Trilhei na infância querida,
Composta de mil primores,
A estrada da minha vida,
Ornamentada de flores.
E que linda estrada aquela!
Sempre havia em torno dela
Encanto, paz e beleza.
Desde a terra ao grande espaço,
Em tudo eu notava um traço
Do pincel da natureza.
Viajei de passo lento,
Pisando rosas e relvas,
Ouvindo a cada momento
Gemer o vento nas selvas.
Colibris e borboletas
Dos ramos das violetas
Venham render-me homenagem.
E do cajueiro frondoso,
O sabiá sonoroso
Saudava a minha passagem.
O sol quando despontava
Convertendo a terra em ouro,
Em seus raios se notava
O mais sublime tesouro.
E de noite a lua bela
Era qual linda donzela
De uma beleza sem fim:
A sua luz prateada
Tinha a cor imaculada
Das vestes de um querubim.
Se a noite escura chegava
Envolvida em seus negrores,
Uma santa me embalava,
Cantando trovas de amores...
E quando raiava o dia,
Que do bercinho eu descia,
Chegava aos ouvidos meus,
Pelas brisas matutinas,
O som das harpas divinas
Dos santos anjos de Deus.
E eu seguia meu caminho
Sempre alegre e sorridente,
Balbuciando baixinho
Minha canção de inocente.
E enquanto sem embaraço,
Eu transpunha passo a passo
Os tapetes da campina,
No centro da espessa mata,
As águas de uma cascata
Cantavam ao pé da colina.
Nessa viagem de amor,
Nada me causava tédio,
Tudo vinha em meu fervor
Pelo divino intermédio.
Mas, a torpe sedução,
Qual fera na escuridão,
Manhosa, sagaz e astuta,
Atirou sem piedade,
Sua seta de maldade,
Contra minha alma impoluta.
Desde esse dia maldito
Tudo tornou-se o contrário,
Foi se tornando esquisito
Meu luzente itinerário.
Segui pela minha estrada
Com a folha arrebatada
Na correnteza de um rio.
Entre a grande natureza,
Tudo quanto era beleza
Apresentou-se sombrio.
O sabiá não cantava
Pelos bosques e colinas,
Nem pela brisa chegava
O som das harpas divinas.
Só me ficou na memória
Aquela quadra de glória,
Da minha infância feliz,
Lá, onde deixei guardados,
Entre as roseiras dos prados,
Meus brinquedos infantis.
Qual peregrino sem fé,
Atrás de um santo socorro,
Um dia cheguei ao pé
Do mais altaneiro morro.
E subi pelos escombros,
Levando por sobre os ombros
Um fardo de penitência.
Sem encontrar obstáculo,
Galguei o alto pináculo
Do monte da decadência.
Na mais horrível peleja,
Vivo hoje sobre o cume,
Onde a brisa não bafeja
E as flores não têm perfume.
A vagar triste, sozinho,
Sem conforto, sem carinho
Na solidão deste monte,
Não ouço o canto das aves,
Nem os sussurros suaves,
Das claras águas da fonte.
No deserto desta crista,
Ninguém consola meus áis.
Fugiram da minha vista,
As belezas naturais.
Tudo, tudo me embaraça,
A lua pelo céu passa,
Desmaiada e já sem cor,
E as lanternas das estrelas,
Caço, e não consigo vê-las,
É triste o meu dissabor.
E aqui, o que mais me pasma,
Me faz - tremer e chorar,
É ver um negro fantasma
Com as mãos a me acenar.
Sempre, sempre me rodeia,
E com voz honrrenda e feia
De quando em quando murmura
Baixinho, nos meus ouvidos,
Para descermos unidos,
Os degraus da sepultura.
STELA E NIZE
Eu vi a linda Stela, e namorado
Fiz logo eterno voto de querê-la!
Mas vi depois a Nize, e a achei tão bela
Que merece igualmente o meu cuidado.
A qual escolherei, se neste estado
Não posso distinguir Nize de Stela?
Se Nize vir aqui, morro por ela;
Se Stela agora vir, fico abrasado.
Mas, ah, que aquela me despreza amante,
Pois sabe que estou preso em outros braços,
E esta não me quer por inconstante.
