CRÔNICA
Não me escrevam um E-mail, me mandem uma carta!
Como sempre faço ao final do expediente, abro a caixa de mensagens do meu E-mail, vejo sem surpresas, mensagens que não são próprias dos que me escrevem, são textos buscados na imensurável rede mundial, a defectível Internet.
Mensagens sempre bem ilustradas pelos grandes recursos do Power Point e, com sonorização sempre aprazível, que me faz bocejar na leitura. São escritos sempre encartados com lições de vida, de reflexão. Posso dizer: bem apresentados por sinal, mas confesso, não sou tentado a lê-los, se leio, não vou até o final, não sou dado a pieguices. Sinto um pouco de remorso por pensar assim, afinal, a pessoa que me esta enviando este E-mail mensagem, tem a boa vontade de me passar mensagens de otimismo, auto ajuda e introspecção, todavia, penso: Ora bolas, estas palavras não são próprias, são de uma outra pessoal quem nem eu nem quem me mandou sabe quem é, então, não é isso o que realmente ela quer me passar.
Tudo bem, nem todo mundo é dado a intimidades com textos e, nem sempre consegue montar as palavras que quer em seus escritos. Assim concluo: Estamos nos bestializando com a tecnologia, afinal, escrever cartas naquele romântico papel fino, onde se caprichava na letra, no sentimentalismo que se podia sentir em cada linha lida, naquele texto sim, tinha alma. Era agradável assinar no final e depois envelopar, com a ansiedade de em dois ou três dias, o secular Correios entregaria em mãos um pedaço nosso. Sim, porque ali escrito, estava um pouco de nós, nossos erros de grafia, nosso erros gramaticais, que poderiam nos distinguir – e distingue mesmo - todos temos vícios de escrita, eu, por exemplo, tenho um terrível, o de escrever despercebidamente jeito com g.
Creia, você também tem desses vícios, é só escrever um texto à mão, que logo perceberá suas manias... É isso que dá vida ao que se escreve de punho vivo, e não na forma virtual de uma branca tela de World que lhe ilude a ponto de você com um simples clique em uma ferramenta, ser transformado em um grande conhecedor da “Última Flor do Lácio”, sem erros, impecável, onde ele corrige todos os seus vícios gramaticais, acabando assim com a sua individualidade, a sua identidade. Acomodando-lhe, atrofiando-lhe, pois claro, você tem a cômoda situação, ao seu alcance, de um corretor de texto, e pra que se preocupar com concordância, acentuação, regência e coisa e tal...
É, perdemos realmente nossa identidade. Pra que nos preocuparmos com inspiração, se na net tem infindáveis textos enlatados que podemos pegar e enviar como se nosso fosse.
Será que sou eu nostálgico, ou um reacionário que não quer se render as benezes e maravilhas dos avanços tecnológicos que polvilham nosso cotidiano com MSN’s, Orkut’s e o tema dessa crônica, o E-mail, que lhes asseguro, não foi pescado em nenhum lugar no mar da Internet. Escrita que foi no World, mas quem me conhece mais de perto, aqui expresso um pouco do que sou – com todos os meus vícios e pecados.
Por – Paulo Roberlando
Maio/2009
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