CONFISSÃO.
Fazia tempo, muito tempo que eu estava distante, longe, muito longe, foi então que ouvia o som do sino da matriz logo cedo pela manhã, ele tinia junto com o vento, e me chegou aos ouvidos e por que não dizer a minha alma... lembrei que era tempo da Festa de São Francisco, e em um impulso me encaminhei ao chamado, e me dirigi a igreja. Tímido me postei no pátio da matriz, e fiquei olhando como estava diferente a igreja, muito mudada, e, interessante foi perceber que não havia notado estas mudanças das tantas e inúmeras vezes que passei em frente, muito bonita estava, e ainda convidativa....
Então entrei, senti uma sensação de paz, como há muito não sentia... Seu interior estava totalmente modificado, mas bela que do meu tempo de criança, de imediato, vi inscrições no alto, em letras douradas com verdades que não mais lembrava, mas me fizeram renovar meu espírito, acredito que, quem teve a idéia de apostar estas frases franciscanas circundado toda a nave, realmente estava iluminado, pois não há como ignorá-las, nem se fazer indiferente ao impacto por ela causada no momento que se adentra ao templo. Exclamei em meu interior – linda, linda minha igreja, apenas minha fé é que não tinha se renovado, pra ser mais preciso estava estagnada, em ruínas...
Inicia-se a celebração, cânticos são entoados, de relance sinto um sopro de paz me percorre a alma, sinto-me bem, e faço uma oração agradecendo por novamente sentir esta sensação e fluir novamente minha fé... Atento, observo o celebrante dar as boas vindas, e iniciar os ritos. Para minha surpresa, fui convidado a ler a primeira leitura, parecendo que realmente Deus queria que eu participasse mais ativamente. Trêmulo, subi ao altar, fugazmente olhei toda nave, muitas pessoas... Relembrei das tantas vezes que ali estive, e das tantas que dei testemunho de espiritualidade conjugal, quanto então era membro da ENS.. Iniciei a leitura, era a 1ª Carta de São Paulo aos Corintios – capitulo 12, onde Paulo explica que os dons são dados por um único Deus para o cumprimento de sua obra na Terra, buscando situar a igreja como um só corpo e os cristãos como membros desse corpo. E, assim como no corpo humano cada parte tem uma função específica, o mesmo deve ser aplicado quando às manifestações dos dons espirituais na Igreja. Quando finalizei, e como mando o rito, proferi – Palavra do Senhor! Percebi, e senti sua presença ainda mais forte, voltei ao meu banco, e me embebi de cada palavra da pregação do celebrante, da profundidade que tinha, e até então não tinha conhecimento da carta de Paulo Apóstolo aos Coríntios, e que durante todas as missas da Festa de São Francisco seria lido um capítulo. Nem bem foi dito “Vamos em Paz e que o Senhor nos acompanhe”, pensei. Vou, mas amanhã estarei de volta, e voltei... E assim foi durante os nove dias, mergulhando em cada reflexão feita sobre a Epístola – pude ainda perceber que os anos pesavam na voz cansada de nosso vigário, mas como o vinho que com o tempo fica mais precioso, sua ação retórica estava mais encorpada, e mais efeito me causa agora. Tanto, que senti a grandiosidade do poema sobre o amor, depois de tantas vezes lido por mim, e não digerido – o capítulo 13 da mesma Epístola - O Amor é paciente, é benigno; o Amor não é invejoso, não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a verdade. Tudo tolera, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O Amor nunca falha.
Penso ter encontrado minha espiritualidade novamente, e o que é melhor, mais madura, ainda que me sentindo segregado dos sacramentos, pois vivo uma segunda união conjugal, agora compreendo e aceito este direito da igreja - penso ainda, que igual a mim, no decorrer deste ano dedicado a São Paulo, muitos outros afastados resgatarão também sua fé.
Agora posso afirmar – eu realmente vivi esta 124ª Festa de São Francisco.
Por - Paulo Ropberlando da Silva Ribeiro - 20/10/2008
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