sexta-feira, 1 de junho de 2007

O SOFRIMENTO DE NELIM - Manoel Edésio dos Santos

O SOFRIMENTO DE NELIM

A Ciência e a memória
São dons de Deus para nós
Se a gente executar
E ouvir dele a voz
Tudo será agradável
A vida será suave
Nos diz o profeta Amós.


A sorte quem dar é Deus
A vida o homem procura
Não sei se será por sorte
Que nossa vida é insegura
Com saúde ou doença
Vamos por em frente
A nossa vida futura


Meu avô dizia que
Atrás do homem anda um bicho
E este bicho era o cão
Da cara de carrapicho
Pra não se cair no laço
Precisava dar espaço
E se ter muito capricho


Isto eu acredito
Porque o que aconteceu
Com quem nunca brigou
E também nunca bebeu
Ter passado o que passou
E sofreu o que sofreu


A vítima de quem falo
É conhecido por Nelim
Manoel Edésio dos Santos
É o seu nome todinho
Vou contar o que se deu
O tanto que ele sofreu
Do começo até o fim
Vou contar o que se deu


Antes do que vou falar
Nelim trabalhando só
Sem em coisa alguma pensar
Quando soprou um vento forte
Vindo do lado do Norte
Só para lhe atrapalhar
Quando o redemoinho passou


Ele de olho fechado
Mas, porém quando abriu
Um cisco já tinha entrado
Ardia igual a pimenta
Que saiu água na venta
Corria pra todo lado.


Foi remédio e mais remédio
Esforço e mais esforço
As lágrimas caiam tantas
Que no chão ficava o poço
Ele olhava no espelho
Via o olho vermelho
Já o rosto ficando grosso.


Foi ao Posto de Saúde
Para ver se tinha um jeito
O enfermeiro de lá
Deixou-lhe mal satisfeito
Com uma ponta de papel
Fazendo dele pincel
Se tira cisco deste jeito?


Assim mesmo ainda deu
Umas quinze cutucadas
O pobre só não gritava
Para não fazer zoada
Mas ainda se valia
Muito de Santa Luzia
E Maria Imaculada
Quando viu não tirava


O mesmo cara mandou
Nelim foi ao hospital
Coitado cheio de dor
Foi com os olhos fechado
Babando para todo lado
E até que lá chegou.


Chegando falou com uma enfermeira
O seu caso de urgência
Ela falou para o médico
Este sem experiência
Quando foi examinar
Só faltou o olho rasgar
Como quem faz violência.


Assim mesmo ainda passou
Um colírio especial
E Nelim voltou pra casa
Achando tudo ilegal
Ele pensava em segredo
E já estava com medo
Não virasse em outro mal


Como o colírio não trouxe
Ele foi melhorando
E o cisco dentro do olho
Doendo e arranhando
E o pobre sem fazer nada
Com a vida atrapalhada


E o tempo se passando
Disseram que o João Ciriaco
Tirava cisco, de olho também
Nelim foi lá, ele disse:
Olha, condição não tem
Que o olho ta inflamado
Enquanto tiver inchado
A anestesia não pega bem


Passou uns antibióticos
Para ele tomar
E disse que com dois dias
Ele podia voltar
Que estava desinflamado
Enquanto tiver inchado
Ele pode até tirar


Como de fato com dois dias
Novamente Nelim voltou
E estando assim capaz
João Ciriaco nestesiou
E não ficou satisfeito
Porque fiz todo jeito
E o cisco não tirou


Tendo feito um curativo
Disse se não tiver legal
Com três a quatro dias
Nós iremos a Sobral
A um doutor oculista
Um bom especialista
Pra desvendar este mal


Como já estava previsto
Depois foram a Sobral
Procurarem uma ótica
De um médico especial
Como de fato doutor
Quando o cisco tirou
O olho ficou normal


João Ciriaco pegou tudo
A consultar oitocentos
E pagou cem passagem
Um total de novecentos
Com tudo ficou satisfeito
Nelim disse deste jeito
Este é o homem do momento.


