sexta-feira, 1 de junho de 2007

Poesias - Antonio Pedro


MINHA BIOGRAFIA EM VERSOS
01
Vou escrever para contar o meu passado
Fui adorado no meu tempo de criança
E hoje em dia estas coisas foram embora
Meus olhos choram que só ficou a Lembrança
02
Vinte dois anos eu passei a ser casado
Fui estimado:era uma grande flor
Vivo sofrendo não sei se é que eu mereço
Mais não me esqueço da minha vida de amor.
03
Eu também já fui querido e fui amado
Sempre a meu lado não me faltava amor oculto
Estes amores do jeito que elas querem
E de mulheres nunca mais eu vi o vulto.
04
Já gozei muito a minha mocidade
As vaidades pra mim eram um paraíso
E hoje em dia só vivo quase pensando
Sempre implorando das mulheres um sorriso.
05
O meu sonho é um amor igual ao seu
Ninguém me deu e nem nunca vai me dar
Só mesmo Deus é quem pode dar um jeito
Um amor perfeito para eu poder amar.
06
Que aventuras eu tinha no meu passado
Fui estimado e não faltava bem querer
E hoje eu vivo somente no abandono
Quem era dono da vida e do meu prazer.
07
Que filme triste,fui perder minha senhora
Não vou embora que o mundo não é culpado
Destas que vejo andando ai pela rua
Já quase nua é difícil ver ao meu lado.
08
A minha sorte está no amor de uma donzela
Que eu ame a ela não seja só ilusão
Caprichosa, honesta e trabalhadeira
Sem ser grosseira, morar no meu coração.
09
Eu fui criado nos braços da natureza
Foi uma beleza me alimentar da saudade
Fui temperado com o tempero da paixão
Meu coração é vitamina da amizade
10
Vão desculpando as minhas rimas mal feitas
Não é direita porque escrevi sozinho
Está faltando quem eu mais queria bem
Hoje ainda tem a falta de seu carinho.
Belém, 15/09/99
AS RECORDAÇÕES DE MINHA INFÂNCIA
01
Com amor e saudade de meus pais
Estou escrevendo e sentindo esta lembrança
Lembro-me muito o meu tempo de criança
Aquele tempo que nunca volta mais
Aquele amor e também o meu cartaz
De meus pais que viviam ao meu lado
O amor, a grandeza e o cuidado
Aquele tempo de criança inocente
Dá um grito de dor dentro da gente
Quando eu lanço a vista no passado.
02
O tempo bom foi aquele que passou
Papai e mamãe sempre a meu lado
Daquele tempo toda vida sou lembrado
Contava coisas que mamãe me ensinou
Aquele tempo foi embora e não voltou
Eu era novo, forte e animado
Hoje velho e o corpo todo envergado
Da boca me falta até os dente
Dá um grito de dor dentro da gente
Quando eu lanço a vista no passado.
03
Nasci no Retiro, vizinho a uma cidade
Tenho lembrança que era tão novinho
Primeiro filho, fui criado com carinho
De meus pais eu tenho muita saudade
Aquele amor que eu tinha de verdade
De meus pais meu lindo e doce sonho amado
Tudo isso eu tenho decorado
Esta lembrança que não sai de minha mente
Dá um grito de dor dentro da gente
Quando eu lanço a vista no passado.
04
De manhã cedo que eu me levantava
Eu me lembro dos dias infantis
E daquela minha gente toda feliz
Pela janela da casa eu olhava
Os bandos de pardais quando voava
Eu gritava por mamãe admirado
Os passarinho com o canto tão dobrado
Sobre o pasto em busca de semente
Dá um grito de dor dentro da gente
Quando eu lanço a vista no passado.
05
De vez em quando lembro um companheiro
Nós brincando montado a cavalo
O animal era de cabeça de talo
Apostávamos qual era o mais estradeiro
Corria pra sombra de um juazeiro
Quando meu cavalo estava cansado
O outro dizia: meu cavalo está suado
Mamãe falava: meu filho sai do sol quente
Dá um grito de dor dentro da gente
Quando eu lanço a vista no passado.
06
Pelos bosques, perto eu brincava
Naquele pasto que nascia no terreiro
Dos arbustos que eu sentia o cheiro
As borboletas que por ali voava
Corria atrás para ver se eu pegava
O gafanhoto também era incomodado
Em um pedacinho de fio era amarrado
Hoje eu lembro estas coisas no presente
Dá um grito de dor dentro da gente
Quando eu lanço a vista no passado.
