sexta-feira, 1 de junho de 2007

VIDA E MORTE DE JORGE LUIZ - Manoel Edésio dos Santos

VIDA E MORTE DE JORGE LUIZ

Deus de eterna bondade
Daí-me vossa proteção
Pra escrever a história
De Jorge, um meu irmão
Como foi o seu passado
Até ser acidentado
É de cortar o coração.


Pois sabemos que a vida
É como uma vela acesa
E a morte vem um dia
Todos teremos certeza
Por saudáveis que sejamos
Ás vezes nem lembramos
Ela vem sem ter defesa.


O Senhor Manuel Milton
E dona Francisca Maria
Os pais de Jorge de Lima
Vou contar como vivia
E o que nos traz de surpresa
De alegria ou tristeza
Riso ou melancolia.


Manuel Milton de Freitas
Um rapaz conceituado
Encontrou-se com Francisca
Ficaram apaixonados
Ele filho de José
Ela filha de Nazaré
Pais honrosos e educados.


Os pais de Milton se chamavam
O senhor José Muniz
E dona Teresa de Freitas
Ambos viviam felizes
Raimundo Nonato Pereira
Nazaré, sua companheira
Os pais de Francisca é o que se diz.


Manuel Milton e Francisca
Amavam-se mutuamente
E ninguém interrompia
Este seu amor ardente
Embora morassem distante
Para eles o importante
É que o amor fosse em frente.


Namoram alguns meses
Francisca e Manuel
Então engravidou
Antes da lua de mel
Isto é, do casamento
E Deus preparou no momento
Três lugares lá no céu.


Com esta situação
Começaram a pensar
Como criar o filhinho
Resolveram viajar
Pra São Paulo, e certamente
Lá a vida desta gente
Poderia melhorar.


Sonhando com o futuro
Viajaram para São Paulo
Casal novinho ainda
Achavam-se tão seguros
Alegres e sorridentes
Não pensavam que na frente
Tivessem um caso tão duro.


Logo ao chegar em São Paulo
Francisca e Manuel
Arranjaram seus empregos
Como quem ganha um troféu
Dinheiro, casa e comida
Tinham pra viver a vida
Num pedacinho de céu.


Sempre se comunicavam
Aqui com os seus parentes
E contavam como iam
Todos alegremente
Quando uma carta chegava
Ou quando telefonavam
Ficavam muito contentes.


Era uma família unida
Tinham laços de amizade
Tanto da parte de Manuel
Gente de capacidade
Como de Francisca Maria
Entre ambos reinaria
Um sinal de unidade.


Com o decorrer do tempo
Sempre indo muito bem
O casal trabalhando
Não era pesado a ninguém
E com o que eles ganhavam
O necessário compravam
E viviam muito bem


O leitor está lembrado
Daquele verso que diz
Que Francisca engravidou
Fazendo o casal feliz?
Sabe o que aconteceu?
Lá em São Paulo nasceu
Seu filho Jorge Luis.


Jorginho quando nasceu
Trouxe aos pais felicidade
Era cheio de saúde
Esperto, cheio de vontade
Para eles era um tesouro
O fruto do seu namoro
Dos seus laços de amizade.


E assim vivia o casal
Naquela grande cidade
Cheio de amor e afeto
Carinho e prosperidade
Paz, ternura e aconchego
Alegria, fé e sossego
Pra que mais tranqüilidade?


Às vezes as pessoas viviam
Cheias de carinho e zelo
Felicidade e fortuna
Aparece um atropelo
Olhe bem isto e me ouça
É quando joga com força
Nas ondas do desmantelo.


Vamos dar uma parada
Para falar de Jorginho
No seio familiar
Apenas com um aninho
Como o pai trabalhava
A mãe também se ocupava
Na mãe, Francisca Maria.


Mas este grande aconchego
Pouco tempo durou
Porque o pai de Jorge
Num acidente tombou
Tiros por uns marginais
Tirando de Milton a paz
Só por deus não o matou.