Vem, Cupido, soltar-me destes laços,
Ou faz dos dois semblantes um semblante,
Ou divide o meu peito em dois pedaços!
CADEIRA VAZIA
Há neste alpendre uma cadeira antiga,
Em que o silêncio não fazia alardes,
Onde sentava sem supor fadiga,
A meditar na calidez das tardes.
Era meu pai, aquele grande amigo,
Que ali sentava a refletir em mim,
E parecia até falar comigo,
Que o grande amor não tem limite ou fim.
Ai, que saudade das benditas horas
Em que meu pai na solidão se via,
A meditar e a me dizer: Tu choras
Sem perceber que próximo está meu dia.
E este diálogo, tão íntimo e tão belo
Se interrompeu definitivamente,
Mas na minha alma por maior anelo
Saudade é a flor de uma lembrança quente.
EGOISMO
O maior mal desta vida
É com certeza o egoísmo,
Cujo domínio fatal
Nos leva a beira do abismo.
Quem pensa somente em si,
Sem dos demais se lembrar,
Jamais a felicidade
Há de poder conquistar.
Ser egoísta é ser mau,
É ser pequeno, mesquinho,
Ser desprezível, odioso,
Como todo ser daninho.
Sejamos, pois, generosos,
Amigos de nosso irmão;
Demos-lhe tudo que temos,
Até mesmo o coração!
LAR ANTIGO
(À memória de minha mãe)
Nas horas calmas de recolhimento,
Em que estou sobre a vida a meditar,
Uma voz de tristíssimo lamento,
Fala, parece, em meu antigo LAR.
Vejo, em sonho, através do pensamento,
Tempos que nunca mais hão de voltar,
Alguém, de face triste e olhar nevoento,
Que foi sempre o meu anjo tutelar.
Entro em casa sutil cauteloso,
Procurando rever o velho pouso,
Onde a saudade me levou por fim.
E, na infinita dor que me entristece,
Vejo um vulto, de joelhos, numa prece
Talvez rezando uma oração por mim.
DEUS
Quando escapar do teu peito aflito
Um soluço triste, um gemido de dor
Chama por mim, atenderei teu grito
Velando por ti com carinho e amor.
Quando encontrares em teu caminho,
Grande tropeço, imensa barreira,
Chama por mim, estarei juntinho
Guiando teus passos pela ribanceira.
Quando faltar em tua mesa o pão,
E teu corpo vergar, ante o frio e a fome,
Chama por mim, terei compaixão,
Jamais chamarás em vão, o meu nome.
Quando perderes a última esperança
Dos ideais, dos sonhos, dos amores teus,
Chama por mim e tenha confiança
Eu socorro a todos, Eu sou Deus.
BALADA DE AMOR
A minha lira de amores
Com doce afeto e alegria,
Distribui palmas e flores,
Nesta faina de poesia.
Desfaço sempre o amargor,
Meu cismar de cada dia,
Compondo versos de amor,
Nessa faina de poesia.
Lindas noitadas de festas,
No delírio da boemia!...
- Não me canso das serestas,
Nessa faina de poesias.
Peregrino desta vida,
Bebo do amor a ambrosia,
E minha estrada é florida,
Nessa faina de poesia.
À deusa dos meus encantos,
No reino da fantasia,
Oferto o mel dos meus cantos,
Nessa faina de poesia.
Quando a vejo neste enlevo,
Sinto um toque de magia,
E, mais um poema escrevo,
Nessa faina de poesia.
Felicidade é o tesouro,
Que eu aguardo com ufania...
É que vale mais que o ouro
Essa faina de poesia.
TROVAS
Jamais haverá sossego
No coração dos mortais,
Se não houver desapego
Das coisas materiais.
A linda trova perfeita,
Que nos dá tanto prazer,
Tão fácil depois de feita,
Tão difícil de fazer.
Quando estou junto contigo,
Eu sinto um prazer imenso,
Por não pensar no que digo,
E nem dizer o que penso.
O meu amor inda existe,
É o mesmo fiel e franco.
Por que te encontro tão triste?
Com teu cabelo tão branco?
SAUDADE
Saudade, se eu pudesse
Pedir a Deus numa prece,
O poder de te deixar,
Saudade não sentiria,
Saudade, que dia-a-dia
A minha paz vem roubar...
