sexta-feira, 1 de junho de 2007

Outros Romances - Antonio Pedro


UMA MÃE SOFREDORA E UM FILHO MARTIRIZADO
01
Oh, bom Jesus inspirai-me
Com amor e gratidão
Pra escrever um poema
Pois tenho autorização
A triste historia em que falo
É de cortar coração.
02
Francisco Bernardino Neto
Era um rapaz muito forte
Um balconista amigo
Terra dinheiro e transporte
Caiu em uma cilada:
Nos negros grilhões da morte.
03
Acelerou o seu carro
Era pra vir pro Belém
Resolveu ir pro Riacho
Pois se dava muito bem
Talvez fosse algum amor
Assim como os outros tem.
04
Quando entrou na igreja
Que olhou pra São Miguel
Um sujeito Ihe apalpava
Alma perversa e cruel
Avisou pra seus colegas
Dos corações de lusbel
05
Foi no dia 30 de maio
Que ele foi arrebatado
O negro da Zilda falou
Ele está desarmado
Pois eu fiz a revisão
Pode confiar Clodoaldo.
06
Francisco deixou seu carro
Lá na frente do Marino
E saiu tão inocente
Foi cumprir seu destino
E não levou dez minutos
Caiu nas mãos do assassino.
07
Ele saiu da igreja
E ficou no patamar
Viu um carro sem farol
E dele se aproximar
Pois eram os criminosos
Que já vinham lhe matar.
08
Lá mesmo no patamar
Lhe deram uma pesada
Antes dele se virar
Lhe deram uma facada
Correu em busca das armas
Porém não deu tempo a nada
09
Correu pedindo socorro
No botequim foi entrando
E logo Marino Filho
As portas já foi fechando
Eles entraram também
Tiraram o homem arrastando
10
O Marino foi defender
Com coragem e bem disposto
Aquela cena terrível
Que Ihe causava desgosto
Mais também foi atingido
Bem nas costelas e no rosto.
11
Chegou Benedito Barros
E falou pra Clodoaldo
Vocês são uns covardes
Pois ele estava desarmado
Ai cortaram-lhe um braço
Cabra perverso e malvado.
12
A voz do povo dizia
Foi vinte e nove facadas
Clodoaldo foi furioso
Com a alma abalada
O homem depois de morto
Ainda davam furada.
13
Mataram o homem e fugiram
Deles nós temos certeza
Foi um crime muito bárbaro
Foi um brutal sem defesa
A esperança que temos
É o poder da natureza.
14
Oh, morte tão dolorosa
Que morreu um inocente
Sem ninguém pra socorrê-lo
Como sofreu o vivente
Hoje a família ainda chora
Que no seu coração sente
15
Tinha quarenta e dois anos
Esta era a sua idade
Sete anos em São Paulo
Voltou pra sua cidade
Honesto e caritativo
Ao bem da comunidade.
16
Tirar a vida de um irmão
Veja que a sorte destina
Este coração de fera
De mão perversa assassina
Nós esperamos por Jesus
Sua justiça divina.
17
Quando a família chegou
Viu o povo comentando
Fazia até piedade
De ver o corpo sangrando
Até sem ser da família
Ouviram gente chorando.
18
O levaram à Bela Cruz
Para ser examinado
Tirar o corpo de delito
Pra saber o resultado
Pois é a lei da policia
Que é pra saber do jurado.
19
Quando chegou o transporte
Foi-u-ma grande aflição
A chegada de um carro
Dentro do carro um caixão
Dentro do caixão o filho
Ai que dor no coração.
20
Pai e mãe sofrem muito
Precisa ser muito forte
Rezando pelo seu filho
Pra Deus lhe dar boa sorte
Às vezes sai tão feliz
E se encontra com a morte.
21
E a família enlutada
Chorando como criança
Pelo seu ente querido
Nunca que sai da lembrança
Mais como são muito humildes
Não estão querendo vingança
22
Francisco quando morria
O sangue jorrava tanto
Todos comparavam bem
Como fosse a mártir santo
A tristeza da família
Que ficaram em grande pranto.