Ele ficou paraplégico
Não pode mais trabalhar
Deste dia por diante
Começou o seu penar
Nem a esposa trabalhava
Porque também precisava
Ta em casa pra ajudar.


Sem dinheiro pra pagar
Aluguel, água e luz
Comprar remédio e alimento
Apelaram pra Jesus
Para que os ajudasse
E também se conformasse
Com sua pesada cruz.


Quase sem ter mais chance
Resolveram a voltar
Para o Acaraú
Aqui no Ceará
A sua terra natal
Pois só o seu pessoal
Podia lhes ajudar.


Porque ficar em São Paulo
Já não tinha mais sentido
Pois não trabalhava mais
Só cuidando do marido
E de Jorginho também
Nesta época, porém
Estavam desprevinidos.


Chegando em Acaraú
Juntos dos seus parentes
Com o pouco que trouxeram
Compraram certamente
Uma casa pra morar
Assim puderam ficar
Num lugar seu e contente.


E assim Jorge cresceu
No seu modo de ser
Gostava de futebol
Era o seu pai não queria
Muitas vezes ele fugia
Sem os seus pais perceber.


Era um menino estudioso
Também bastante calado
Não era homem de conversa
Mas tinha amigo para todo lado
Não demonstrava tristeza
Sendo um jovem com certeza
Bastante educado.


Jorge era filho único
Não tinha uma irmãzinha
Os pais vendo que ele era
Uma criança criar
Aí trouxeram Renatinha.


Renata era uma criança
Muito meiga e muito bela
Embora pequenininha
Uma menina singela
E Jorge certamente
Ficou muito sorridente
Com a chegada dela.


O primeiro sofrimento
Que Jorge Luiz viveu
Foi na época do acidente
Quando o pai adoeceu
A segunda dor foi maior
Para todos foi pior
Sua mãezinha morreu.


Francisca, a mãe de Jorge
Também adoeceu
Com um tumor no estômago
Muito ela padeceu
Depois que foi constatado
Seis meses foram passados
A pobre mulher morreu.


Deixando uma grande falta
Aquela esposa exemplar
Pra Jorge e Renata
Que só viviam a chorar
Manuel Milton também
Que muito lhe queria bem
Pois nasceram pra se amar.


Manoel Milton paraplégico
Sem poder mais trabalhar
Também sem sua esposa
Com dois filhos pra criar
Vejamos esta situação
É de cortar coração
Ou mesmo desesperar.


Jorge não tinha onze anos
Quando a mãe faleceu
Junto com a irmãzinha
Que também entristeceu
Isto é uma grande dor
Para um homem sofredor
Tudo isto aconteceu.


Antes de Francisca morrer
Já tinha uma empregada
Que ajudava em casa
Uma mulher esforçada
Trabalhava muito bem
Fazia tudo e também
Não deixava faltar nada.


Francisca Maria de Freitas
Por Branca era conhecida
Uma mulher trabalhadora
Bem disposta e determinada
A gente queria saber
Meus Deus mesmo porque
Tão nova perdeu a vida.


Vamos deixar aqui um pouco
E falar de Manuel
Que ficou só com os dois filhos
Quando a mulher foi pro céu
Ainda bem que estava
Com os parentes que gostava
Neste momento cruel.


Precisava de uma pessoa
Para da casa cuidar
Como também das crianças,
Pra lavar e cozinhar
Como não fazia nada
Falou com a mesma empregada
Pra que ela ficasse lá.


A empregada ficou
Lavando e cozinhando
E também das crianças
Todos os dias cuidando
E o tempo se passava
Mas quando menos se esperava
Eles estavam se amando.


Jorge nunca gostou
Desta tal de empregada
Desde que sua mãe morreu
Esta criança, coitada
Sofria até demais
Mas ele não era capaz
De fazer qualquer zoada.


Por isso ele resolveu
Com uma tia ir morar
Na cidade de Cruz
E quando chegando lá
Perguntou pra sua tia
Se ela se importaria
Dele com ela ficar.


Mas ele se enganou
Porque lembrava-se demais
Até porque a irmã
Ele a deixou pra trás
Os dois se davam bem
E agora, porém
Como podiam ter paz.