Saudade, quero somente,
Que fiques de mim ausente,
Não venhas me torturar...
Mas, como não ter saudade?
Se a minha felicidade
Saudade vem completar?...
AO POVO
Atenção eleitorado
Ao votar num vereador,
Pese o voto bem pesado
Para o voto ter valor.
Honestidade, cultura,
Independência, visão,
De qualquer candidatura
É a principal condição.
Não vote por amizade,
Nem vote pra agradar,
Seja amigo da cidade
No momento de votar.
Não escute gritaria,
Fanfarronada, cartaz
Carroça estando vazia,
É que mais barulho faz.
Não vote por parentesco,
A não ser que seu parente,
Fuja ao vulgar e ao grotesco
E seja bom realmente.
Não creias no candidato
Com faixas pelas esquinas.
Nem creias no espalhafato
De caminhões e buzinas.
Pense no povo, reflita,
Nessa imensa multidão,
Que em silencio deposita
O destino em sua mão.
Seu voto é valor em ouro
Que você vai empregar.
Não desperdice o tesouro
Num candidato vulgar.
Escolha um homem, de fato,
Combativo empreendedor,
Inteligente, sensato,
Enfim, que tenha valor.
E vote, então, com pureza,
Com orgulho e galhardia,
Fazendo jus a grandeza
Da sua cidadania!
RECUSA
A Júlia e o Nicanor
Amavam-se loucamente,
Um dia o moço imprudente,
Pediu-lhe um beijo de amor,
E insistiu, deixa, consente!
Um beijo não tem valor!
Disse a moça bruscamente,
Quase a tremer de pudor;
A minha boca humilhada
Em sua boca não pousa,
Se um beijo não vale nada,
Como você mesmo atesta:
Não vou lhe dá uma coisa
Quando essa coisa não presta.
REMORSO
Se você soubesse a dor que sente
O coração ao ser martirizado,
A ira, a dor, que se faz presente
E conservar-se para trás, calado.
Alguma coisa que nos fere a mente,
Por relembrar um erro do passado;
É ser escravo de nós, eternamente,
Pagar dez vezes por um só pecado.
Voltar de novo e estar sempre lembrando,
Sem um consolo nessa longa espera,
Sem nada haver para o tornar mais brando.
Tentando tudo que puder fazer,
Para esquecer, esquecer, oh! Quem quiser me dera,
Sumir da terra e desaparecer.
PARA A GRANDE AUSENTE
Quando te foste, num cocho dourado,
Rumo ao branco país das sepulturas,
Vi que se havia para mim findado
O resplendor das límpidas venturas!
E o teu sereno vulto bem amado.
Vive em meu coração, brilha em ternuras,
Tremendo que o teu filho idolatrado
Venha a sofrer derrotas e amarguras!
No sangue do teu próprio coração
Colheste as rosas que, com alegria,
Espelhavas por todo o meu caminho...
Agora em minha triste solidão
Procure-me, em lembrança, noite e dia
Para não me sentir mãe, tão sozinho.
PAI
Eu quisera vencer e firmamento
E penetrar nos céus, na eternidade,
Para dizer-te, ó pai, nesse momento,
A amargura que sinto, que me invade!
Quisera ter de Deus consentimento
Para transpor o espaço, a imensidão,
E contar-te de mágua e do tormento,
De um coração que chora de saudade.
Pois quando tu partiste deste mundo
Meu sofrimento se tornou profundo,
Que a minha vida consumindo vai...
Dá que, nos vendavais dos empecilhos,
Eu possa palmilhar os mesmos trilhos,
Que nesta vida palmilhaste, pai!
OITENTA QUILÔMETRO
Motorista amigo, escuta.
Nossa Pátria está em luta,
Não te pareça isto incrível.
Por sinal, és combatente,
Soldado em linha de frente,
Defendendo o combustível.
Por seres disciplinados,
Boa praça, bom soldado,
Teu veículo é teu fuzil.
Dentro desta disciplina,
Gastar menos gasolina,
É o que te pede o Brasil.
E o Brasil diz obrigado,
Ao motorista educado,
Que a grande Pátria contenta,
Fazendo o gentil pedido
Do país agradecido,
Não rodando a mais de oitenta.