Só com o cisco no olho
Passou dezessete dias
Sem arribar uma palha
Mais nunca se maldiga
Pela fé tudo agüentava
Sempre quando conversa
Demonstra alegria


Depois dos dezessete dias
Num dia de sexta-feira
Já se achando bem bom
Segui a sua carreira
Os trabalhos começaram
Sexta e sábado trabalhou
E planejou segunda-feira
O que eu ia falar
Foi do que aconteceu


Logo domingo em frente
Nelim se resolveu
Ir a noite passear
Com suas primas conversar
Veja bem o que se deu


Numa carroça saiu
Com a família todinha
Ele e seus quatros filhos
E sua esposa Terezinha
Raimundo Cosme e dois filhos
E sua esposa Ritinha
Um total de dez pessoas


Iam a este passeio
Entraram em um bico estreito
Já muito além do meio
Vinha um cara numa moto
Foi a maior derrota
Grande foi o aperreio
Da viagem que ele vinha


Barrou de frente á frente
Desmaiou caiu de lado
Deixando Nelim doente
Este cara era o Diogo
Que vinha puxando fogo
Por isto deu-se o acidente.


Nestas alturas já tinha
Gente o arame pulado
Outros ficaram na carroça
Foi aquele espatifado
Tinha gente que corria
Sem saber pra onde ia
E sem ver o resultado.


De repente uma mulher
Por nome de Isaltina
Que vinha no mesmo beco
Com duas crianças pequeninas
Assim que ela chegou
Pegou Diogo e chamou
Com a sua fala fina.


Todos foram os chamados
Que ele logo tornou
Tendo se recuperado
Ali se levantou
Não sei como não morreu
Pelo que aconteceu
Feliz porque escapou.


A moto quebrou o farol
Diogo quebrou os dentes
Nelim com um pé cortado
Pra muito tempo doente
Pois cortou que deu no osso
O sangue fazia poço
E a dor chegou de repente.


Como já estava perto
Da casa que ia
Já transpassado de dor
Quase que dar uma agonia
E acabaram de chegar
Nelim pra não chorar
Com a dor ele tremia


Depressa arranjaram um carro
Com a maior singeleza
Pra fazer os tratamentos
Sem pensar nem em despeza
Foram ao hospital em Cruz
Apelando pra Jesus
Que é o maior na defesa


E Diogo foi também
Pra ser medicado
Estava passando mal
Com um beiço fraturado
Sua voz quase rouca
Saindo sangue da boca
Com alguns dentes quebrados.


Aí chegaram no hospital
No cargo do Sr. Dedé
Dona Isolda uma enfermeira
Atendeu com muita fé
De nelim logo cuidou
Bem ligeiro ponteou
A fratura do seu pé


Uma injeção contra o teto
Ela logo aplicou
E após o curativo
Uns compridos passavam
Tiveram pouca demora
Como já era dez horas
Para casa ele voltou


Diogo voltou também
Pois não tinha condição
Porque tomou umas pingas
Não pode tomar injeção
Porque não dava efeito
A gente estando deste jeito
Pois não ia servir não.


Então passou-se 8 dias
Sem mais comunicação
Sem ter noticias um do outro
Qual a sua condição
Se tinha melhorado
Ou se tinha piorado
Se escapava ou não.


Nos 8 dias a tardinha
Diogo foi ver Nelim
Se estava mais melhor
Ou estava mais ruim
Viu ele fazendo careta
Andando de muleta
Foi logo falando assim


Como é que esta meu amigo
Venho apenas te ver
Por ser um rapaz distinto
Veio para se entender
E por isso perguntou
O que é que o senhor
Quer que eu faça com você.


Nelim disse como ia
E lhe respondeu também
Que pra ele não queria
Dele nem um vintém
Façamos a santa paz
Só isso e nada mais
Procuremos viver bem.


E a despeza do carro?
Pergunta Diogo então
Nelim disse, você paga
E ele disse, pois não
De tudo que aconteceu
Assim se resolveu
Na mais perfeita união.


Vamos fazer uma soma
Dos dias que se passou
Só com o cisco no olho
17 dias não trabalhou
e 20 do acidente
37 dias certamente
a gente já constatou.


E ainda está previsto
Passar mais de 15 dias
Para um pai de família
Viver nesta agonia
Sem ganhar nem um tostão
Sem dinheiro e sem patrão.


“Aí é que a gata mia”.
E aqui vou terminar
Os péssimos acontecimentos
Que passou-se com Nelim
As dores e sofrimento
Peço desculpa ao leitor
Se não lhe agradou
Estes meus tristes lamentos.


Já que pedi as desculpas
Quero dizer que o autor
Que escreveu esta história
Foi o mesmo sofredor
Não podendo trabalhar
Inventou de rimar
O seu caso de horror.


Vai este verso por ultimo
Quem tem começo tem fim
Sei que não rimei bem
Pois minha rima é ruim
E o mais peço perdão
Desculpe os palavrão
Do seu amigo Nelim.

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