Renata ficou com o pai
E a sua empregada
Que neste tempo já era
Como se fosse casada
Vivendo assim feliz
É como a gente diz
Em casa não falta nada.


Vamos deixar os três aqui
Na sua felicidade
Pra falar de Jorge
De sua capacidade
Como já vimos falar
Que gostava de jogar
Com simples honestidade.


Com colegas e amigos
Fazia suas brincadeiras
E jogava futebol
Seguindo sua carreira
Pois não tinha profissão
Já próximo à ocasião
De ter sua companheira.


Com Gardênia de Oliveira
Jorge se encontrou
Neste momento o cupido
Nos seus corações tocou
Uns minutos se passaram
E eles nada falaram
Mas a moça perguntou.


Percebendo que o rapaz
Estava com um doce olhar
E ela balbuciando
Ousou de lhe perguntar
Nesta hora tão singela
O que tinha visto nela
Para abismado ficar.


Ele disse: eu avistei
Neste teu rosto mimoso
Os sinais de virgindade
De um coração bondoso
E desejei no momento
Lhe pedir em casamento
E ser teu fiel esposo.


Já que você se declara
Que está louco de amor
Eu estou da mesma forma
Sentindo da mesma dor
E assim lhe dou o sim
Ele disse: para mim
Tu és a mais linda flor.


Sabemos que o amor
Nascido assim tão forte
Em um casal se ama
Terá uma boa sorte
Não pode se separar
Só mesmo se um dia chegar
Para um deles a morte.


Deixemos Jorge e Gardênia
Ao menos por um segundo
E vamos pensar um pouco
Nas voltas que dá o mundo
Pra só depois falar
Como é que andará
Este seu amor profundo.


Façamos uma análise agora
Do que houve até aqui
Do que vimos nestes versos
E podemos concluir
Vimos tristeza e alegria
Saudade e melancolia
Mas o pior está por vir.


Os três lugares do céu
Você ainda está lembrado?
No começo do romance
Que Deus tinha preparado
Pois é, você está vendo?
E também está sabendo
Que já tem um ocupado.


Tornamos a deixar aqui
Pra em Jorge falar
Como foi o seu trajeto
Para poder se casar
Com Gardênia de Oliveira
Sua mulher verdadeira
Pois nasceram pra se amar.


Namoram pouco tempo
E ele sem trabalhar
Resolveu ir pra São Paulo
Arranjar emprego por lá
Para quando ele voltasse
E quando aqui chegasse
Com Gardênia se casar.


Chegando lá em São Paulo
Ele logo se empregou
Mas bateu-lhe uma saudade
Com poucos meses voltou
E voltou bem preparado
O que ele tinha sonhado
Logo após realizou.


Casando-se com Gardênia
Formando assim uma família
Com um ano de casados
Nasceu a primeira filha
Gardênia e Jorge Luiz
Ficaram muito felizes
Mais uma estrela lhes brilha.


Aqui não tinha emprego
Mas a esposa trabalhava
E ele fazia bicos
E o que eles ganhavam
Dava para ir passando
E ele sempre esperando
Que um dia se empregava.


Fez um curso na Coelce
Com que muito se alegrou
E com poucos dias soube
Que no concurso passou
Mas a maior alegria
Foi quando chegou o dia
Que a Coelce lhe chamou.


Ficou trabalhando fixo
Com a carteira assinada
Assim melhorou a vida
Sem lhes faltar quase nada
Resta-me dizer agora
Estava quase chegando.


Jorge tinha uma moto
Que comprou pra trabalhar
Ele como taxista
Indo pra lá e pra cá
Carregando muita gente
Só até certamente
A Coelce lhe chamar.


Vamos deixar Jorge aqui
Seguindo sua jornada
Para falar em Adriana
A sua filha bacana
Bonita e conceituada.


Ela é uma menina
Da bonita perfeição
A quem os seus pais carregam
Sempre no seu coração
Era uma família unida
Por Deus sempre protegida
Na medida do perdão.


