sexta-feira, 1 de junho de 2007

Trovas - José Fabião Filho


TROVAS
Tudo aquilo que se faz,
Seja na vida que for,
Sempre se faz mais perfeito,
Quando se faz por amor.
Minha filha pequenina,
Quando sorrir, de repente,
Tem toda graça divina,
Num pedacinho de gente.
As crianças ao falar,
Inventam frases tão belas,
Que a gente fica a pensar,
Que é Deus que fala por elas.
Quando os lábios não se tocam
Na hora da despedida,
São os olhos que se trocam
No momento da partida
TROVAS
Vi-te uma vez: nunca mais
De te fitar tive ensejo.
Mas, só em ver-te uma vez
Te vejo em tudo que vejo.
Amor a todos é dado,
Basta viver, simplesmente.
Mas amar e ser amado,
É sina de pouca gente.
Eu bem sei qual é a tinta
Que dás as faces mimosas;
É o carmim com que pinta
Deus nosso senhor, as rosas.
Bem feitor é sempre aquele,
Que na hora da desgraça,
Sem que ninguém dê por ele,
Se aproxima ajuda e passa.
TROVAS
Tem o mundo estradas vastas,
Estradas que não têm fim;
Mas, quanto mais tu te afastas,
Mais te aproximas de mim.
São efêmeros, comumente,
Nossos momentos felizes,
Mas no coração da gente,
Deixam profundas raízes.
O filho do carpinteiro,
O artista mais profundo,
Com, três cravos e um madeiro,
Fez a redenção do mundo.
Santo Antônio Casamenteiro,
Que já casou tanta gente,
Viveu só, morreu solteiro,
Ô santinho inteligente.
TROVAS
Infeliz de quem passa pelo mundo
Só a procura de amor, felicidade.
Ventura, gozo, não duram um segundo,
E, um século todo, dura uma saudade.
O lar da gente, feliz,
Um jardim com muita flor,
A mulher que a gente quis,
Eis da vida o próprio amor.
Lembrar o passado, é belo,
Numa música dolente,
E o ritmo, como martelo,
Malha o coração da gente.
Essa, de olhar tão profundo,
Que me faz sofrer assim,
Tem pena de todo mundo,
Só não tem pena de mim.
TROVAS
Saudade, desejo ardente,
De rever o que passou,
Depois que tudo acabou.
Muita gente que tem casa
De portentosa aparência,
Na verdade, não tem lar,
Mas apenas, residência.
Novo aumento veio agora
Dos telefones,que briga!
O assinante grita e chora,
E, santo Deus, ninguém liga.
Um pedaço de São Paulo,
Fica lá no Belenzinho.
Esse Bairro faz lembrar,
Jesus, quando pequeninho.
TROVAS
Quem quiser amar no mundo,
Comece mando o deu LAR,
Só um amor profundo ,
Justifica o verbo amar.
Não te aborreças na espera,
Se teu amor não tem dono,
Podem ser frutos no outono...
Querendo colher no outono,
Semeei na primavera...
Tu deixaste no abandono,
Um jardim a tua espera...
Vou vivendo um desafio
Entre um e outra estação,
Sem ti, o verão é frio,
Contigo, o inverno é verão!
TROVAS
Todo tesouro do mundo
Junto ao sol que tanto brilha,
Não têem o brilho profundo
Dos olhos da minha filha.
Uma canoa no rio,
Uma sardinha na brasa,
Um cobertor para o frio,
Um amor dentro de casa.
O tempo trás a fragrância
Da essência da eternidade,
Trás perfume de distância,
Trás aroma de saudade.
Esperar, angústia lenta,
Que nos faz sofrer, chorar.
Angústia maior agüenta,
Quem não tem quem esperar.
TROVAS
No céu, as nuvens brincando,
Vão formando um coração,
_ É a saudade desenhando
Teu nome na imensidão...
Minhas trovas são o espelho
Do que em minha alma se vê:
Prece, mensagem, conselho,
Que eu peço a Deus por você.
O quanto o sorriso é raro,
Comum é a dor da desgraça.
A alegria custa caro,
A tristeza vem de graça.
Não sente frio no inverno,
Quem vive com seu amor,
Se todo amor fosse terno
Não havia cobertor...
