ROMANCES
HISTORIA DO ACIDENTE COM O PADRE VALDERY
1
Agora vou escrever
Pra contar uma verdade
Foi um caso lamentável
Aqui em nossa cidade
Com o padre Valdery
Foi uma fatalidade.
2
Esta história em que falo
Eu tenho em minha mente
E o povo aqui da cidade
Sofreu muito de repente
Quando soube que o padre
Foi vítima de um acidente
3
Em mil novecentos e noventa e oito
A vinte e um de janeiro
Uma garoa molhava
Nosso torrão brasileiro
Padre Valdery viajava
Com Deus,o seu companheiro.
4
Antes de ir a Sobral
Um corpo recomendou
Era a dona mocinha
Depois disso viajou
Sem imaginar na tragédia
Que com ele se passou.
5
Estava muito indisposto
Com gripe passando mal
Valdery se preparava
Pra viagem semanal
A uma celebração
Ia direto a Sobral.
6
Quando chegava em Morrinhos
Na casa de seu pai passou
Ofertaram alga coisa
Mas ele não aceitou
Só quis uma limonada
Em seguida viajou.
7
Disse ao pai: não vou ficar
Também falou ao irmão
Pois estou muito gripado
Não ia fazer questão
Mas tenho que chegar cedo
Pra uma celebração.
8
Viajava tranqüilamente
Quase sem pensar em nada
Quando avistou um ônibus
Bem na curva da estrada
Na ponte do rio Madeira
Ele deu uma parada.
9
Veja como são as coisas
E como acontece o mal
Ele ainda conheceu
Que era o ônibus de Sobral
Veloz, fazendo curva.
Pra defender um animal.
10
Esta empresa Redentora
Que essa linha fazia
De Sobral ao Acaraú
A um jumento defendia
O animal ele enxergou
Mas o padre ele não via
11
Ia o ônibus na contra mão
E fazia pirueta
O padre Valdery nervoso
Também viu a coisa preta
Foi jogado em um barranco
Lá por cima da mureta.
12
O motorista do ônibus
Quando viu o monza incendiado
Fugiu logo pelas trilhas
Tomando rumo ignorado
Pobre padre Valdery
Estava todo quebrado.
13
O carro caiu na rampa
Foi muito grande a pancada
Com labaredas de fogo
E com as portas travadas
Por dois homens inteligentes
Foi uma porta arrebentada.
14
Tiraram ele pra fora
Em sangue ele se banhava
Com menos de dez segundos
Já o carro incendiava
E as pessoas que viam
Muito se sacrificavam
15
Passavam muitos carros
Na hora do acidente
Nenhum se prontificava
Levar ele mais urgente
A qualquer um hospital
Pois estava muito doente.
16
Alegaram que não queriam
Com ele se complicar
E outros pelo contrário
Não queriam o carro sujar
Pois se esvaia em sangue
Não tinha como evitar.
17
Surgiu um carro tanque
E passagem ele ofertou
Mas não tinha condições
Por isso não aceitou
E o gol que foi chegando
A princípio recusou.
18
Porém com muita insistência
Daquele povo dali
Disseram: está quase morto
É o padre Valdery
Vamos ver se dá um jeito
Pra tirar ele daqui
19
E foi mesmo neste gol
Que levaram ao hospital
Um rapaz se prontificou
Pois conhecia Sobral
Rapidamente partiram
Que a vitima estava mal
20
O mesmo rapaz ensinou
Que o motorista não sabia
Onde era a Santa Casa
E ligeiro o carro corria
Com Valdery a toda pressa
Ou com certeza morria.
21
Quando o carro chegou
Os médicos estavam de plantão
Cardiologista e ortopedista
Enfermeiro e cirurgião
Depois em uma corrente
Todos fizeram oração.
22
E foram cuidando dele
Cada qual com mais respeito
Também numa hora dessas
Tudo que se faz é aceito
Se demora cinco minutos
Só Deus mesmo dava jeito.
23
E o Lúcio-Nascimento
Ao povo comunicando
Todos queriam notícias
E o Paulo Roberlando
Na porta da emissora
E muita gente chorando.
24
Para o padre Batista Frota
Roberlando telefonava
Pra saber maior detalhe
E aos outros comunicava
Com ele através do rádio
Novas noticias Ihe dava.
25
Naquele momento o telefone
Não parava de tocar
Outros ligavam chorando
Valdery como é que está?