07
Lembro minha escola em um salão
A mestre que nos ia ensinar
No outro ano era pra se confessar
E fazer a primeira comunhão
Pra receber Jesus no coração
Esse pão que é Cristo consagrado
Depois de ter todos comungado
Uns bolinhos recebiam de presente
Dá um grito de dor dentro da gente
Quando eu lanço a vista no passado.
08
Tempo bom foi a minha juventude
Na minha terra quando chegava janeiro
Das ervas e pastagem aquele cheiro
Gozei muito, pois tinha boa saúde
E depois tomei outra atitude
Ainda jovem passei a ser casado
Com a família o serviço foi pesado
Ainda hoje eu guardo em minha mente
Dá um grito de dor dentro da gente
Quando eu lanço a vista no passado.
RECORDAÇÃO DO PASSADO
01
Certa noite eu despertava o meu sono
Com um pássaro agoureiro que cantava
Uma coruja sólida e triste delirava
Como se eu estivesse perdido e em abandono
Me lembrava o meu pai, aquele dono
Daquele prédio que era tão zelado
Dos filhos a grandeza e o grande cuidado
Sem dormir eu ficava imaginando
De meus pais e meus irmãos eu me lembrando
Como é triste recordar o meu passado.
02
Imaginava aquela casa onde eu morei
Meus irmãos pelo mundo tudo espalhado
Dois ou três já se acham sepultado
Aquelas árvores que saindo eu deixei
Em suas sombras muito eu brinquei
Aquele abrigo já se acha derrubado
O barro, o tijolo já tudo despedaçado
Me lembrava da casa de farinhada
Das moças, também da rapaziada
Como é triste recordar o meu passado.
03
A coruja cantava de alegria
De tristeza eu pensava aquela noite
Do vento eu só escutava assoite
E a coruja parece que dizia
Vou parar quando ver a luz do dia
Com o canto eu ficava emocionado
E sem sono eu ficava até zangado
E ao amanhecer a coruja foi embora
Do que eu pensei eu escrevi naquela hora
Como é triste recordar o meu passado.
04
Me lembrava das roseiras tão floridas
Que eram por mamãe muito zeladas
Olhando o lugar não vejo nada
Mamãe há tempo é falecida
E papai o dono da guarida
Há anos que também foi sepultado
Os alicerces da casa estão desmoronados
O canto da coruja pra mim era um aviso
O meu sono perturbou o meu juízo
Como é triste recordar o meu passado.
05
Tudo calmo ali ninguém falava
Só a coruja cantava bem baixinho
Com a companheira fazendo um carinho
E eu sozinho porque minha esposa viajava
E dos passados todos eu me lembrava
E do tempo que eu era bem estimado
E me achando ali tão desprezado
Me lembrava do tempo da mocidade
E hoje sentindo o peso da idade
Como é triste recordar o meu passado.
06
Me lembrava daquele lindo arvoredo
Que ao redor da casa sombreava
Uma pretinha graúna que cantava
Despertava o meu sono muito cedo
Ainda escuto, às vezes eu tinha medo
Eu ia ver as plantas do cercado
Trazia milho verde pra nós comer assado
Hoje eu sinto em meu pobre coração
As mágoas e esta triste recordação
Como é triste recordar o meu passado.
07
Me lembrava das noites enluaradas
Nas noites da fogueira de São João
Ás vezes soltava até balão
Quando a fogueira estava incendiada
Se juntava aquela rapaziada
No terreiro, comendo milho assado
Croatazeira escutava-se o estalado
Passando fogo era compadre e comadre
Se traçava ali uma amizade
Como é triste recordar o meu passado.
08
Tinha a lagoa ao redor tão verdejante
De águas fria onde mamãe banhava nós
Ela iscava ali uns dois anzóis
Pegava peixe que era mais importante
Assava mesmo ali dentro da vazante
Vinha pra casa já tudo bem banhado
Já tinha comido o peixe assado
Isso foi em meu tempo de criança
E hoje em dia eu só tenho esta lembrança
Como é triste recordar o meu passado.
09
Eu me lembro dos caminhos que trilhei
Hoje eu penso e parece que estou vendo
E os anos ficam sempre me dizendo
Esta estrada não foi onde eu andei
Meus amores aonde eu deixei
Pra mim está tudo liquidado
O tempo foi e me deixou tão derrotado
Faz lembrar o tempo de minha infância
E hoje me deixou só a distancia
Como é triste recordar o meu passado.