O ZÈ TORRESMO
Era um pobre coitado, o Zé Torresmo,
Tão caôlho, tão magro, tão sem trato,
Que acreditava até, vivendo a esmo,
Estar sobrando neste mundo ingrato.
Sem ter na vida um gesto bom e grato,
Por todos desprezados, o Zé Torresmo,
Esboçando na mente e seu retrato,
Como quem perguntava, existe mesmo?
Será que minha vida ao mundo importa?
E, assim, o Zé torresmo, alma inocente,
Fitava o céu, com sua vista torta,
Num gesto triste, pela dor ferido:
Com o dizer a Deus humildemente,
_ ”Perdão, Senhor, por eu haver nascido!
PRETENCIOSA
Pedes julgar-me mulher, a qualquer hora...
E jogar contra mim acusações!
Meu sentimento humano não e implora
Elogios, para exaltar minhas ações.
_Já sei desempenhar minhas funções,
Isso a muito que eu sei, não é de agora,
_Utiliza para ti mesma os teus brasões,
Para essa tua pureza que deplora.
A pretensa bondade que te habita,
Julgada por ti mesma, valorosa,
Deus não vê, nem o mundo em te acreditas.
Aprende a reparar os teus defeitos,
Deixa a vida do próximo, a qual a rosa,
Que aroma para os bons e os imperfeitos.
OBDIÊNCIA
Quando eu deixar o mal, quando eu deixar
A cobiça, a soberba e a prepotência,
Uma vez, que é maior a inteligência,
No profundo do “SER” há de falar.
Quando eu lançar a dúvida, lançar.
No caos do esquecimento a irreverência,
Uma voz, que é mais sábia que a ciência,
No inteiro do “EXISTIR” há de clamar.
E na peleja de mim mesmo, quando.
O bem tiver vencido a tentação,
Que refeita do íntimo disputa,
Ao ouvir meu Senhor que está falando
Eu murmure na purificação
“Fala, Senhor, porque teu servo escuta!”
AMEI, SENHOR!
Amei, Senhor, amei deveras!
Amei a vida, o mundo e a natureza.
Amei a flor e amei as primaveras:
Em tudo vi amor e vi beleza.
Amei as matas, rios e montanhas,
As estrelas, e o céu e o infinito;
A imensidão do mar, as mil entranhas,
Da terra, amando o meu torrão bendito.
Amei plantas, insetos, passarinhos,
Na beleza das formas e das cores;
E os pisos ásperos, incertos, dos caminhos,
De onde despontam, ás vezes, raras flores.
Amei meus ancestrais, meus descendentes,
E os que levam meu sangue em suas veias.
Amei meus semelhantes e as sementes
Que hão de florir em rutilas cadeias.
Na ansiedade de amar profundamente,
Encontrei, afinal, o vosso amor.
Pois a Vós, somente a Vós Senhor!
MARTA E MARIA
Na aldeia de Betânia, certo dia.
Jesus, depois de longa caminhada.
Foi em busca de pão, água e pousada.
Na habitação de Marta e de Maria.
Marta, operava, cheia de alegria.
Preparava a comida, preocupada
Com o visitante, enquanto a outra ouvia.
De Jesus as palavras, encantada.
_ Senhor, Marta u: falo vê, não é certo
Que eu fique a trabalhar enquanto perto
De ti Maria fique acomodada...
Disse Jesus: vem tu também sentar-te
Pois Maria escolheu a melhor parte,
Parte que nunca lhe será tirada!
ORAÇÃO PARA QUE EU SEJA UM BOM SAMARITANO
A nossa vida é um caminhar também
Do pó primeiro ao derradeiro pó...
Partimos de qualquer Jeresulém,
Para alcançar alguma Jericó.
Vamos assim despreocupados, sem
Pensar... E que vemos atirado e só
Um pobre peregrino, sobre quem
Sôcos e bofetões deram sem dó...
Possa ser que eu ande de alma aflita
E veja o réu da fúria do chicote,
Para que num esforço sobre-humano,
Mate a minha tendência de levita,
Dobre o meu coração de sacerdote
E surja como um bom samaritano!
MUDA O MEU CORAÇÃO
Muda o meu coração, realiza neste instante
O divino milagre, e sublime transplante,
Arranca do meu peito onde a maldade medra
E onde o pecado habita, o coração de pedra
E planta um coração, um coração de carne.