TROVAS
Cala-te, falsa esperança,
E não me engane assim,
Deixa a saudade e a lembrança,
Viverem dentro de mim.
Chuva fina faz a rosa,
Desabrochar e crescer,
Carinho é chuva gostosa,
Que faz amor reviver.
Me dissestes que és constante,
Tão constante como o mar,
Mas o mar num só instante,
Vão muitas praias beijar.
Quantas vezes nesta vida,
Nossos lábios dizem “NÃO”
Mas, em voz muito sentida,
Grita “SIM” o coração.
TROVAS
Sorriso, chave divina
Para abrir qualquer portão,
É uma arma pequenina
Para abrir o coração.
Ser disposta e prepotente,
É sinal de covardia,
O corajoso e o valente,
Nunca exibem valentia.
Coragem é desatino,
O medroso sempre diz,
Por invejar o destino
Do corajoso feliz.
A vida é um fio tão fino,
Tal qual fio de retroz,
Que a costura do destino,
O faz partir-se em seus nós.
TROVAS
Se amor é bom passatempo
Que faz o tempo passar,
O meu tempo e o teu tempo
Não vamos desperdiçar.
Na fronha do travesseiro,
Bordei o sol e a lua,
Para ser reposteiro
Da minha cabeça e a tua.
Amor, delícia divina,
Amor, ventura maior,
Prazer que ninguém ensina
E a gente sabe de cor.
Amor, dívida que a gente,
Não termina de pagar,
Por mais que dê, o que sente,
Sempre falta um juro a dar.
TROVAS
O egoísmo, em seu reinado,
Recoberto de ouro em pó,
Trás seu rei acorrentado,
A si mesmo e sempre só.
O remorso é um sentimento
Que chega tarde demais,
Chega manso, chega lento,
Não nos deixa nunca mais.
Inveja, grande pecado,
Maléfico e perigoso;
Pois faz grande o invejado,
E pequeno o invejoso.
Ah! Seca fortuna comprasse,
Nas mil compras que ela faz,
E, prazenteira, pagasse;
Um pouco de amor e paz...
TROVAS
As areias fazem dunas
Com seus minúsculos grãos,
Com migalhas de fortunas,
Salvemos nossos irmãos!
Trazemos dentro do peito,
No júri do coração,
Um juiz justo e perfeito,
Na defesa e acusação.
Ontem, passou e não volta,
Hoje, também passará,
Não importa, nada volta,
Mas o amanhã chegará.
Os dois modos diferentes,
Semeiam os semeadores,
Ou do amor trazem sementes,
Ou são do mal portadores.
TROVAS
Corre nos trilhos, ligeiro,
O trem expresso da vida,
Mal recebe o passageiro,
Toca o sinal da partida.
Solidão: dor que se cura,
Quando tentamos curar,
A mesma dor que tortura,
Outro alguém, noutro lugar!
Para esconder a verdade,
O porvir tem alto muro,
Que grande felicidade,
Não conhecer o futuro!
Deus, em muitos corações,
Plantou a flor da ilusão,
No das mães, plantou botões,
Da roseira do perdão.
TROVAS
A vitória da batalha,
Não trás eterna alegria:
O fraco, que, às vezes falha,
É vencedor noutro dia.
O forte, o grande, o importante,
Logo pode ser ninguém,
Não se esqueça: num instante,
Grandeza acaba também.
Encontramos na humildade,
Uma prova bem real,
Só é grande de verdade,
Quem não age como tal.
Dói bem mais que a punhalada
Que nos fere e nos consome,
Troca o tudo pelo nada:
Ingratidão, é o seu nome.
TROVAS
Livro: sentinela alerta
Para quem quer aprender,
Livro: és a fronteira do saber.
A espada é arma de guerra,
Que prantos e mortes trazem,
A enxada é arma da terra,
Que planta o fruto da paz.
Pecador, lembra-te disto,
Se o pecado o derrubou:
Três quedas sofreu o Cristo
E das três se levantou!
Do mundo nada se leva!
Diz quem não tem o que dar.
Quem ama o mundo e o eleva,
Tem ao mundo o que deixar!
TROVAS
A espada não vence a guerra,
A guerra não traz a paz:
Só o amor ventura encerra,
Só o amor, a paz nos traz.
O pecado sempre tem,
Um crescimento anormal,
Ao crescer, matando o bem,
Vai multiplicando o mal.
Lá vai o tempo passando,
Ligeiro no seu passar,
Parece um trem apitando,
Com vontade de chegar...
Saudade, presença amiga,
De quem, partindo, deixou
O doce manto que abriga,
Outro alguém, que aqui ficou.
TROVAS
Beijo na testa, é respeito,
Beijo no rosto é carinho,
Beijo no queixo, é desejo,
De subir mais um pouquinho.
VIDA SEM SOL
Passam dias, formam meses,
Passam meses, formam anos,
Passa em mim bem poucas vezes
Um pouco dos desenganos.
Quem já fui, e o que sou,
Nada mais resta pra mim,
Sou um morto, que a custo vou;
Com calma em busca do fim.
A vida é quem manda em si,
Em nada a quero mudar,
Se nada levo daqui,
Nada tenho pra deixar.
TROVAS
Amor, ferida de lança
Que faz a gente sangrar!
Sangra mais quem não alcança
O doce enlevo de amar.
Entre luzes, em Belém
Nasceu o santo Messias;
E o Ano Novo também,
Nasceu com mais sete dias.
Morreu um velhinho corcundo
Exausto de tanta lida,
Quando nasceu para o mundo,
Um garotinho cheio de vida.
Natal, chama com instância,
A compreensão, à humildade,
Ao amor, à tolerância,
Á paz e a fraternidade.
TROVAS
Saudade, benção divina,
Graça que Deus nos doou.
Saudade, a unir se destina,
Quem partiu a quem ficou.
Bendita seja esta terra
Que um dia nos viu nascer.
Terra bendita que encerra
Nossa glória de viver.
Adeus, lágrima que cai,
Dois prantos a soluçar:
Um chora porque se vai,
Outro chora por ficar.
Quem quiser sofrer dobrado,
Roube a paz e o amor de alguém,
Roubar é sempre pecado
E ladrão, sofre também.
TROVAS
Quem chega de olhos fechados,
Se queixando de infeliz,
Se olhasse mais para os lados
Talvez negasse o que diz!
Onde estás felicidade,
Que não te posso encontrar?
Será mentira ou verdade
Que estás com quem te quer dar?
Solidão, rua vazia;
Por onde andamos sozinhos,
Passo a passo, dia a dia,
Ferindo os pés nos espinhos.
Nasce a criança chorando
E logo aprende a sorrir.
E a vida vai apagando
Os risos do seu porvir...
TROVAS
A lágrima mais doída,
Que faz nossa alma sangrar,
É a que se trás escondida,
Com vergonha de chorar.
Quem semeia sempre colhe,
Quem planta flor colhe flor.
Mas nem sempre a gente escolhe
Boas sementes de amor.
A luz mais clara, mais pura,
Chama viva de esperança,
Só se encontra na ternura,
Dos olhos de uma criança.
Canário, preso em gaiola,
Canta alegre e come alpiste...
Quanto amor, vive de esmola
Numa prisão bem mais triste...
TROVAS
Peço a Deus no meu fadário,
Rosando as contas do terço
Que ele ponha num sacrário
A mãe que embalou meu berço...
Angústia, triste inquilina
Da casa do coração,
Não mora só, se destina
Morar junto à solidão.
Amor, é encanto, é beleza,
É luz, é sol, é calor.
É graça da natureza,
É bênção do Criador.
Ilusão, flor que se colhe
Nos jardins da fantasia,
Só é feliz quem escolhe,
Nova ilusão cada dia.
TROVAS
Conte as contas do rosário,
Conte as flores do jardim,
Conto os passos do calvário
Que se separam de mim.
Com a pena que agora escrevo
As penas do meu penar,
Chorando ainda me atrevo
Escrever o verbo amar.
São três coisas que eu queria
Nesta vida possuir:
A paz, o amor, a alegria,
E contigo, as dividir!
O amor que magoa e fere,
Que nos faz sofre, chorar,
Das outras dores difere:
Alegra a nos maltratar.
TROVAS
A medida do teu peito
Quero tomar com meus braços:
Medir com metro perfeito
E conferir com abraços.
Se existisse uma janela
Para abrir meu pensamento,
Tu virias dentro dela,
Teu rosto em todo momento.
Nem a sede, nem a fome,
Que torturam, causam dor,
Nos fere mais, nos consome,
Que a sede que vem do amor.
As nuvens fazem castelos
E nós fazemos também:
São palácios paralelos
Que vão se perdendo além.
TROVAS
Esta saudade tão fera
Que machuca e faz sofrer,
É a condequência austera,
Do que sinto por você.
A saudade, a dor, o pranto,
Que me ferem, e não têem fim,
São conseqüências do quanto,
Você importa pra mim.
O amor é como fumaça,
Envolve tudo ao seu redor:
Tonteia, asfixia e passa,
Mas quando passa é pior.
Amor, é isto, querida,
Isto apenas, e nada mais.
Duas vidas em uma vida,
E duas almas iguais.
TROVAS
Não sei porque chamam cão
A um tão fiel amigo,
Quando chamamos de irmão
A quem é nosso inimigo.
Eu queria ter dez filhos,
Quinze, vinte, trinta ou cem:
Contando que os meus cem filhos
Fossem teus filhos também.
Quando um homem vai casar,
Nesse dia, todo dia,
Devia pôr-se a dobrar,
Os sinos da freguesia...
Longe de ti, a vida é um mar bravio,
Um fragor retumbante, um escarcéu,
Junto de ti, é leito alvo e macio,
Onde a terra parece o próprio céu...
TROVAS
A dor de uma despedida,
É profunda e tão atroz,
Que parece a própria vida
Dando adeus dentro de nós.
Mentir trás mal resultado,
Você já sabe o porquê.
Mesmo falando a verdade
Ninguém confia em você.
Não sei porque o adeus
Que envolve doce ternura,
Contendo o nome de Deus,
Encerra tanta amargura.
Se por acaso algum dia...
Você perdeu a esperança...
Vá buscá-la bem no fundo...
Dos olhos de uma criança!
TROVAS
É triste naturalmente,
Ser planta e não ter flor.
Porém, mais triste é ser gente,
Ter alma e não ter amor...
Não foi eu, sinceramente,
Quem te ensinou a pescar.
Pecado nasce com a gente,
Não é preciso ensinar...
Teu vestido, minha prima,
Tem muito exagero, eu acho.
É baixo demais em cima,
É alto demais em baixo.
Nas mulheres, achei sempre,
Estranha contradição.
Quanto mais elas nos querem,
Mais trabalho elas nos dão.
TROVAS
Não há graça semelhante,
A de quem, na vida alcança,
Ter um corpo de gigante,
E ter alma de criança.
Tudo que é belo na vida,
A fé, o amor e a esperança,
A gente encontra contida,
Nos olhos de uma criança.
No deserto desta vida
Há um oásis ao luar.
Não é miragem perdida,
Para quem o quer achar.
A vida é rua agitada,
Com cruzamento e farol.
Feia, suja, mal calçada,
Porém, banhada de sol.
TROVAS
A terra enorme se expande,
Neste infinito do anil.
Deus fez a terra tão grande
Para caber o Brasil.
A vida, pelos caminhos pedregosos,
Não diz rosas sem espinhos,
Mas diz espinhos sem rosas.
Velhice, não é doença,
Todos sabem muito bem,
Mas, enquanto mais descrença;
Mais depressa ela nos vem.
Escrevem felicidade
Com dez letras, porquê?
Escrevo a mesma palavra
Com quatro letras, você!
TROVAS
A vaidade em dose certa,
É um remédio, que faz bem:
Dentro em nós, ela desperta
A ânsia de ser alguém.
A velhice é calmaria,
Mocidade é furacão.
Quem cem anos não daria,
Para sofrer no tufão?
Ser bom é amar, dar carinho,
Dar um conselho, um sorriso.
Dividir o pão e o vinho,
Sem pensar no paraíso.
TROVAS
Para a renúncia perfeita,
Sem revolta e sem rancor,
Só existe uma receita:
Dá ao mundo o teu amor.
Se me perguntas se te amo,
Não sei, porque fico mudo.
Há frases que nada dizem,
E silêncios que dizem tudo.
Estou zangado contigo
E não quero mais te ver.
Os beijos que te devolver.
Quem olha o firmamento, o infinitivo,
Vê, que no céu azul, primaveril,
Deus usou o colorido mais bonito
Na pintura do céu do meu Brasil

Nenhum comentário: