sexta-feira, 1 de junho de 2007

A cidade está alagada - Cleo Andrade

A cidade está alagada, mas há pessoas que ainda acreditam numa saída. Tiram proveito de tudo. Do céu bebem a água; da podridão que sobe dos esgotos restam oferendas a Deus as criaturas que se foram, devastadas pela correnteza, sujeira náufrago dos navios de ilusão. Uma noite turbulenta faz nascer uma pergunta: e o mundo o que é? O que é o mundo? Sabe-se que os nossos sentimentos foram envoltos pela ingratidão que consumiu a terra. O mundo gira em torno de coisas vãs. Mas afinal, o que são coisas vãs? O que é essencial? Por que será que tudo que gostamos incomoda a alguém? Qual o motivo da sua inquietação? O quê explica a sua angustia de não poder fazer o que se quer?Bem, o mundo, a humanidade, as pessoas mesmo, estão indo buscar sempre nos outros aquilo que jamais encontrarão.Basta olhar dentro das casas, mais normais e a gente vê esta angustia morando também. Parece ser alimentada e junto nasce o desespero, o conformismo, a frieza e o congelamento do órgão mais importante que há aqui dentro do peito: o coração.Existe em nossos lares uma áurea acolhedora pairando no ar. Mas existe também uma inimiga morando ali: a máscara. Essa mascara que nos persegue nas ruas não consegue (e nem pode) chegar perto de casa. Ficamos a vontade e nossas amarguras se libertam em forma de flechas certeiras no peito de alguém, a ferida vira um monstro que convive, aparece nas pequenas brechas e nas maiores, faz um estrago... Ainda que se veja alguém sorrir, ver-se outros chorarem. Como pode um sorriso, coisa maravilhosa, representar a alegria pela desgraça de alguém? Ou, como pode uma lagrima fazer a felicidade de alguém? Há momentos que gritamos ou simplesmente falamos: pare com isso! E, há momentos que nem falamos nada mas a coisa se estagna e o sorriso preenche nossas faces esperançadas de melhores dias. O quê explica? Como pode um olhar consolar ou fazer guerra? Quê faz do olhar um livro aberto cheio da nossa história? Você sabe ler alguém? É possível sim. Você para, espera e sem nada a dizer escuta aquilo que não foi dito! Como pode? A resposta esta dentro de você. Ainda que se pergunte é melhor que não se pergunte, mas que apenas feche os olhos externos para que os (olhos) internos sejam estimulados a abrir-se e então a resposta invade sua consciência fazendo perceber a grandeza do silencio, da percepção das coisas. Do valor da espécie humana, a dignidade, a esperança (ou melhor a certeza) de melhores dias. O que você chama de felicidade? O que você quer comprar vai te fazer feliz por toda a vida? O que você disse que ia fazer, foi feito para cumprir seu ego ou por ser essencial? A sua roupa lhe agrada? A sua cor lhe agrada? Afinal você se ama? Você vive reclamando ou agradecendo? Nunca se esqueça de olhar a rosa com os olhos de quem plantou. Nunca olhe o por do sol como um simples fim do dia. Olhe como ponte para os demais dias que você verá. Sejam alegres ou tristes. Mesmo que você não os veja externamente você vai sempre ver internamente. Afinal o que é da alma ninguém rouba. Ninguém tira. Ninguém perde, extravia. A menos que nós sejamos os corruptores por nossa própria escolha. Não escolhamos morrer. Mas viver. Ainda que morrer não será tão ruim por que a carne é sinônimo de infelicidade. É talvez alegria, não confunda. Mas o que realmente fica é o que vai perpetuar e nos fazer alegres ou felizes. Se pode chorar de alegria e rir de tristeza? Tudo depende de onde vem o seu sentimento. Quem os deu a luz? Os seus, não sei. Mas os meus nasceram da paz!

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