23
Foi logo a celebração
Da missa de corpo presente
Foi toda a missa filmada
Pois compareceu muita gente
Foi pra ficar de lembrança
Pra amigo, irmão e parente.
24
Mãe, quer ver a ultima vez
Seu filho. aqui no caixão
Precisa de fazer fýla
Pois é grande a multidão
Cada um fica em lembrança
Dentro do seu coração.
25
Filho: Adeus minha mãe querida
Que está aqui do meu lado
Oh meu pai reze por mim
Para o perdão dos pecados
Os anjos me acompanhem
Quando eu for sepultado.
26
Eu dou adeus a Francisco
Homem da sociedade
Pra seus amigos e parentes
Era um exemplo de bondade
E deixou pra todos nós
Recordação e saudade.
27
Eu digo adeus a Francisco
Que já dorme o eterno sono
Sua taberna chorando
Pela morte seu dono
E o seu amor reclamando
Que ficou no abandono.
TRÊS VÍTIMAS DA FATALIDADE
01
Oh! Bom Jesus inspirai-me
Ciência e tranqüilidade
Pra falar de um ocorrido
Eu peço a Deus de bondade
Um caso triste e sinistro
Que deu-se em nossa cidade
02
Esta história em que falo
A Jesus faço uma prece
O que acontece à família
Se pensar bem esmorece
Três mortes rapidamente
É triste pra quem conhece
03
O homem nasce e não sabe
Qual é o destino da sorte
Fica gozando a vida
Em uma elegância forte
Sai de casa tão feliz
E se encontra com a morte.
04
José Osmilton Albuquerque
Que daqui tinha saído
No estado do Pará
De amigos bem conhecido
Recebia um telegrama
Que o pai tinha falecido.
05
Cinco e meia da manhã
Daquele dia marcado
José Osmilton chegando
Por todos foi abraçado
Vendo seu pai no caixão
E sua mãe chorando ao lado
06
Às nove horas do dia
Foi o seu sepultamento
Como era muito querido
Foi grande o acompanhamento
Sua família enlutada
Foi muito choro e lamento.
07
José Osmilton e Fábio Júnior
Depois saíram em passeio
Em uma moto eles dois
Viajavam sem receio.
E não sabiam coitados
Que a morte estava no meio.
08
Na churrascaria, a Toca
E uma mangueira sombreada
Em um alto perigoso
Na volta de uma estrada
Foram pegar a mão deles
Vinha um carro em disparada.
09
Não puderam se desviar
Pois vinham do mesmo lado
José Osmilton ficou logo
Com o crânio fraturado
A vinte metros Fábio Júnior
Caiu dentro de um cercado.
10
Não terremos João Lúcio
Se hospedava um pessoal
Que os chamam de galego
Um povo muito legal
Foi quem socorreu as vitimas
Levando-as ao hospital.
11
Quando os galegos chegaram
Que os viraýn desmaiados
Com distancia estava a moto
Com o chassi todo quebrado
Vamos socorrer as vítimas
Pode até dar resultado.
12
Deixemos aqui as vitimas
Cumprindo a sua sorte
Todos dois passando mal
Demolido seu transporte
Vamos falar em seu pai
Sua vida e sua morte.
13
Francisco Farias Albuquerque
Seu nome desde criança
Casado tinha dez fýlhos
Criou com perseverança
Ele era bem conhecido
Pelo nome de Chico França
14
Na seca de cinqüenta e oito
Ele foi ao maranhão
Junto com sua família
Estavam com precisão
Para criar os seus filhos
E cumprir sua missão.
15
Veio embora do Maranhão
Quando a crise passou
Depois foi morar na Prata
Onde muito trabalhou
Finalmente em muitos lugares
O Chico França morou.
16
Também morou no Cambota
Nas terras de Aloísio
Lá ele sempre dizia
Eu estava sem juízo
Vou-me embora daqui
Falar verdade é preciso.