10
Esta coruja tinha que trazer
Recordacão do tempo da antiguidade
Me lembrar das minhas vaidades
Me parece que só vinha me dizer
Esta voz triste, a voz do bem querer
E a visão da noite, o eterno brado
77 anos este velho abandonado
Me lembro muito quando era rijo e forte
E hoje velho só esperando a morte
Como é triste recordar o meu passado.
Belém, 07/07/93
MEU AMIGO CAJUEIRO
01
Com amor e saudade eu vou escrever
Lembrei-me de um frondoso pé de cajueiro
Tinha ele como se fosse um companheiro
Sua sombra me deu muito prazer
Minhas mágoas me obrigou a lhe dizer
Onde eu via tão frondoso e enramado
Vejo hoje muito triste e abandonado
Recordo meus irmãos e o meu tempo de criança
Hoje em dia não me sai mais da lembrança
Vê-lo morto e o tronco todo espedaçado.
02
Suas raízes, tronco e caule que subia
Quinze metros mais ou menos de altura
Hoje eu vejo como quem baixa a sepultura
Vejo ele terminando em pleno dia
Como quem diz acabei a mmha alegria
Acabou-se a beleza, o amor e o carinho
O seu nome que chamavam era lisinho
Mês de agosto me desdobrava em flor
O meu fruto que tinha o melhor sabor
Hoje o sol e o vento carregando os pedacinhos.
03
Vinha o dia e a aurora despontava
O sol saindo decepando a escuridão
Levantava-me como se fosse obrigação
Ouvindo uma pretinha graúna que cantava
Aquilo para mim mais me alegrava
Corria certo para o meu pé de cajueiro
Convidava meus irmãos e companheiros
Enquanto o dia pra nós não se passasse
Ou por outra a mamãe não nos chamasse
Nós juntinho brincávamos o dia inteiro.
04
O tronco grosso que pra mim eu estou vendo
Uma raiz que estendia sobre o solo
Fazia uma curva que imitava um colo
Em redor dela nós brincávamos correndo
Por traz da mesma eu ficava me escondendo
Era pra nós um prazer e um divertimento
Os galhos se embalavam e serviam de assento
E se findou tão depressa atingido pelas águas
Deixou-me lembrança e o coracão sentindo mágoas
Eu vendo os pedacinhos carregados pelo vento.
05
Lembro muito quando era a tardinha
Mamãe dizia que nós de brincar não se fartava
E chamando com nós já se encontrava
Corria para outro lado os filhos da vizinha
Tendo justado para o outro dia de manhãzinha
E corria certo para o meu pobre agasalho
Eu sonhava pulando de galho em galho
Sem saber se papai tinha algum tormento
Esforçava-se para nos dar o sustento
Acordava cedo e cedo seguia ao trabalho.
06
Cajueiro querido e velho amigo
Que me deixou saudade e muita recordação
Sentindo as mágoas em meu pobre coração
Lembrei o tempo em que eu fazia união contigo
Hoje me parece que recebeu como castigo
A morte e o desprezo pra nunca mais
Perdeu o fruto e também o seu cartaz
Ao seu lado nunca mais vi uma criança
Deixou-me a saudade e esta lembrança
De você e também de meus velhos pais.
PENSEI EM MINHA MOCIDADE
01
Agora vou escrever
Falar sobre a mocidade
E também sobre a velhice
Pois eu sou da antiguidade
No tempo de eu pequenino
De mamãe tinha carinho
E hoje velho acabado
Caindo até pelo chão
Me ferindo pé e mão
E meus joelhos inchados.
02
A gente nasce e não sabe
Qual é a sorte ou destino
A sorte você já sabe
Vem do tempo de menino
Deus lhe deu um anjo ao seu lado
Que é pra ficar vigiando
Olhando a sua sorte
Por nosso reto juiz
Ás vezes sai tão feliz
E se encontra com a morte.
03
Eu saí de casa um dia
Me julgando bem feliz
Sem eu pensar em desastre
Porém a sorte não quis
Topei e cai no chão
Quebrei um pé e uma mão
Até o meu espinhaço
E fiquei todo pelado
Minhas costelas de lado
Ficou rangendo o meu braço.
04
Até os setenta anos
Eu me julgava tão forte
Hoje com setenta e nove,
Já estou temendo a morte
No caminho dos oitenta
Caindo ralando a venta
Precisando de bastão
Mesmo com um segurando
Este vai escorregando
Quem apara o velho é o chão.
05
O governo é a cabeça
E só vive tateando
Os nervos das pernas são fracos
Só anda cambaleando
Não pode se sustentar
Leva o tempo em tombar
Numa tristeza sem fim
E ver um novo saltando
E ele fica chorando
Eu também já fui assim.
