Por – Paulo Roberlando
Abril/2009
Porque envelheci...
Ainda ontem, fui cortar o cabelo no Seu Manoel Cristino, o mesmo desde os meus tempos de criança. Como sempre, sento na cadeira e sou vestido com uma bata já surrada pelo tempo e, se duvidar, deve ser a mesma quando lá estive pela primeira vez levado por meu pai, e se bem me lembro, não tinha mais do que onze ou doze anos. Recordo que Papai não nos deixava passar mais do que quinze, quando muito, vinte dias sem nos deixar cortar o cabelo, e tinha que ser bem, mais bem curtinho. Sentei na cadeira já envolto na bata, e, a medida que a tesoura ia cotando os cabelos, digamos que, rebeldes, pra não dizer ruins, eles iam caindo no surrado pano. Fui percebendo, o que até então não tinha, se tinha, não me ative à surpresa de ver tantos cabelos brancos, bem mais brancos do que pretos... Pensei: Nossa como envelheci nestes últimos tempos – olhei-me fixamente no espelho em frente procurando outros sinais em meu rosto, mas não, ele não tinha mudanças, não tanto quanto meus cabelos já tão grisalhos. Minha face estava a mesma, ou quase.
Instintivamente procurei então fundo em mim, em meu modo de vida se haviam sinais de envelhecimento. Fiz um backup de meus últimos dez anos, as mudanças pelas quais eu havia passado em um processo de transformação que mais parece uma mutação. Concluo não tão surpreso: Estou realmente velho, pois me estagnei nos conceitos e ideais que sempre acreditei e pregava. Minha fé, minha espiritualidade que sucumbiu aos mundanos prazeres efêmeros, me restando apenas lampejos de quando vez, que não me abalizam a uma continuidade e com isso me sobrevindo uma angústia de não poder me reeducar, nem renascer... e creio que isso é envelhecer, e não as marcas inevitáveis que o tempo nos impõe como que uma ferrugem que corroem e deteriora o que pensamos ser imutáveis – a jovialidade, o fulgor, a vaidade...
Pela primeira vez em minha vida senti o tempo, senti o gosto amargando a certeza do que eu poderia ter construído e não construí, e, nunca, nunca tive tanta certeza do quão longe eu poderia ter ido e não fui – como uma vez me lembrou a minha doce e querida amiga Fatinha.
Desperto desses pensamentos com o Seu Manoel me tirando a velha bata e dizendo: “Olha ai como esta mais novo.”
Fito-me novamente no espelho e reconsidero toda essa angustia sentida: Não, não estou velho, posso não ter o mesmo rosto da velha foto 3X4 amarelada que ainda guardo em minha carteira, do tempo em que fiz minha reservista militar, mas minha idéias, minha concepção da realidade ainda lateja cá dentro, e sei, sei que ainda poderei ir longe – muito longe, pois minha fé renova-se na fundamentada razão de que a vida nos é dada para grandes coisas...
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