17
Quando saiu do Cambota
Veio pra Prata de novo
Vou morar aqui na rua
Vou educar o meu povo
Depois vou morar na Cruz
Qualquer negócio eu resolvo.
18
Na Cruz comprou uma casa
Onde fez sua morada
Estava vivendo bem
Com a família criada
Mas o homem -faz um plano
E sua sentença é marcada.
19
Mil novecentos e trinta e dois
Foi o ano em que ele nasceu
Em outubro de noventa e sete
Foi quando ele adoeceu
E no dia vinte e quatro
Do mesmo mês faleceu.
20
Tinha 65 anos
Quando fez sua partida
Deixando filhos e netos
E sua esposa querida
Veio a morte de repente
Cortou-lhe o fio da vida
21
Deixando aqui Francisco
Que já está sepultado
Vamos falar em seus filhos
Que foram acidentados
Como foram suas sentenças
e Jesus tinha marcado.
22
José Osmilton e Fábio Júnior
Ambos estavam muito mal
Como não tinha outro jeito
Foram pra o nosso hospital
Osmilton estava pior
Levaram logo a Sobral.
23
Fabio foi a Fortaleza
Era julgado o mais forte
Também precisava ver
Como era sua sorte
Lá ele ficou no balão
Só entre a vida e a morte.
24
Deixemos o Fábio Júnior
Com a vida no balão
A primeira vez que falou
Disse: cadê meu irmão?
Disseram está em Sobral
Só vivo o seu coração.
25
Ficou naquela masmorra
Já sem força e sem movimento
Sem pai e sem o irmão
Sofrendo aquele tormento
Não podia resistir
Era ande o ferimento.
26
Falemos em José Osmilton
Que de Sobral tinha chegado
O leitor deve lembrar
Tinha o crânio fraturado
Três dias depois do pai
Foi o filho sepultado.
27
Dona Maria Socorro
Chorava de aflição
Por seu esposo e seus filhos
Partia seu coração
Quando completava um mês
Chegava outro caixão.
28
Este caixão que chegava
Trazia seu filho querido
A sua mãe pesarosa
Aumentou o seu gemido
Já eram dois filhos mortos
E também o seu marido.
29
Morreram o pai e dois filhos
Assim sem ser esperado
O pai atrás de recursos
Pra ser bem remediado
Com os filhos foi diferente
Morreram atropelado.
30
Francisco e seus dois filhos
Peçamos a Deus perdão
Na missa de sétimo dia
E nesta celebração
Estamos pedindo e rogando
Deus Ihes dê a salvação.
31
Para a sua pobre mãe
Com os filhos peço paz
Sofredores derramando
Os prantos sentimentais
Sei que os irmãos também sentem
Mais quem é mãe sente mais.
32
Acabei minha história
Não vou dizer que é legal
Todos ainda lamentam
O destino que foi fatal
Naquela grande aflição
Indagou por seu irmão
O Fábio no hospital.
José Osmilton faleceu
O seu velho pai também
Seu irmão Fábio Junior
É a sorte que eles têm
Deus te dê a Salvação
Oh! Santo Deus de Abraão
São Francisco diz amém.
Saíram passando bem
Acabou no desespero
Na volta daquela estrada
Tinha um despenhadeiro
0 carro pegou os dois
Sem salvar o companheiro.
UMA VÍTIMA SOFREDORA
01
Entre lágrimas e prantos
Jesus conceda esta glória
De narrar o sofrimento
Quero contar esta história
Antônio Braga o sofredor
Foi ele quem me contou
E eu guardei na memória.
02
Oh! bom Jesus inspira-me
Pra escrever um poema
Pedindo ao Deus de bondade
Pra mudar o meu sistema
Quero falar de Antônio Braga
Com quem se deu o problema
03
O homem nasce e não sabe
Qual é o destino da sorte
E cheio de inteligência
E se torna rijo e forte
Às vezes em busca da vida
Se encontra com a morte.
04
Foi o que se deu com Antônio Braga
De São Paulo foi chegado
E lá na Lagoa Velha
Inda não tinha visitado
Saiu numa bicicleta
No caminho foi esmagado.