06
Coitado de um pobre velho
Caindo assim deste jeito
Com um pé todo ferido
Inchado o braço direito
Tanto que andou correndo
Hoje meu braço doendo
Sofrendo noite e dia
Esta dor não alivia
O jeito é ficar gemendo
Quando era novo eu corria.
RETIRO - A TERRA ONDE NASCI
01
Vou escrever a minha terra
Onde nasci e me criei
Em uma ilha arenosa
O encanto de uma grei
Com quatro anos de idade
Minha terrinha eu deixei.
02
O Retiro, a minha terra
Vizinha ao Acaraú
Onde antigamente andavam
Os índios caramuru
Cidade bem conhecida
Das praias do Coauçu
03
Retiro eu tenho saudades
Daquelas verdes Campinas
E do barro cheiroso
Daquelas brancas colinas
Que as marrecas fazem pousada
Sobre as águas cristalinas.
04
Quando eu lembro a minha terra
O coração tem alegria
Me recordo aquelas horas
Ao amanhecer do dia
Eu vendo o gado pastando
Sobre a relva macia.
05
Oh! Que saudade que tenho
Daquelas tardes garbosas
Daquelas águas empoçadas
Que ficam da cor de rosa
Quando nas primeiras chuvas
Sinto o cheiro da melosa.
06
Quando chega o inverno
As longas viagens a pé
Uma parte é de água doce
Outra é água da maré
Na água doce a cramatã
Na água salgada o xié
07
A minha terra é bonita
No meio dos carnaubais
Naquelas Campinas vedes
Ver pastando os animais
Correnteza de água doce
Vem banhando os vegetais.
08
Vê-se o bando de pardais
Sobre a relva baixando
Naquelas manhãs saudosas
Sentindo o vento soprando
E o vaqueiro corajoso
Já vem com o gado aboiando.
09
Se ver o gado pastando
As ovelhas e o marrã
Sai o vaqueiro a procura
Que o leite é de manhã
Naquelas horas alegres
Ouvindo o grito da coã.
10
Quando chega à tardinha
O vento sopra da praia
Alegra os pássaros com chuva
Na rama da maravaia
Chegando seus companheiros
Ouço o grito da jandaia
11
E quando chega janeiro
Tem se findado o verão
Se ver uma boniteza
Lá pro lado do sertão
E logo vem a enchente
Ouço o grito do carão
12
Se ver lá nos alagado
O bando de paturi
E o cântico bonito
Do saudoso juriti
O caçador saboreando
O doce mel de jati.
13
Ve-se as lindas correntezas
Que vem das brenhas ou cascatas
Fazendo lençóis de espamas
Alvinho da cor de prata
É nosso Rio Acaraú
Vindo das serras das matas.
14
Fica aquele alagado
Bom da gente nadar
A corrente de água doce
Que serve pra se banhar
Naquela areia branca
Pra morena se bronzear
15
É bonita água corrente
O remanso, a ligeireza
Fazendo aqueles funis
No flo da correnteza
Admirando o fenômeno
Do poder da natureza
16
E naquelas correntezas
O peixe vai desovando
É grande a quantidade
Cada vez mais aumentando
Quando chega o fim d'água
O pescador já vai pegando.
17
No inverno é animado
Ouço o canto da peitica
E do anum vivedor
Ninguém sabe onde é que fica
No inverno estão cantando
No ramo da oiticica.
18
Os passarinhos gorjeando
Nos arvoredos sombrios
Todos eles muito alegres
Que já chegou o estio
E um vento largo soprando
Da cabeceira do Rio.
19
E naqueles vastos campos
De descida e despenhadeiro
O canto da seriema
Correndo nos tabuleiros
E vejo as graúnas cantando
Lá nas palhas dos coqueiros.
20
Oh! Que saudade que tenho
Do tempo de minha infância
Dos beijinhos de mamãe
Que me alagava na ânsia
De papai e de mamãe
Hoje só tenho a distância.
21
Já escrevi a minha terra
Eu falo a minha verdade
Daquela grande beleza
Sei que não conto a metade
Quando eu falo em minha terra
O coração sente saudade.
CASA VELHA ABANDONADA
01
Vou escrever o que pensei
Do tempo em que fui criança
Me veio esta lembrança
Só de tristeza chorei
A casa onde eu morei
Acabou-se a prosperidade
Com ingênua simplicidade
Doze glosas eu vou fazer
Que a mesma veio trazer
Recordação e saudade.