Muda o meu coração, é que nem sombra ou tédio
Possa prejudicar o divino remédio
Que fixa em nosso corpo o novo coração...
Afasta de meu ser o mal da rejeição,
Que o novo coração que há de me dar, resista,
Seja tudo de mim na luta e na conquista.
Como o meu coração no milagre da fé,
O de Bartolomeu, o de Paulo, o de João.
Que só te saiba amar e ao próximo também
E que só tenha paz no caminho de bem!
Queima o meu coração cheio de fantasias
Como queimaste um dia os lábios de Isaías.
Tira de novo, ó mestre, a brasa tenaz
E põe dentro de mim um coração de paz
Onde passas a morar para sempre, Senhor,
Num abrigo de fé, numa casa de amor...
Arranca o meu coração que envenena o meu peito
Com dúvida cruel e triste preconceito
-E põe um coração com tuas próprias mãos
Que a todos possa ver como amados irmãos
Que ele seja bondoso, amável, tolerante,
Na mudança eficaz do divino transplante.
Muda o meu coração, transforma-o enquanto é cedo
E que o novo jamais sofra de angústia ou medo Suplicar:
Modifica o coração que tenho.
Não poderei viver sem essa operação:
Oh! Divino Pastor, mudo o meu coração!
O JAMISNEIRO EM FLOR
Entre as brumas do passado
Vejo um jardineiro em flor.
Tendo um roseiral ao lado,
Onde esvoaça o beija-flor.
Cobrindo o muro inteirinho
Do começo até o fim.
No emaranhado de um ninho,
No tom alvo do jasmim.
Sinto ainda seu perfume
Pairando de leve no ar...
E o vejo no claro lume
De um encantado luar.
Meu jasmineiro querido,
Que a saudade faz rever,
Levai-me ao Éden perdido
Quero a infância reviver!
Na tua sombra querida,
Quero de novo brincar,
Sentindo a alma aquecida
Por esse doce sonhar.
Com tuas flores mimosas
Quero grinaldas fazer,
Tal qual aquelas formosas
Que eu já não sei mais tecer.
E num derradeiro lance,
Com a esperança de amor,
Eu talvez ainda alcance
Outro jasmineiro de flor.
TESTAMENTO INTERIOR
Aos meus filhos, eu deixo, na partida,
Os bens colhidos nos jardins da vida
E as flores que pintei nas minhas telas.
Aos meus irmãos, eu deixo retratadas
Humildemente escritas e apagadas,
Da nossa infância, páginas singelas.
Aos parentes e amigos, deixo rosas,
Papoulas, margaridas e as mimosas
Que o Senhor semeou em seu jardim.
E deixo as borboletas, passarinhos,
Árvores e as paisagens dos caminhos:
Riquezas que guardarei dentro de mim.
Baixo ainda à eles, minha fantasia,
Meus sonhos de ilusões, minha poesia.
Mas, para alguém que tanto amei na vida
E que também me amou, como ninguém,
Deixo o endereço de outra vida, além,
Para que seja breve a despedida!
CANTA CORAÇÃO
Ó coração! Canta,
Nem toda cantiga encanta
E nos convida a sonhar.
Nesta vida quantas vezes,
A todos, nós enganamos,
Escondendo, em surdina, cantamos.
Quanto soluço abafado,
Quanta lágrima escondida,
Dentro do suave trinado,
Da melodia sentida!
Ó coração, vais cantando
E acalentando a ilusão,
E dentro em nós vais matando
A angústia da solidão.
Canta bem alto em teus versos,
Tua sublime canção.
E em teus solfejos diversos,
Canta, canta, coração!
O SORRISO
Sorrir, sorrir, sorrir, ai! Quem me dera
Sorrir sempre, mostrando que o sorriso
É o novo renascer da Primavera,
É a porta divinal do Paraíso!
O sorriso que à nossa boca aflora
É a linguagem que irmana o mundo inteiro,
É um fraterno sinal de nova aurora,
É mensagem de paz ao companheiro!
Vamos sorrir! O sorriso é uma alvorada
Que sonhos e promessa irradia!
É vara de condão em mãos de fada!
É o cântico da vida! É alegria!
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