sexta-feira, 1 de junho de 2007

É QUEM TRABALHA FAZ TUDO E NÃO TEM NADA - Manoel Edésio dos Santos

É QUEM TRABALHA FAZ TUDO E NÃO TEM NADA
COMO SOFRE UM POBRE CAMPONÊS.

O homem do campo é quem trabalha
Juntamente com sua companheira
No roçado, vazante e capoeira
Nem com isso ninguém não lhe atrapalha
A inflação para o pobre é uma cangalha
Que ao homem do campo não dar vez
Sendo ele humilde e bem Cortez
Mas a vida no pobre é atrasada
É quem trabalha faz tudo e não tem nada
Como sofre um pobre camponês.


E quem planta mandioca, feijão e milho
Arroz, algodão, trigo e macaxeira
Cana, batata, são muitas as fruteiras
Com a mulher eles e os filhos
Na luta cansados neste trilho
Mesmo assim enfrenta por sua vez
Trabalha dia, semana, ano e mês
Nas terras que ainda não são bem preparadas
É quem trabalha faz tudo e não tem nada
Como sofre um pobre camponês.


As mulheres trabalham e fazem renda
E os homens se empenham no roçado
Alguns também lutam com o gado
Sofrendo em casa de fazenda
Muitos dias não tem nem a merenda
De sorte não tira uma reis
Nem que trabalhe quarenta dias no mês
De lutar vive de pernas enfadadas
É quem trabalha faz tudo e não tem nada
Como sofre um pobre camponês.


Sendo do campo sofre até criança
Moça, rapaz e também mulher casada
Além da pobreza não tem nada
Desespera-se e não tem perseverança
Quando tem um pouco de esperança
Passa logo com muita rapidez
É o que eu tenho a dizer para vocês.
Que o pobre tem a vida aperreada
É quem trabalha faz tudo e não tem nada
Como sofre um pobre camponês.


Nós sofremos por causa do sistema
Alguém diz que a causa é a sequidão
Que aflagela a praia e o sertão
Tanta que chove e não resolve o problema
O pobre é assim mesmo – panema
Embora seja um bom freguês
O patrão não vende fiado nem um mês
Ele vive de cabeça pesada
É quem trabalha faz tudo e não tem nada
Como sofre um pobre camponês.


O pobre sem terra e sem patrão
Sem salário e sem ter uma segurança
E só resta um pouco de esperança
Em Deus pai protetor desta nação
Pois é ele que garante o nosso pão
Para mim e para todos vocês
O pobre sempre usa de acanhês
E tem sempre a vida complicada
É quem trabalha faz tudo e não tem nada
Como sofre um pobre camponês.


O pobre homem agricultor
Não tem médico quando adoece
Na verdade não tem o que merece
Só porque ninguém lhe dá valor
Ah se eu fosse governador
A reforma agrária vinha antes de um mês
Eu repartia as terras com vocês
Embora que elas tivessem cercadas
É quem trabalha faz tudo e não tem nada
Como sofre um pobre camponês.


As mulheres feiteiras de chapéu
Não ganham nem para comprar um vestido
E o ganho mesquinho do marido
Ainda tem quem diga que é um céu
Para os pobres o sofrimento é cruel
Porque ele não tem a altivez
É quem merece a coroa de reis
Porque a nação por eles é sustentada
É quem trabalha faz tudo e não tem nada
Como sofre um pobre camponês.


Vamos ver se consegue a liberdade
Acabando com todas as injustiças
Abatendo dos ricos as cobiças
Fazendo com todos amizade
Trabalhando com muita seriedade
É o que eu espero de vocês
Se unirmos todos de uma só vez
Certamente enfrentamos a parada
É quem trabalha faz tudo e não tem nada
Como sofre um pobre camponês.


Sai a mulher os filhos e o marido
A trabalhar todo dia no roçado
Chega em casa com fome e enfadado
Os filhos que ficou de fraco de fraco estão caído
Chorando, sem roupa, quase despido
E os pais vendo aquela nudez
E pro feijão ainda falta mais de um mês
Chega a noite e sai de madrugada
É quem trabalha faz tudo e não tem nada
Como sofre um pobre camponês.


O tema é de Raimundo Cecília
E o autor da rima é Nelim
Veja como para o pobre é ruim
Hoje em dia para um pai de família
Sem terra, sem casa e sem mobília
Sem patrão e também sem ser freguês
Sem o ganho de um salário por mês
Sem estas coisas que foram relatadas
É quem trabalha faz tudo e não tem nada
Como sofre um pobre camponês.

Um comentário:

gorettiguerreira disse...

Maravilhoso versejar!
É mesmo assim o duro sistema poeta.
Abraços: Gorettistar