02
Casa velha abandonada
Onde lá eu me criei
Dias felizes passei
E hoje não vale nada
Eu vejo tão desprezada
Lembro a minha mocidade
Não existia maldade
Papai, mamãe tão contente
E hoje meu peito sente
Recordação e saudade.
03
Quando a noitinha chegava
Ficávamos ajoelhados
O altar todo enfeitado
Mamãe o terço rezava
Os filhos Ihe acompanhava
Louvando a Deus de bondade
Pra ganhar a eternidade
De mamãe fui um desenho
E por isso que eu tenho
Recordação e saudade.
04
Sábado meus pais rezavam
Um terço a nossa senhora
Tudo ali naquela hora
A mamãe de Deus implorava
Segunda as almas ganhava
Um terço por caridade
Pra ficar na sociedade
No seio de Abraão
E eu tenho no coração
Recordação e saudade.
05
Nas noites enluaradas
Nós brmcávamos no terreiro
Junto com os companheiros
Amigos e camarada
Recordo a vida passada
Não existia maldade
Tudo era de amizade
Papai, mamãe, meus irmão
Eu tenho no coração
Recordação e saudade
06
Quando era bem cedinho
Tinha que me levantar
Ouvindo o galo cantar
O trinar dos passarinhos
Mamãe com muito carinho
Era um anjo de bondade
Nós tinhamos felicidade
Papai era tão distinto
É por isso que eu sinto
Recordação e saudade.
07
Eu tinha tanto prazer
Quando eu era pequeno
Com dez anos mais ou menos
Eu fui aprender a ler
E também a escrever
Pois tinha capacidade
E tinha muita vontade
De um dia ser alguém
Por isso meu peito tem
Recordação e saudade.
08
Lembro também das estradas
Que voavam os bacuraus
Nós em cavalos de paus
Dávamos uma rebanada
Era uma gargalhada
Brincava mesmo a vontade
Nós não tínhamos vaidade
De tudo eu me lembro bem
Por isso o coração tem
Recordação e saudade.
09
Havia historia de fada
Minha avó que nos contava
E meus irmãos que gostava
As vezes ia a madrugada
E de princesa encantada
Do tempo da antiguidade
Se divertia a vontade
Eu tinha muito prazer
Não me ignora ter
Recordação e saudade
10
Papai tinha uma vazante
Muito fértil e muito boa
Via-se à margem da lagoa
Para nós era um encante
Parecia um brilhante
A nossa propriedade
Sentimento e ansiedade
Depois que papai morreu
Por isso é que sinto eu
Recordação e saudade
11
Nós fazíamos pescarias
De anzol e de curral
Eu achava tão legal
Na beira d'água corria
Todos nós com alegria
Sem responsabilidade
Mas nós tinhamos humanidade
Não brigávamos com ninguém
Por isso meu peito tem
Recordação e saudade
12
Adeus tempo de criança
Adeus minha brincadeiras
Adeus rosa, adeus roseiras
Adeus minhas esperanças
Adeus que tenho lembranças
Adeus minha mocidade
Adeus minha vaidade
Adeus para meus pais
Adeus que tenho demais
Recordação e saudade.
MEU TEMPO DE CRIANÇA
01
Vou contar uma história
Compondo rimas de glória
Pois encontrei na memória
A rima e meu cartaz
Pois me veio esta lembrança
Com muita perseverança
Do meu tempo de criança
Recordações de meus mais.
02
Retiro é a minha terra
Aonde a ovelha berra
Lá é ilha não é serra
Acaraú é bem vizinho
Papai o meu companheiro
Eu fui o fýlho primeiro
De mamãe ganhava cheiro
Fui criado com carinho.
03
Retiro que eu nasci lá
E não se podia morar
Então papai veio para cá
Em sua pátria amada
Aqui ficou trabalhando
O tempo foi se passando
Eu escrevo me lembrando
De minha terra adorada.
04
Hoje eu lembro aquela ilha
Com mais de mil maravilha
Com seus filhos e suas filhas
Que ainda eram crianças
Logo papai veio embora
Mamãe aquela senhora
E hoje meus olhos chora
Pois só ficou a lembrança.
05
Me lembro das madrugadas
E das manhãs orvalhadas
Dos tempos das farinhadas
Naquela linda palhoça
Meu irmão era o prenceiro
E papai era o forneiro
E eu que era o cargueiro
Ia direto pra roça.
06
Me lembro das bananeiras
E dos pés de laranjeiras
Aos lado de uma roseira
E um bonito coqueiro
Ali tudo sombreava
Uma rede se armava
Aquele vento soprava
No galho de um cajueiro.
07
Eu já contei meu passado
Em oito linhas rimado
E sem meus filhos a meu lado
Onde eu vi tanta gente
Faleceu minha senhora
Os meus filhos foram embora
E hoje os meus olhos chora
E o meu coração sente.
08
Adeus lagoa estimada
Adeus lindas passaradas
Adeus boas madrugadas
Adeus a minha infância
Adeus lagoa do Belém
Adeus amigos também
Adeus a meus pais o meu bem
Deles só tenho a distância.
TAMARINEIRA VELHA AMIGA
01
Agora vou escrever
Sentindo um grande prazer
E preciso Ihe dizer
De uma árvore velha amiga
Nasceu dentro de um cercado
No outro século passado
E continua estimada
Esta árvore velha amiga
02
Nasceu de livre vontade
Pela mão da divindade
Aqui em nossa cidade
Que viu o alvorecer
Vivendo sempre feliz
Ao lado desta matriz
De São Francisco de Assis
Onde ela viu nascer.
03
Todos os teus frutos colheram
As outras árvores morreram
Nunca mais permaneceram
Só tu não ganhaste a morte
Sempre rejuvenescendo
Teus galhos se balançando
E eu de te me lembrando
Oh velha árvore de sorte.
04
Viste da Cruz o começo
Viu o mais velho em seu berço
E viu o pequeno preço
Hoje veres a carestia
Viu muita necessidade
Os velhos na eternidade
Hoje está vendo a cidade
Como está sendo hoje em dia.
05
Tamarineira estimada
Viu muita carne de gado
Vendida por dois cruzeiro
Em uma roda de carro
Cortando carne ligeiro
Vendendo o amigo e o vaqueiro
E hoje esse dinheiro
Não compra mais um cigarro.
06
Viu música na alvorada
As quatro da madrugada
Ao romper da passarada
Ouvindo a banda tocar
O povo evoluindo
E fogo no ar subindo
Com bandeirinhas aplaudindo
Em frente ao patamar.
07
Oh! Velha tamarineira
Era minha companheira
Naquelas manhãs fagueiras
No tempo de minha escola
Aonde eu me sentava
Em sua sombra repousava
Bolinhos eu merendava
Tirando de uma sacola.
08
Tu hoje nesta avenida
De todos es bem querida
Toda de lâmpada florida
É bonito o festival
Sempre se resplandecendo
Ouvindo a música tocando
Os galhos se embalando
Quando é noite de natal.
09
Foi tu que viste os roceiros
Naqueles anos primeiros
Ainda com pouco dinheiro
Um bolo era um tostão
Hoje veio a carestia
Como está sento hoje em dia
Se vai lá na padaria
Um bolo é um milhão.
10
Guardava a vida em segredo
Com o teu frutinho azedo
Vive em seu agasalho
E ver o raiar do sol
Brilhando em todo arrebol
O cântico do rouxinol
Pousando de galho em galho.
11
Foi tu que viste a igrejinha
Quando era pequenininha
Todo dia à tardinha
Olhando o santuário
O altar, a flor e o cheiro
Foi tu que sentiu primeiro
São Francisco, o padroeiro
Quando fez o centenário.
12
Tamarineira em criança
Eu tinha esta lembrança
Quem espera sempre alcança
De escrever tua historia
Já descobri teus encantos
Isto ai eu te garanto
Que Antônio José dos Santos
Pode guardar na memória.
MINHA VIAGEM SEM DINHEIRO
01
Vou contar uma história
Do que se passou comigo
Parece até um castigo
E eu guardei na memória
Que o homem não tem glória
Quando está em desespero
Não arruma companheiro
Na vida só é tormento
Vou dizer o sofrimento
De quem anda sem dinheiro.
02
Fui trabalhar na farinhada
Na casa de um tio meu
Pertinho do Zé Abreu
Numa distancia danada
Começava de madrugada
Eu e o meu companheiro
Era pra ganhar dinheiro
Trabalhava pra se lascar
E faz vergonha contar
O dia era dois cruzeiro.
03
Quatro semanas trabalhei
E peguei o apurado
Mais logo fui convidado
E eu com gosto aceitei
Numa festa que dancei
Com a moça uma ilusão
Apaixonei meu coração
Com os amigos bebia
Quando clareou o dia
No bolso nenhum tostão.
04
Era pra vir pro Belém
E eu estava na Jijoca
Tanto que arranquei mandioca
E hoje sem um vintém
Sem companheiro também
A fome estava doendo
E no estomago roendo
Ai eu vi na estrada
Uma laranja abandonada
Eu peguei e sai comendo.
05
Cheguei no Cajueirinho
Disse aqui arranjo comida
Veio uma velha aborrecida
Destas que não tem carinho
E disse vá no vizinho
Que lá mataram um carneiro
O senhor tendo dinheiro
Então foi o jeito eu ir
Com vergonha de pedir
Mas ainda senti o cheiro.
06
Eu ai sai tremendo
Já pela fome atacado
Fui rodeando um cercado
E uma casinha fui vendo
Tinha uma mulher gemendo
Eu disse o que a senhora sente
Uma horrível dor de dente
Eu disse, eu sei rezar
Querendo vou lhe curar
Você fica boa urgente.
07
Eu ai rezei ligeiro
Só não para ninguém ver
Que só pensava em comer
Ou então era em dinheiro
Tinha visto no estaleiro
Umas tripas penduradas
Ai cheirou tripa assada
E ela então saiu lá fora
Como é que vai a senhora?
Eu não estou sentindo nada.
08
Fiquei boa de repente
Oh que mão abençoada
E come já tripa assada
Pois fiquei boa do dente
A água já está quente
Eu faço o pirão ligeiro
Só não botei outro tempero
Eu disse tem nada não
Era comendo o pirão
E me lembrando do dinheiro.
09
Eu nunca tinha curado
E pela fome me obriguei
E nessa mulher rezei
E me deu bom resultado
Pois eu estava quebrado
Capaz de pedir esmola
Só me faltava a sacola
Mas sempre pedi rezando
Só não pedi cantando
Porque não tinha viola
10
E ficou com tanta fé
E foi armando uma rede
Disse o senhor está com sede?
Beba antes do café
Que vai rezar em um pé
De um bichinho que está deitado
Vou ver meu filho curado
Eu ai rezei na hora
Que antes de vir embora
Corria pra todo lado.
11
Ai me despedi e vim embora
Ela disse está cedo
O senhor está com medo?
Eu disse não senhora
É porque está na hora
E eu não tenho companheiro
Ai sai pro terreiro
E foi desse jeito assim
Veja como é ruim
A gente andar sem dinheiro.
MEU SONHO PARA RECITAR
01
Uma noite sonhei que eu voava
Contemplando os seres da natureza
Imitava em mim que fosse uma fraqueza
E em um campo santo eu baixava
Vi tanta coisa que me horrorizava
Um corpo seco que ficava ao meu lado
Resto velho de terço abandonado
Catacumbas com muitas abertura
Um negro feio cavando a sepultura
Pra botar um mancebo condenado
02
Tinha um anjo que sempre me acompanhava
Sempre me dava alguma explicação
Me mostrou a caveira de Adão
Eu vendo mais me emocionava
Vi um mágico com uma cobra que brigava
Esta serpente de aspecto tão cruel
Vi também o anjo Gabriel
Satanás iludindo uma alma
Depois eu vi com muita calma
Apanhando nos pés de São Miguel.
03
Vi a embaixada do rei da Babilônia
E a carta que mandou a Ezequiel
Vi também o profeta Isaias
Celebrando no altar as cerimônias
E ali mesmo na cidade, uma Colônia
Um lugar que achei muito bonito
Vi as tábuas que o Senhor tinha escrito
Também vi o reinado de Josias
Vi São João o filho de Zacarias
Vi a saída de Moisés lá do Egito.
04
Vi Maria Santíssima e São José
Lá mesmo na cidade de Judá
Vi Safam o pai de Josafá
No Egito eu falei com Josué
Vi a casa e a saída de Jafé
Sua mãe chamava-se Amital
Jeremias de Lobana fez o mal
Conversei com o rei Eliassim
Que seu pai mudou seu nome pra Joaquim
Vi Adão e Eva este casal.
CARTA DE UM PAI PARA UM FILHO
01
Vou escrever esta carta
Pra responder seus versinho
Fiquei muito satisfeito
E aceite o meu carinho
E a benção de seu pai
Meu caro filho Fransquinho
02
Me lembro muito de você
Quando chega à tardinha
Eu tenho muita lembrança
Eu deitado no alpendre
E você tirando espinha.
03
Todos te mandam lembranças
Eu, sua mãe e o nelinho
Anália, Guida e Gorete
A Joaninha e o Guidinho
A Nenê e Maria Lúcia
Tudo é pra você Fransquinho.
04
Você deve se lembrar
Das suas palestras boa
No caminho da capoeira
E do banho na lagoa
Eu mando te perguntar
Se ainda lembra da canoa.
05
Quando recebi teus versinhos
Aumentou minhas saudades
Chegou lágrimas nos meus olhos
De te ver tive vontade
Mais você esta tão longe
Deus te dê felicidade.
06
Meu filho você desculpe
Que aqui eu vou findando
Os meus olhos lagrimados
Eu te vejo não sei quando
O meu coração batendo
Minha cabeça pensando.
07
Lembrança para você
E todos os seus companheiro
Para o seu patrão também
Te tenho amor verdadeiro
Espero estarmos juntos
E este dia venha ligeiro.
MINHA VIAGEM A SÃO PAULO
01
Agora passo a escrever
Pra contar de uma viagem
Eu fui visitar São Paulo
E enfrentei com coragem
Só conto a minha verdade
Não vou contar pabulagem.
02
Saí de casa num sábado
Dia vinte de dezembro
Meu filho de companheiro
Pra mim era mais um membro
Na empresa redenção
Só conto porque me lembro.
03
Na casa de minha filha
Lá mesmo em Fortaleza
Ai passamos dois dias
Pra mim foi uma beleza
E no dia vinte e dois
Embarcamos com certeza.
04
Saímos as quatro e meia
No ônibus Itapemirim
Com quarenta passageiros
Eu posso dizer assim
Ia deixando minha terra
Foi um sufoco pra mim
05
E quando chegou à noite
Fechou-se meu coração
Pensando em minha casa
E na minha obrigação
O sentido não parava
Me restriou pé e mão.
06
Na manhã de terça-feira
Eu vendo o raiar do sol
Naquela grande cidade
Brilhando em todo arrebol
Me lembrava a minha terra
E do canto do rouxinol.
07
Ai passou outra noite
E finalmente outro dia
Nós chegamos em São Paulo
Era o que o povo dizia
Eu pensando em minha casa
Mais os meus lábios sorria.
08
Quando desci do ônibus
Meu filho estava esperando
Aí fiquei satisfeito
Mais era sempre pensando
Depois pegamos o metrô
E saímos viajando.
09
Entramos neste transporte
Eu achei muito legal
E na casa do meu filho
Encontrei um pessoal
Que estavam me esperando
Era noite de Natal.
10
Ansiosos me esperavam
Todos contavam por certo
Lá estavam meus amigos
Sobrinho, afilhado e neto
Eu fiquei maravilhado
De receber tanto afeto.
11
Lá estava um churrasco
Lingüiça, carne e buchada
Bebida de todo tipo
Também cerveja gelada
Todos brindavam o Natal
E também minha chegada.
12
Eu repousei uns dois dias
Pois tinha necessidade
Estava um pouco enfadado
Eu conto a minha verdade
Aí saímos em passeio
Pra visitar a cidade.
13
Fomos à praça da Sé
Achei muito luxuosa
As ruas todas enfeitadas
Com lindas pétalas de rosa
A matriz toda carpida
Feita por mão caprichosa.
14
Também fui ao zoológico
Vi pássaros, répteis e fera
Fui numa mata do parque
Chamado Ibirapuera
Tinha bons divertimentos
Onde eu vi uma paquera.
15
Fomos também em Pedreira
Na casa de meu irmão
Pra lá pegava dois ônibus
Que ficava contra mão
Também fui na Maristé
E seu marido João.
16
Depois fui em passeio
Em casa de minhas sobrinha
Socorro com seu esposo
Também fui na Gracinha
Depois fui na Aparecida
Fui até mais o Chaguinha.
17
Na minha sobrinha Fátima
Eu achei muito legal
Foi quem passeou comigo
Conhecendo o pessoal
Pra ter o que eu contar
Em minha terra natal.
18
Lá na casa do meu filho
Foi visita e muito afeto
De Terezinha Morais
Amigo sobrinho e neto
Recebi muitos presentes
Isto estou dizendo certo.
19
Me despedi, vim embora
Disse adeus para o Fransquinho
Também me despedi da Fátima
E depois do Marcelinho
A última foi a Terezinha
E depois foi o Guidinho.
20
Desculpe a minha história
Melhor eu não lhe garanto
Não posso vos contar mais
Porque só disse esse tanto
Não fui lhe contar mentira
Vá desculpando essa lira
De Antonio José dos Santos.
Belém, 04/06/87.

Nenhum comentário: