sexta-feira, 1 de junho de 2007

A penosa história do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Cruz


Elevo meu pensamento
À força do onipotente
Para descrever um fato
Que ocorreu ultimamente
Que até deixou fervilhando
Na cuca de muita gente

Como sabemos que em Cruz
A dois anos foi fundada
Uma sede sindical
Devidamente tratada
Do trabalhador rural
Homem que vive da enxada
Compô-se a diretoria
Mesmo por aclamação
Por não saber o direito
Porém o D.R.T.
Dá esta autorização

Através da FETRAECE
Conforme o povo queria
Aos 28 de julho
Foi eleito à aquele dia
Doze membros da lavoura
Para aquela diretoria

No ano de oitenta e cinco
Quando fundou-se afinal
Mesmo provisoriamente
Nossa sede sindical
Mesmo antes de criada
A sede municipal

O companheiro aclamado
Para ser o presidente
Do sindicato de Cruz
Mostrava-se competente
A levar o sindicato
Para uma linha de frente

Era Raimundo Muniz
Um forte membro da igreja
Mas contra sindicalismo
Antes formava peleja
Desfazendo e censurando
E de repente o deseja

Pois havia ido antes
Associar-se na classe
Que conferiu-lhe o direito
E pra que o povo o aclamasse
Prometia mudar tudo
Se aquele cargo ocupasse

Liberando associados
De Acaraú para Cruz
Sem precisar quitações
Que a meu ver, não era jus
Com isto alienou gente
Que já tinha fraca luz

Prometeu mais que faria
Mesmo o não associado
Ter direito ao sindicato
E o que tivesse atrasado
Bastava pagar um mês
Para ser matriculado

Isto fez com que o povo
Lhe aclamasse o presidente
Porém, a diretoria
Não era dele somente
Porque, para a fundação
De muitas partes vem gente

Saiu lá da Caiçara
O eleito a secretário
De Porteiras, o tesoureiro
Já sendo intermediário
Do antigo sindicato
Conforme foi necessário

O presidente aclamado
Pelo povo naquele dia
No fim da reunião
Deu fé que a diretoria
Não tinha sido composta
Como ele pretendia

Falou em renunciar
Disse-lhe: O coordenador
Neste caso, o secretário
Será o seu sucessor
E o qual convocará outro
Para o quadro se compro

O presidente pensando
Que a renuncia era pior
resolveu ficar, sem dúvida
Achou que era o melhor
E eu, presenciava tudo
pra guardar mesmo de cor

Logo naquela mesma tarde
Na hora da refeição
Foi debatido entre os três
Do cargo, a distribuição
Tudo em plena consonância
E não houve oposição

O secretário pedia
Que por morar bem distante
Ficará lá nas bases
Onde foi sempre atuante
Dando apoio ao sindicato
A o que achei importante

Então, por morarem perto
Presidente e tesoureiro
Dariam alguma assistência
Pois no momento primeiro
O sindicato não tinha
Recurso algum financeiro

Havia de trabalhar-se
Sem ter remuneração
Mas uma diretoria
Provisória na função
Bastava dar assistência
Conforme a situação

Combinaram, então, ficar
Tesoureiro e presidente
Aos domingos e às segundas
Dando um só expediente
Fazendo algumas matrículas
Enquanto era pouca gente

Depois disso; quase um ano
Conforme o povo exigia
Consulta de um oculista
Visto andar um de franquia
E como só vinha aos sábados
Abriu-se mais este dia

Porém, é que o presidente
Achou-se com autoridade
De fundar delegacias
Mesmo sem necessidade
Querendo derribar outras
Esta é que era a verdade

Fundou no local de Borges
Bem pertinho de Baixio
Onde já havia uma
E pra fazer desafio
Outra no Cajueirinho
Sem que ninguém desse um pio

Com isso, outros delegados
Se puseram em precaução
E até me perguntavam
Se eu não sabia a razão
Pela a qual o presidente
Tomava esta posição

Eu respondia-lhes que apenas
Ouvia ele falar
Que os antigos delegados
Por novos ia trocar
Era para o povo escolher
Porém tinha quem mudar

Mas nem o Cajueirinho
E nem o Baixio cedeu
As suas delegacias
E o que aconteceu
Foi que o povo dividiu-se
E o homem se perdeu

Seu plano caiu por terra
Pois temeu a reação
Das outras delegacias
Que fizeram oposição
Demitir-se delegados
Sem haver justa razão

Com isto também, o povo
Deixou de contribuir
Sabendo que o presidente
Sozinho queria agir
Foi preciso o tesoureiro
Nesse caso interferir

Um dia que os delegados
Pediam que o presidente
Aparecesse por lá
Pra conversar com esta gente
Ele respondeu-lhes que
Não podia, infelizmente

Eram os de Mangue Seco
Jijoca e Cajueirinho
Os delegados antigos
Que pediram com carinho
Que mandasse o tesoureiro
Para conhecer o caminho

Ele respondeu que sim
Dava-lhe o mesmo direito
O tesoureiro, indo lá
Os declarou com efeito
As razões do sindicato
Se encontrar daquele jeito

Desse mais, que o presidente
Reclamava a muitos dias
Que, além de dar prejuízo
As velhas delegacias
Ainda tinham com ele
Discordâncias e anarquias

Porém, pelo fato deles
Morarem longe de Cruz
A porcentagem cabida
A eles não era jus
Tinha que gratificá-los
A o que nunca me opus

Mas não era esta a causa
Que afundava o sindicato
Mas sim, inúmeras viagens
Empreendidas de fato
Pelo nosso presidente
Pra se mostrar que era exato.

Desde abril de 86
Que o significado estava
Filiado à FETRAECE
E até ali não pagava
Sua taxa devida
O que mais me incomodava

Já com seis meses de atraso
Mas o recurso não dava
Que o presidente queria
Todo dinheiro que entrava
E em parte, o sindicato
Em fase boa se achava

A esta altura já estava
Feita a solicitação
Para ser reconhecido
Toda a documentação
Já estava no ministério
Faltava a aprovação

Vamos saber brevemente
Se isto chegou de verdade
Na pasta do ministério
E pedir mais brevidade
Da assinatura da carta
Que temos necessidade

Portanto assim; companheiros
Nós podemos comparar
Que vamos num rio a nado
Perto de se atravessar
É melhor seguir em frente
Que dar as costas, voltar

Vamos pois, seguir em frente
Não se deve esmorecer
Que a nossa carta, chegando
A eleição vai haver
Quando um novo presidente
O povo pode escolher

O presidente atual
Poderá ser reeleito
Trabalha muito e seu povo
Com ele, está satisfeito
Somente outros não acham
Que ele trabalhe direito

Mas logo ali conheci
Nestas três reuniões
Que o povo era contra ele
Fazendo conspirações
Do seu individualismo
Para tomar decisões

E quando eu voltava à sede
Destas viagens que fiz
Notava que o presidente
Não se sentia feliz
Como se ali fosse um reo
Na presença de um juiz

Alguns de seus súbditos
Começaram com maldade
Junto a ele afirmavam
Que eu fazia falsidade
Eu descobrindo, lhes disse
Que só falava a verdade.

De mentir não precisava
Mas de ser independente
Eu tinha orgulho de ser
Também de ser transparente
Demostrando um patrimônio
Que era de muita gente

Com isso, engoliam em seco
Sem me responderem nada
Meses depois, veio a notícia
Que a careta fora assinada
E a taxa de filiação
Com dez meses atrasada

Eu fazendo economia
Dizia para o presidente
Tal dia vou a Sobral
Pois já me sinto doente
Por se dever uma coisa
Desnecessariamente

E o que ele respondia?
Que aquilo era normal;
Precisava de dinheiro
Para baixar edital
Para eleição precisava
Anunciar em jornal

Tinha registro de chapas
Compras de material
E também precisava
Viajar para a capital
Que não carecia, eu ir
Pagar a conta em Sobral

Eu respondi: “Companheiro
Perdoou tudo que passou
Mas antes da eleição
Pagar essa conta eu vou
Que eu seja algum subornado
Alguém pensa; mas não sou.”

Também, a minha resposta
Ele suportou calado
Eu estava de saco cheio
Do que tinha se passado
Do atraso do pagamento
Foi ele mesmo o culpado

Que antes, pra pagar três meses
Mandei por ele o dinheiro
Eram quinhentos cruzados
Que não sei do paradeiro
Nem pagou, nem devolveu-me
Nem cruzado, nem cruzeiro

Mas tarde, já mês de maio
Ei juntava alguns trocados
No cálculo de ir pagar
Tantos meses atrasados
Quando um dia, chegou ele
Com seu suplente, vexados

Logo ali, foi me dizendo
Você arranje emprestado
Uns quatrocentos cruzados
Por pouco prazo marcado
Para compadre Nelinho
Que ele está precisado

Disse mais: “É por dez dias.”
Eu lhe disse: “A ]migo meu,
Este dinheiro que guardo
Não é meu e nem é seu
Já é da FEDERAÇÃO
Que o SINDICATO comeu

Mas nisso; dei o dinheiro
Certo de que se tratava
De companheiro correto
Que afirmou que pagava,
Foi outra decepção
Que pra mim se preparava

Vencido o prazo marcado
Nelinho não apareceu
Reclamei ao presidente
Que disse: “O Nelinho me deu
O dinheiro, e eu gastei!”
Foi o que respondeu

Tinha ido a Massapê
Com um dinheiro emprestado
Para a reunião
De um tal projeto, chamado
“São Vicente”, que até hoje
Não se viu bom resultado

Então, com aquele dinheiro
Pagou a conta que fez
E preencheu um recibo
Como fez da outra vez
Como ajuda de custo
Que fazia todo mês.

Ali, eu reconheci
Que era eu mesmo o culpado
De dar sangue ao sindicato
E por alguém ser sangrado
Tirei ajudas de custo
Que não era acostumado

Falei para os delegados
O que estava se passando
E que eles retardassem
O que estavam arrecadando
Para trazerem no tempo
Que eu estava planejando

Isto desfalcou a pasta
Do tesouro sindical
O presidente afobou-se
Porém, eu não fiz por mal
Por que se assim não agisse
A desgraça era fatal

Já se aproximava o Pleito
Então numa convenção
Com companheiros antigos
Fizemos composição
Para se concorrer com ele
Na chapa de oposição

E avisei para os companheiros
Que vieram, cada qual
Prestar contas com o tesoureiro
E eu viajei pra Sobral
Paguei a conta e voltei
Isto é o que eu chamo de normal

Mais outra coisa afetou
As finanças sindicais
Um tal encontro houvera
A uns quatro meses atrás
No Paraguai; Uma coisa
Que não esqueço jamais.

Até lhe pedi na época
Para que ele prorrogasse
Pra fazer no mês seguinte
Quando algum dinheiro entrasse
Já que ele decidia
Que o sindicato pagasse

Mais ele respondeu que
O encontro realizava
Mesmo tomando emprestado
A verba que precisava
Então, quando houvesse “grana”
O sindicato pagava

Despachou logo uma carta
Pra cada delegado
Ir, com uma campanha
De alimento e despesa
O sindicato cobria

Eu decidi que ia
Pois não via resultado
Em ir somar mais despesas
A um tesouro fracassado
Pra depois tirar do bolso
Do pobre do associado

Felizmente, a esse encontro
Compareceu pouca gente
Visto que todos sabiam
Que o tema do Presidente
Era fazer propaganda
Do Projeto São Vicente

Mas ele, se fornecendo
Na loja de um seu irmão
Com o que achou necessário
Pra aquela alimentação
Pelo espaço de dois dias
E houve a reunião

E depois, no Paraguai
Ordenou ao delegado
Que toda arrecadação
Que ele tivesse arranjado
Com o dinheiro pagasse
O que por lá foi comprado

Quando voltou trouxe a nota
Do que o irmão lhe cofiou
Quatrocentos “paus” e meio
E logo que me entregou
Eu fui e paguei a conta
A taxa se acumulou

Com alguns dias, o delegado
Do Paraguai vaio deixar
Um bloco que havia cheio
Para as despesas descontar
E foi arrecadar mais
Até poder liquidar

Também de um delegado
Que de tinha ido
Participar do encontro
Pensando ter mais sentido
Foi custeada as passagens
Que lhe foi prometido

Agora troco de assunto,
Para tratar da eleição
Entre eu e o presidente
Houve um pacto de união
De ninguém fazer propaganda
E ver-se do povo a ação

Mas, infelizmente, logo
Percebi que o presidente
Queria ensinar o povo
A votar nele somente
Rebaixando a chapa 02
Coisa que fez nojo à gente

Percebi mais um boicote
Para o velho aposentado
Que, segunda a FRETAECE
tem seu direito sagrado
De escolher seu candidato
De votar e ser votado

Certo dia, um velho desses
Chegou na Diretoria
Para certificar-se disto
O presidente dizia
“Só quem estivesse quites”
Ele era quem decidia

Porém, eu participei
Isto pra FEDERAÇÃO
E na noite véspera do pleito
Houve uma reunião
Com os presidentes de mesa
E resolveu-se esta questão

Desta vez o presidente
Não disse que decidia
Porquê ali tinha gente
Para assistir no outro dia
O desenrolar do peito
E ver o que acontecia

Pior foi que o presidente
Com a sua vivacidade
Tinha marcado seções
Apenas para a metade
Das 11 delegacias
Que tem na nossa entidade

Mas é que a FEDERAÇÃO
Disse que eu solicitasse
Transporte da prefeitura
Para que o povo se achasse
Em condições de votar
Pedi em nome da classe.

Isto tudo eu tinha feito
Logo que vim de Sobral
Falei em nome da classe
Do Trabalhador Rural
E a Prefeitura cedeu
Transporte para o pessoal

O presidente, sabendo
Quis comigo descordar
Mas eu lhe disse: “Se vire
Que também vou me virar
Com a sua jogada o povo
Não vai deixar de votar.”

Afinal foi tudo bem
No dia da eleição
Só mesmo a urna de Cruz
Que houve muita omissão
Muita gente não gente não votou
Mas não votou com razão

Quem sabe a causa não fosse
Por não saberem escolher
Entre ambos candidatos
Qual deles devia ser
O futuro Presidente
Deixou de comparecer

A nossa chapa venceu
E alguém já veio me dizer
Que não veio votar no dia
Para o mal não me fazer
Estes são parentes dele
Deu bem pra mim entender.

Meus companheiros de chapa
São gente fina e honesta
Homens de experiência
A esperança que me resta
Que com eles a meu lado
O bom trabalho se presta

Antônio Martins dos Santos
Nosso grande Baluarte
Zé Maria e Pedro Antônio,
Jovino, um outro Estandarte
Pedro Brandão e Expedito
Que não vai ficar a parte

Raimundo Bento (O Baixinho)
E o Geraldo aqui de Cruz
Antônio Dutra o Gordinho
Um companheiro de luz
O Sebastião Farias
Com os quais a chapa compus

Ainda no Mangue Seco
Francisco Alves Barbosa
Em Jijoca o Zé Miguel
Dedinho0, amigão de proza
Que vão caminhar conosco
Nesta jornada espinhosa

No Paraguai o Zé Nunes
Que faltou muito pouquinho
Na versalhada que eu vinha
Esquece-lo no caminho
E os novos delegados
Zé Simão e Manazinho

assim, caros companheiros
Marcharemos na certeza
De fazer um Sindicato
De união e de nobreza
Que o homem do campo sinta
Colegas seus em defesa

E aqui termino o tratado
Que é tão claro como a luz
Onde externei a verdade
Que é um dom que me conduz
E assim foi eleição
Do SINDICATO DE CRUZ.


10/10/1987

Autoria de Jaime Pereira de Farias

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