de sair e chegar à casa, tinha tempo para estudar, tinha tempo para trabalhar. Era responsabilidade minha e eu sabia como fazer. Se me sobrava algum tempo à noite eu estudava ou lia os romances clássicos, vivendo ali meus melhores momentos.
Não foi muito fácil. Hoje, diante das facilidades, parece que estou narrando um fato muito antigo, mas não! Mesmo aqui em minha cidade só estudavam os filhos dos mais recusados ou os que realmente queriam e conseguiam um jeito, pois muitos queriam e não podiam...
Enfrentei dificuldade e preconceito. Na turma da 5ª série, com 22 anos, eu era tida como “velha” e das “matas”. Nunca me preocupei com estes predicados que as “meninas” da “cidade” diziam de mim. Fiz amizade com algumas delas e cedo impuz respeito, pelo meu interesse pelos estudos e a capacidade de ajudar a quem me pedisse.
Tudo que fiz foi baseado na simplicidade de minha origem. Tinha orgulho de ter vindo de onde vim. Sou até hoje incapaz de me corromper para ter condições financeiras melhores. Mesmo porque sou inquieta, mas sinto-me feliz. Minhas conquistas são lentas, mas sólidas. O que para muita gente é banal, comum, para mim é excepcional: morar na minha cidade ter conseguido construir uma casa, simples, mas acolhedora, ter um filho que conversa comigo, que aprende a ter sonhos e ideais, que é temente a Deus e demonstra fé. São tantas coisas extraordinárias, que eu não teria conseguido, honestamente, sem a persistência de quem quer chegar com seus próprios pés em algum lugar idealizado.
O que tenho é pouco? Não sei! Para quem tem muita ansiedade para competir com outros que conseguem rapidamente muita coisa material, talvez... Mas, para mim é muito. Não para me acomodar, mas para continuar buscando, de forma consciente e tranqüila, suprir tantas necessidades que precisam ser conseguidas, e, que eu sei, serão, pois: “Tudo posso Naquele que me fortalece...”
Vejo muita gente infeliz, eu mesma, muitas vezes me sinto injustiçada, por querer o que ainda não posso. O desejo de possuir algo se torna tão obsessivo que a gente se acha frágil por não possuir o essencial para a sobrevivência. Já li muitos livros que falam deste assunto, tentando mostrar que o “essencial é invisível aos olhos”. São tantas evidências, mas continuamos querendo satisfações palpáveis. Faz parte da natureza humana, creio, mas não custa nada tentar reaprender algo mais digno em relação aos nossos valores.
Cada vez mais o intelecto humano é aguçado por informações e saberes experimentados cientificamente que dizem respeito aos relacionamentos pessoais e interpessoais, a ponto de, que para algumas pessoas, ficar fácil pronunciar palavras bonitas ou expressar tantas outras belas; teorias carregadas de significados dos interesses universais da pessoa humana, embora seja difícil praticar estas verdades, pois a teoria se escreve e a prática se vive, se aplica em situações diversas, com pessoas diversas em lugares e ambientes diversos. Essa aplicabilidade não é tão simples, tendo em vista o “universo” que é cada ser humano.

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