05
De longe avistei o carro
Eu peguei a minha mão
Mais é que ele vinha
Nesta mesma direção
Com cinco metros de distancia
Ele me jogou no chão.
06
O Jonas chegou e disse
Vou tirar ele pra fora
E disse ao motorista
Você vai já nesta hora
Levar ele pra Sobral
Que ele está de pior.
07
Ainda socorreu a vitima
Levou para o hospital
Ia já muito doente
Que ia passando mal
E chegou lá e me jogou
Como se fosse um animal.
08
Ainda no mesmo carro
Ao hospital foi levado
Está sobrando, retirar
Parando pelo caminho
Como fosse embriagado
Sem ninguém pra me olhar
Pois inspirava cuidado.
09
Quando eu cheguei em Sobral
Cheio de amargura e dor
Só tinha os enfermeiros
Tava faltando o doutor
Não tinha um conhecido
Pra me fazer um favor.
10
Eu ai fiquei jogado
Como fosse um bicho bruto
Desprezado dos amigos
Em viver absoluto
Os meus filho tão distante
De casa não vejo um vulto.
11
Quando chegou o doutor
Eu fui logo examinado
A magoou minha dores
Não vendo nada quebrado
Volte vá tomar mastruz
Que vai ficar melhorado.
12
Voltei fiquei numa cama
Cada dia mais doente
As dores eram tão grandes
Que eu ficava impaciente
De me acabar numa hora
Eu tinha na minha mente.
13
Passei mais de 15 dias
Tomando leite com mastruz
Quando chegou uma mulher
Foi mandada de Jesus
Nós vamos a Fortaleza
Vamos sair desta cruz
14
Chegamos em Fortaleza
Eu fiquei mais animado
O médico bateu raio X
Pois tinha um osso quebrado
E a omoplata também tinha
Um osso bem desligado.
15
Marcaram a cirurgia
Pra um dia de sexta-feira
Ai furaram minha perna
Como quem fura madeira
As dores foram tão grandes
Que eu disse frases grosseira
16
E lá daquele suplício
Com 15 dias fui brado
Me botaram em uma mesa
Foi sem ser anestesiado
Puxaram em minha perna
Pra o osso ser colocado.
17
De dores ninguém não morre
Se não eu tinha morrido
Não sei se gritei muito
Ou foi grande o alarido
Acordei estava engessado
Depois chegou o sentido.
18
Viagem eu tenho feito muita
Mais eu só ando é deitado
É uma quintura infernal
E não posso ficar sentado
Lutando pela saúde
Ainda não tem resultado.
19
Metido dentro de um gesso
Passo a noite imaginando
De amigo tenho um palito
Pra eu ficar me coçando
E um suspiro de dor
E as lágrimas de vez em quando.
20
A minha amiga é a cama
Ao lado um ventilador
Me suspendo com meus braços
Pra aliviar o calor
Mais vivo em engano
Pois não aplaca minha dor.
21
As minha horas alegres
Parece neo ser vivida
O mal que fizeram a mim
Minha alma fica sentida
E quem fez a caridade
Nunca vai ser esquecida
22
A casa que estou nela
E pro lado que fica a frente
E calma e não corre vento
Porque é para o poente
As quatro horas da tarde
Eu acho que é muito quente.
23
Eu penso na mocidade
Do tempo que me foi dado
E hoje aqui neste leito
Eu já me sinto cansado
Imagino nas horas tristes
Quando eu fui acidentado.
24
De lá eu saí chorando
Era grande o sofrimento
Fazendo promessa aos santos
Para me dar um alento
No meio desta aflição
Recordava os bons momento.
25
Veja como é a sorte
Agora estou melhorado
A 25 de agosto
Volto a ser examinado
A custa de uma mulher
Que vive sempre ao meu lado.
26
Esta mulher que eu falo
Pertence a gente nobre
E política decidida
Um eleitor não descobre
Protege o abandonado
É caritativa dos pobre.
27
Muito obrigado meu Deus
Que deste memória assim
O meu nome é Antônio
Um escritor tão ruim
O outro Antonio também
Foi o que falou pra mim.
28
Já findei o meu poema
Obrigado meu Senhor
Pedindo paz e perdão
Também pra meu agressor
Jesus, esqueceis as mágoas
Desde pobre sofredor.
UM POEMA ACIDENTAL
01
Eu peço a Jesus divino
Minha memória e clareza
Pra contar de um acidente
Que se deu em Fortaleza
Um caso triste da vida
Que foi com toda certeza.
02
A gente nasce e não sabe
Qual destino da sorte
Trabalha sua vida toda
Enfrentando um duro corte
Sai de casa tão feliz
E se encontra com a morte.
03
Maria Estela de Sousa
E seu marido e companheiro
Viajava bem tranqüila
Pra tirar o seu dinheiro
Quando menos esperava
Foi vítima de um motoqueiro.
04
Ao passar de uma pista
Ele em sua mão pegava
Livrou ela de um carro
Que vinha em disparada
Quando sentiu de suas mãos
Ela foi arrebatada.
05
Estela caiu no chão
A moto pra outro lado
Ele caso muito leve
Ela inspirava cuidado
Estela ficou desmaiada
Tinha o crânio fraturado.
06
Mas oh, que grande aflição
Nesta hora este casal
Seu esposo muito aflito
Estela passando mal
Por milagre socorreram
Levaram ao hospital.
07
Ficou lá no hospital
Sem ser muito atendida
O pobre sempre é assim
Não tem peso e nem medida
Veio a morte de repente
Cortou-lhe o fio da vida.
08
No dia três de outubro
Que fez esta caminhada
Quando foi no dia quatro
No hospital internada
E chegou o dia cinco
Já estava sepultada.
09
A morte é sem piedade
Mata menino e rapaz
Como não tira sentença
Mata filho e mata pais
Também se deu com Estela
Foi ao mundo dos mortais.
10
Pesa-me pelos seus dez filhos
Toda família enlutada
E rezem por mamãezinha
O que tem mãe estimada
Porque quem tem mãe tem tudo
Quem não tem mãe não tem nada.
11
Adeus meu amigo Paulo
Como é que sofre este tanto
Estou pedindo a Jesus
Pra enxugar os teus prantos
O mesmo se deu comigo
Antônio José dos Santos.
VIDA E MORTE DE FEITOSA
01
Vou escrever um poema
Vida e morte de Feitosa
Um matuto inteligente
Cantava e fazia glosa
Mais em suas cantorias
O povo só conhecia
Por cantor Abel Tiadosa
02
Cantava e era aplaudido
Em toda essa ribeira
E era bem conhecido
Não tinha frase grosseira
De tudo ele inventava
Que ele também cantava
Uma velha cachimbeira.
03
Cantava muito e gostava
De um aperitivo tomar
Era muito inteligente
E não sabia nem o A
Às vezes em cantoria
Era o que muito dizia
G. H. O P. A. PÁ.
04
Tocava bem sua viola
Nas noites de cantoria
E quando via dinheiro
Despejava poesia
Seu instrumento afinado
Um baião tão retimado
Que acordava quem dormia.
05
E era muito querido
Na baixa sociedade
Nasceu em Lagoa de Fora
Tinha 72 de idade
Todos lhe queriam bem
Morava aqui no Belém
Cruz era sua cidade.
06
Possuía uma mulher
E foi um bom companheiro
Quando mais Ihe queria bem
Ficou viúvo ligeiro
E ficou um andarilho
E não possuía um filho
Pra dele ser o herdeiro.
07
A treze de fevereiro
Ele pegou um transporte
Pra tirar o seu dinheiro
Coitado não teve sorte
Foi a quatorze do mês
Coitadinho desta vez
Se encontrou com a morte.
08
Antes de terminar a vida
Ainda brincou mascarado
Cantou muito com o boi
Pois gostava de reisado
Reiseiro desde criança
E deixou esta lembrança
Foi morar noutro reinado.
09
Mais o que é bom dura pouco
Diz o adágio em secreta
Pra seu irmão e sobrinho
Que gostava do poeta
Dê um aperto de mão
Ficando no coração
Os traços de uma seta.
10
A treze de fevereiro
Deixou suas cantorias
Foi o dia de sua morte
As oito horas do dia
Bebeu, cumpriu seu destino
Ta no céu cantando hino
Entre Jesus e Maria.
11
De Abel foi sua história
Vida e morte também
A treze de fevereiro
Ele saiu do Belém
Foi no carro do Zé Nel
E foi morar lá no céu
Ao anjos dizendo amém.
SANDRA INFELIZ SEM SORTE
01
Oh! bom Jesus inspirai-me
Minha memória cansada
Pra falar em José Flávio
Alma perversa e malvada
Também de Maria Sandra
Por ele assassinada.
02
Na cidade de Araraú
Na beira de uma praia
Com bonitos coqueiros
Onde canta a jandaia
Lá foi a morte se Sandra
Nesse lugar Marambaia.
03
Esta história que falo
É uma grande narração
Maria Sandra Vasconcelos
Uma filha de criação
Eram seus pais adotivos
Expedita e Sebastião.
04
Porém os pais de Sandra
Sentiam necessidade
E também de criação
Eles tinham dificuldade
Deu a esse casal pra criar
Honesto bom de verdade.
05
Sandra tinha os irmãos
Negra, Quito e Luiz
Até aos doze anos
Vivia muito feliz
Depois lhe veio a derrota
Mas foi a sorte que quis.
06
Os seus pais lhe deram estudo
Amor e compreensão
Ela gostava de brincar
E tinha um bom coração
Depois o leitor vai ver
Como fez a ingratidão.
07
Sandra vivia bem
Dizia mesmo consigo
Era alegre em seu viver
Tinha amiga e amigo
E nunca imaginou
Que depois vinha castigo.
08
Com quinze anos de idade
Era bem com seus vizinhos
E conheceu José Flávio
Apelido coelhinho
Sua vida modificou
Até dos pais o carinho.
09
Por esse tal coelhinho
Ela paixão já sentia
E nessas mãos tão perversas
Há tempo que ela sofria
E Sandra silenciosa
Nada aos seus pais dizia.
10
Com ponta de cigarro
Os braços dela queimava
As dores das queimaduras
A pobre Sandra chorava
Vencida pelo amor
E depois se conformava.
11
Até que saiu de casa
Com coelhinho de lado
Sua mãe ficou aflita
Foi saber o resultado
E soube que ela saiu
Com esse tal namorado.
12
Aí deu meio dia
Ela não tinha chegado
Sua mãe muito aflita
E seu pai aperreado
Nesse dia não voltou
Ficando com o namorado.
13
Dona Expedita queria
Com o sujeito falar
A filha estava teimosa
E vendo a filha mudar
Não era como antes
Levava o tempo a teimar.
14
A dezenove de março
Do ano noventa e três
A Sandra foi à praia
Com ele a primeira vez
Depois ficou morando
Com ele uns quatro mês.
15
Ela não chegando em casa
Sua mãe foi procurar
Procurando sua filha
Levava o tempo a chorar
Queria-lhe muito bem
Pois deus trabalho a criar.
16
Passando uns quatro dias
Sandra com os pais veio falar
Que o tal de coelhinho
Com ela queria casar
E também em sua casa
Com eles queria morar.
17
Aí falou direto
Com o velho Sebastião
Não quero este casamento
Que ele não tem condição
Traída pelo amor
Não atendeu seu pai, não.
18
Passando uns quatro meses
Que vivia nesta lida
De tanto se humilhar
Já estava arrependida
Disse ela: estou maltratada
Eu vou deixar esta vida.
19
Engolir cigarro aceso
Ele com ela fazia
E com a boca queimada
Ela aos pais não dizia
Mas bulir com seu amor
Ela nunca pretendia.
20
Deu-lhe uma surra tão grande
Que ela ficou gemendo
Pelo grande alarme
A família ficou sabendo
Quando quiseram pegar ele
O monstro saiu correndo.
21
Ele lhe judiava tanto
Queimava até suas mãos
Só vivia maconhado
Fazendo judiação
Não contava a ninguém
Com medo de seus irmãos.
22
Pois um vizinho contou
O que estava se passando
E ficou com muita pena
Porque viu ela apanhando
E sua mãe perguntou
E ela acabou negando.
23
Por causa desses maltrato
Sua mãe lhe perguntava
Porque não largava ele
Bons conselhos ela dava
Por sua grande amizade
Às vezes Sandra chorava.
24
Aí Sandra resolveu
Voltar pra sua morada
Porque o seu amante
Fez suas roupas rasgadas
Já tinha comprado gás
Pra matar ela queimada.
25
Aí os seus vizinhos
Com os gritos foram ver
Arrebentaram a porta
Pois Sandra ia morrer
Toda banhada de gás
Mandaram ela correr.
26
Correr pra casa dos pais
Ele ficou enfurecido
A coitadinha só trazia
No corpo o ensopado vestido
Dizendo pra sua mãe:
Deixei aquele bandido.
27
A família satisfeita
Pensando que fosse verdade
Todos diziam que Sandra
Tinha acabado a amizade
Mais isso durou bem pouco
Que não foi realidade.
28
Ficou perseguindo ela
Sandra, estou te amando
Quero contigo viver
Pois passo a noite sonhando
Sonhei contigo ao meu lado
Depois acordei chorando.
29
Ainda chegou a morar
Com esses velhos sofridos
Dizendo que se casava
E seria um bom marido
Tornou-se muito pior
Esse sujeito bandido.
30
Maltratava os pobres velhos
Faltava com o respeito
Desafiava pra briga
Sendo o velho tão direito
Vou chamar a polícia
Morar aqui não aceito.
31
Expulsou ele pra fora
Ele ficou revoltado
Não podendo agüentar
Pobre velho, adoentado
Disse pra alguém: mato Sandra
Pro "vei" fýcar sossegado.
32
O velho chamava a polícia
Só era aquela agonia
Quando ele ouvia falar
Aí logo ele corria
E não ficavam sabendo
Onde ele se escondia.
33
E governada por ele
Fazendo o que ele queria
Apanhava como animal
Até roubo ela fazia
Coitadinha era obrigada
Fazer o que não podia
34
Não acompanhando ele
Ele ficava xingando.
Os pobres velhos coitados
Que ficavam comentando
Por causa de sua filha
Eles ficavam chorando.
35
Um dia falou pra Sandra
Esses velhos é pra matar
Quero as chaves do mercado
Que é preciso nós roubar
Aí foi que a pobre Sandra
Pensou em se suicidar.
36
Sandra furou a garganta
E caiu lá para um canto
Ele ficou muito aflito
E dando uma de santo
Levou-a para o hospital
Fazendo que estava em pranto.
37
Levou Sandra ao hospital
Fingindo Ihe querer bem
Dizendo se ela morresse
Ele morria também
Até falando pra ela
Que não dissesse a ninguém.
38
Melhorou desta crise
Ele ficou iludindo
Pra ir morar com ele
E de bonzinho se fingindo
Com medo dos velhos não morrer
Mais ele saiu sorrindo.
39
Obrigou-se a morar com ele
E ele morar com ela
Em uma casinha apertada
Só uma porta e uma janela
Essa casinha que falo
Era vizinho ao pai dela.
40
Só vivia na maconha
A companheira não liga
Tinha ciúmes dela
Até com suas amigas
Se ela falasse com uma
À noite era uma briga.
41
Quando ele batia em Sandra
Para ele era um prazer
Sua mãe lhe pedia
Ainda vendo ele bater
A pobre mãe implorava
P'ra não ver ela sofrer.
42
Ele disse: - Eu vou embora
Deixar sua mãe sossegada
Já disse aos meus amigos
Que você não vale nada
Mais antes de eu ir embora
Dou-te uma surra danada.
43
Tirava dinheiro dos pais
Às vezes sendo roubado
Pra comprar de cigarros
Para esse desgraçado
Ele dava em recompensa
Os braços dela queimados.
44
E essa pobre Sandra
Era presa e torturada
E ele dizia pra ela
Você não vá dizer nada
Se o Luiz César souber
Pode vir com zoada.
45
No ano noventa e quatro
Aos vinte e oito de janeiro
Coelhinho foi à praia
Com Sandra e um companheiro
Lá foi o fim de Sandra
O seu suspiro derradeiro
46
Sandra chegando na praia
Ouviu um canto estridente
Uma jandaia cantava
Um canto tão diferente
Na terra natal de Sandra
Ia morrer inocente.
47
Naquela hora tão triste
Onde Sandra foi levada
Nos igarapés esquisitos
Onde foi assassinada
Com oito golpes de faca
E também estrangulada.
48
Foi no silêncio da noite
Naquela mata escabrosa
Ele não sentia remorsos
Naquelas horas assombrosas
Quebrou dela pés e mãos
Oh! Que morte dolorosa.
49
Na hora de sua morte
Naquela gruta infeliz
Como quem estava sonhando
Quis ver o irmão Luiz
Ainda depois de morta
O monstro fez o que quis
50
A vinte e oito de janeiro
Sandra enfrentava este corte
Já no dia vinte e nove
Essa infeliz sem sorte
A uma da madrugada
Foi a hora de sua morte
51
Já no dia vinte e nove
Por um pescador encontrada
O pequeno corpo de Sandra
Achou muito torturada
Viu por sua palidez
Tinha sido judiada
52
O pescador foi avisar
Bem ligeiro ao seu patrão
Que era o senhor Satiro
Da Barrinha um cidadão
Mais não conheceram bem
Que ela perdeu a feição.
53
Também foram avisar
Lá um senhor que sabia
Que era o vendedor Colombo
Mais ou menos conhecia
Como era a vida de Sandra
E o tanto que ela sofria.
54
O monstro ainda bebia
Lá pelos pés do balcão
Quando chegou o Colombo
Lhe dando voz de prisão
Ele ainda tentou fugir
Nesta mesma ocasião.
55
Levou-o para o Acaraú
Esse monstro assassino
Que matou a pobre Sandra
Que teve um triste destino
Mais ele é quem vai pagar
Para o santo pai divino.
56
Ele confessou o crime
Foi obrigado a contar
Como foi a morte dela
Quando quis a judiar
Como foi que pegou ela
E jogou-a dentro do mar.
57
Disse que apertou a garganta
Até ela ficar calada
Depois se aproveitou dela
Quando já era finada
Deu-lhe depois oito facadas
Deixando-a estrangulada.
58
Ele há de se lembrar
Agora lá na prisão
Do quanto ela passou fome
Às vezes roubando o pão
Sendo obrigada por ele
Que pagou com ingratidão.
59
Esse carrasco pegou
A pobre Sandra, coitada
Eram grandes as queimaduras
Não se contavam as pancadas
Pra ser um mártir na cruz
Faltou ser crucificada.
60
Naquela vida tão triste
Foram tantos desenganos
Só faltavam mais seis dias
Para os seus dezoito anos
Mais morreu a pobre Sandra
Pelas mãos de um tirano.
61
Já findei a minha história
De Sandra martirizada
Mesmo molhada com gás
Livrou-se de ser queimada
Mas sua sorte mesquinha
Era ser assassinada.
62
A vida de Sandra foi
Narrada por mim agora
Tanto amor que ela tinha
O monstro matou na hora
Não pode se defender
Indo Sandra falecer
Os seus pais ainda choram
Já findei o meu poema
O amor que tem maldade
Sendo assim deste jeito
É morrer pela amizade
De certo que não convém
O amor sem querer bem
Sofrendo barbaridade
Sofreu muito a pobre Sandra
Amou sem ser amada
Não teve sorte na vida
Tinha que ser torturada
O monstro está na prisão
Sandra na mansão sagrada.

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