Depois com mais de um ano
Nasceu outra menininha
Adriana ficou alegre
Com a sua irmãzinha
Samira é o nome dela
Outra criancinha bela
Igual a Adrianinha.


Jorge tinha um primo
Que dizia ser seu irmão
Pois eram amigos íntimos
Do centro do coração
O nome dele é Roberto
E sempre estava por perto
Em toda ocasião.


Entre amigos e parentes
Jorge era muito querido
Em jogo de futebol
Era também divertido
Gostava também de tomar
Cachaça para provar
Que era um homem destemido.


Jorge um dia estava
Em casa bem sossegado
Quando chega uma pessoa
Dando-lhe um triste recado
Que seu pai no hospital
Estava passando mal
E ficou lá internado.


Ele arrumou-se às pressas
Para Acaraú correu
Chegando no hospital
Sabe o que aconteceu?
Jorge falou com o pai
Mas lê deu um desmaio
Nada mais lhe respondeu.


Jorge ficou muito aflito
Por ver a situação
O pai nas ânsias da morte
Apertou-lhe o coração
Lembrando todo o passado
Mandou Deus um recado
Dá ao meu pai o perdão.


Com pouco tempo morreu
O pai de Jorge, o Manuel
Em uma cadeira de rodas
Passou momento cruel
Sofreu dezessete anos
Mas foi atender aos planos
Que Deus tinha lá no céu.


E assim ficou o Jorge
Órfão de mãe e de pai
E ele com seu destino
Sem saber pra onde vai
Se vai ter vitória
Vejam aí a história
Em que armadilha cai.


Jorge com as filhas pagãs
Mas sempre preocupado
E quando lhe perguntavam
Porque não tinha batizado
Ele logo respondia
E nesta frase dizia
Não estamos preparados.


Vou preparar minhas filhas
Uma festinha vou fazer
Pra elas sempre lembrar
Quando as duas crescer
Coitado, pois não sabia
Que se aproximava o dia
De um desastre acontecer.


Quando estavam pensando
Que tudo ia muito bem
Com o emprego da Coelce
E com saúde também
Com a esposa e as filhas
Aquelas três maravilhas
Que ele queria bem.


No dia dezesseis de Outubro
Do ano dois mil quatro
Por volta das seis da tarde
Foi o momento exato
Que ocorreu o acidente
Deixando Jorge certamente
Morto de vez lá no mato.


De acaraú Jorge vinha
Querendo chegar mais cedo
Com a moto em velocidade
Com quem não tinha nada
Numa curva da estrada
A moto deu uma escapada
Caíram sem ter segredo.


Morre Jorge de imediato
Deixando os sonhos para trás
É como diz o provérbio
Quem morreu não volta mais
Pois Jorge foi ocupar
Aquele terceiro lugar
Juntinho com os seus pais.


Para seus familiares
Foi triste a situação
Também para seus amigos
Que o tinham como irmão
A cruel dor da saudade
Dos laços de amizade
Corta qualquer coração.


Eu mesmo nem sou parente
Só escrevi com muito gosto
Não sendo eu um bom poeta
Mas me achei bem disposto
A história é comovente
Dá um aperto na gente
Que as lágrimas correm no rosto.


Já nesta reta final
Só me resta mais rogar
Pedir a Deus que perdoe
A eles para os salvar
Manuel, Francisca Maria
E Jorge, e a nós que um dia
Também estaremos lá.


Nossa vida é muito doce
Precisamos zelar dela
A gente bem refletindo
Se parece uma novela
Mas não, tudo é real
Qualquer que seja o mal
A vida se desmantela.


Eis aí o meu recado
Vamos buscar a Jesus
Caminho, Verdade e Vida
Alimento, Paz e Luz
Amor e fraternidade
Alertando a mocidade
De nossa cidade, Cruz.


O meu nome é Manoel
Conhecido por Nelim
O mesmo pede desculpa
Da letra e rima ruim
Trabalhei, fiz o que pude
Por ser eu um cara rude
Só deu pra sair assim.

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