sexta-feira, 1 de junho de 2007

Jose de Farias Menezes - Sonetos

- SONETOS

Marcas da vida

Essas rugas que entrelaçam minha face,
Não são frutos duma longa idade,
São as somas dos desenganos com a saudade,
E o símbolo da angústia que renasce.

Choraria o mundo se adivinhasse,
O desgosto mudo que minh’alma invade,
Por tantas frustrações e adversidade,
Que me impediram que jamais sonhasse.

Na juventude andei sempre à procura,
Sonhando encontrar paz e ventura,
Mas só sonhos vãos, não foi bastante.

No silêncio da noite fico a meditar,
Na desesperança que me faz chorar,
Martelando minha alma a todo instante.


Desilusões da vida

Não foi essa a vida que sonhei
Nos primeiros sonhos da mais tenra idade,
Um Éden envolto em felicidade,
Onde bem pouco tempo eu me deleitei.

No cotidiano da vida, cedo observei,
Que me fugiram o verdor da mocidade,
Todo encanto, beleza e suavidade,
Nenhum sonho eu realizei.

Foram-se todas aquelas alegrias,
Eram apenas puras fantasias,
Belas lendas de minha ingenuidade.

Que me ensinaram a gostar da vida,
Numa fase d’alma adormecida,
Que hoje desperta pra realidade.


Ansiedades mortas

Na luta intensa pra sobreviver
Galguei o cume mais alto do fracasso,
Muito obrigado a Deus posso dizer,
Por estes rudes versos que ainda faço.

Até mesmo a respirar sinto prazer
Sinto fugir a angústia e o cansaço,
A brisa amena me anima a reviver,
Ocultando a tristeza a cada passo.


Pois jamais curtirei coisas banais
Nem horas idas que não voltam mais:
Só sonho envolto de realidade.

Só quero reviver belas paisagens
Não mais refletir tristes imagens,
Só choro hoje, apenas por saudade.


Tristes lembranças de José Arteiro

De gozos e venturas sempre foste isento
Pobre humilhado, diminuto porte,
Mas demonstrava ser altivo e forte,
Sobreviveu com ânimo e com talento.

Não consigo esquecer um só momento
Do terno mano, a lúgubre e trágica morte,
Por capricho talvez da ingrata sorte,
Finou-se vítima de afogamento.

Quem viu teu corpo inerte e deformado,
Percebeu o quanto foste desprezado,
Té nas horas finais de tua vida.

Faço votos a Deus com confiança,
Que no reino da bem-aventurança,
Tua alma terá boa acolhida.

Sonhos frustrados

Recordo as noites que me deleitei
Aos rumores dos sonhos de magia,
Tanto encanto, beleza e harmonia,
Sonhos tão lindos que jamais sonhei.

No mais alto nível de enlevo, sempre despertei,
Maravilhado de pura fantasia,
Por tudo que té em sonho o mundo me oferecia,
Mas, só desenganos e desilusões galguei.

Não mais sonhos, nem enganos: só saudade
Monótono eu viso o elo da atrocidade,
Que me prendia num vazio só de ilusões.

Quem me dera apenas sonhar realidade
Num mundo amplo, isento de maldade,
Longe de insídias e decepções.


Sonhos ilusórios

Tive sonhos banais na mocidade
Que me ofertavam um mundo diferente,
Um lago imenso de felicidade
Onde a vida era mais embevecente.

Não havia prenúncio de maldade
Levava a vida alegre e sorridente,
Mas o destino ou a fatalidade,
Inverteu o quadro assim tão de repente.

Paz, ternura, beleza e alegria,
Fugiram no decorrer de cada dia,
Roubando de mim, todo o meu brio.

Vou recordando saudoso,a juventude,
Na sombra densa da decrepitude,
Qual crepúsculo, do anoitecer sombrio.




Preceito apagado

De que me vale a vida, se perdi,
O conceito, o dom mais precioso,
O caráter e o costume religioso,
Que outrora, com fé bem os segui.

Bons momentos felizes,já vivi,
Antes de soterrar meu ciclo caprichoso,
Hoje um fraco, um covarde, um mentiroso,
Em meu diário mais recente li.

Me resta agora confessar culpado
E assumir o peso do pecado,
Que me causa remorso e confusão.

Preciso de forças pra me converter
Para que um dia chegue a renascer,
E encontrar em Cristo, a salvação.

Um comentário:

gorettiguerreira disse...

Belíssima obra literária desse grande poeta.
Parabéns!
Gorettistar.