Procuro discernir o que na vida é fundamental e o que é descartável, sem importância. Quando se é jovem as coisas sofisticadas do mundo parecem ofuscar as coisas simples, a foto em preto e branco, o baú de lembranças, os momentos de solidão. Com o passar dos anos, percebemos que estas e outras pequenas relíquias são parte integrante. Verdadeiros alicerces, necessários ao nosso crescimento. Eles nos situam no tempo, e no espaço que ocupamos, lembrando quem somos e, que tipo de escolhas fazemos, a partir de nossas crenças, valores e origem.
A luta pela sobrevivência, muitas vezes, nos deixa insensíveis. Quando percebemos, estamos olhando somente para as nossas necessidades, esquecendo o que se passa ao nosso redor. Queremos que tudo gire em torno de nós “pobres mortais, únicos com problemas”. Se voltássemos um pouco nosso olhar para além do que achamos importante para nós, poderíamos perceber os milhões de pessoas com problemas maiores que os nossos – sei que muita gente já falou ou escreveu sobre isso – no entanto falta a minha opinião, porque escrever é fácil, falar também, difícil é internalizar e vivenciar a certeza de que não somos os únicos que carregamos o mundo nas costas, pois cada um tem seu mundo para carregar. Precisamos, pois, sem culpa e sem medo de ser feliz, tornar nosso mundo de uma matéria bem leve, capaz de se tornar suportável. Como fazer isso? Também eu não sei. Não existe receita. Cada um que torne sua cruz mais leve a partir de suas experiências, expectativas e crenças. Não é fácil. Mas vale a pena tentar.
Talvez uma retrospectiva à infância e/ou à adolescências; a lembrança de sonhos esquecido; de coisas importantes numa determinada época. Das mudanças que já ocorreram na vida, para melhor ou para pior, por causa de nossas escolhas. Vislumbrar o futuro a partir de aspirações novas ou antigas. Sentir o coração sentir-se por inteiro, como um ser único, diferente de todos os outros seres, e que, mesmo assim, convive e identifica-se com alguém. Faça isso de vez em quando, quem sabe se sentirá mais real, mais único (a) e mais sociável.
O que existe ao nosso redor é mais bonito do que vemos e imaginamos. Interiorizar o que existe dentro de nós, enquanto dom de Deus que se reflete na luz dos nossos olhos, quando num olhar de ternura. Acredite tudo que parece um caos em nossa vida pode se tornar uma gota no oceano que é uma existência fundamentada na certeza de que somos importantes para os outros, quando valorizamos os gestos de amor que recebemos e podemos oferecer, numa perspectiva de amizade desinteressada, apenas pelo simples prazer de comunicar a leveza que faz parte de seu mundo que não pesa tanto, quando nos preocupamos menos com ele.
Exercícios assim, em momentos que para muitos são solitários e desnecessários são verdadeiras terapias para quem prefere dispensar os custos profissionais e os medicamentos, importantes, às vezes, outras vezes desnecessários.
Alguém poderia me perguntar se pratico o que escrevo. Eu digo que tento. Se isso não transparece em atitudes, para os que me conhecem, é porque não me conhecem ou não convive o suficiente comigo para perceber. Quando me dispus a escrever, queria falar sobre algo de que “meu espírito está cheio”. Acredito que, embora escrever seja algo mágico, que transborda em forma de palavras, esse excesso de imaginação que não cabe mais na alma do escritor, são verdades experimentadas concretamente ou simplesmente imaginadas e esperadas de serem vividas em algumas situações sonhadas, que ainda não aconteceram e podem nunca acontecer, porque a vida é curta demais para realizarmos tudo que queremos, experimentamos e, tudo o que idealizamos.
Buscar no fundo do baú de minha infância as histórias ouvidas, os sonhos em lágrimas derramados, as experiências não oportunizadas, fazem de mim grande parte do que sou: ansiosa por viver cada momento, sem grandes preocupações futuras. Por mais que a realidade mostre a necessidade de guardar “cobertores para se um dia o frio chegar”, eu prefiro acreditar que ele não vem. E “gasto minhas energias com o calor de agora”.
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