Naquele fim de tarde
Não se podia sossegar
26
Foram momentos terríveis
Só de medo e pavor
Fazendo muitas promessas
lmplorando ao Criador
Era pedindo e rogando
Salvai o nosso Pastor.
27
Nas cidades circunvizinhas
Juntava-se a população
Ligados em urna corrente
Todos fazendo oração
Pelo padre Valdery
Pra sua recuperação.
28
Ele escapou por milagre
Que vinha do soberano
Quase ia ser carbonizado
De viver perdia o plano
E de ver nesta cidade
Seu povo e paroquiano
29
Sete dias de sofrimento
Que passou na UTI
Em dores e sofrimento
Mais os médicos sempre alí
Com mais sete dias passou
Pra outro quarto, Valdery.
30
E assim foi que passou
Entre a vida e a morte
Quase ia se findando
Dentro do próprio transporte
Uns dizem que é por Deus
Outros dizem que é por sorte.
Belém, 20/10/98.
A HISTÓRIA DO SR. DJACI
1
Vou expandir minha musa
Jesus conceda esta glória
O reino da inteligência
Vai trazer minha memória
O sofrer de um amigo
Quero contar sua historia.
2
Deixamos a vida ilusória
Pois todos são igualmente
Pra falar em Djaci
Que é da família Vicente
Quero escrever sua vida
Na outra estrofe da frente
3
Eu tenho na minha mente
O dia que ele nasceu
Foi a vinte e dois de junho
Quem está dizendo sou eu
No ano de vinte e nove
Pois pra mim ele escreveu.
4
O seu pai muito viveu
Eu digo porque precisa
Seu Filomeno de Freitas
A esposa dona Luisa
Deles foram quatro filhos
Com este se realiza.
5
O autor agora avisa
A família toda combina
Terezinha e Djaci
Que esta história destina
Também José Benedito
E Maria Esmeraldina.
6
Escrevo esta historia fina
De sua antiga morada
O seu pai já faleceu
Tem sua mãe estimada
E no lugar Tucuns
Entre Cruz e Lagoa Salgada.
7
Na minha terra adorada
Fui tomando entendimento
Tinha carinho de meus pais
Conforto e bom alimento
Mas como a vida desanda
Eu vou contar meu tormento.
8
Com quatro anos de idade
Deu-me uma febre muito-forte
Levantei e sai no vento
Eu não sei se foi por sorte
Fiquei revirando os olhos
Eu andei perto da morte .
9
Porque me deu logo um treco
Meus olhos ficaram virando
Meu pai ficou muito triste
Minha mãe ficou chorando
Hoje eu conto a historia
Porque estou me lembrando.
10
Meu pai foi a Fortaleza
Numa casa de caridade
Nela eu fui consultado
Com cinco anos de idade
Doutor Hélio Góis Ferreira
Deu-me a vista por metade.
11
E fiquei usando óculos
Quase sem dar resultado
No ano quarenta e nove
Ai eu fui operado
Pelo doutor Honório Correia
Pelos político indicado.
12
Queria a minha perfeição
Deus não quis que fosse assim
O jeito é me conformar
Pode eu ter sido ruim
Não vou me desesperar
Pode ser pior pra mim.
13
Fui menino nunca brinquei
E fiquei homem de verdade
Do domínio de meu pai
Nunca tive liberdade
De possuir alguma coisa
Também eu tinha vontade.
14
Mas eu desde muito novo
Comecei lutar com gado
Animais e outras criações
O serviço era pesado
Se faltasse uma reis
Procurar era obrigado.
15
Todos os dias da semana
Montava em um animal
Campeava pelas ilhas
Dentro de rio e canal
Fosse uma reis com bicheira
Tinha que vir ao curral.
16
Às vezes tarde da noite
Uma vaca estava faltando
Eu tinha que procurar
Que o bezerro estava berrando
Lá pelas dez horas da noite
Vinha com ela chegando.
17
Me levantava bem cedinho
Um pouco desenfadado
Ia junto com meu pai
Tirar o leite do gado
Depois ficava ao dispor
De meu pai algum recado.
18
Meu pai era comprador de gênero
A fim ganhar dinheiro
Milho, farinha e goma
De qualquer um companheiro
Eu era quem os transportava
Por isso fui comboieiro
19
O meu pai comprava tudo
Até casca de feijão
Para dar aos animais
Na época da precisão
Quando terminava o pasto
Que só ficava o torrão.
20
Comprou um milho na Jijoca
No comboio eu fui buscar
O milho não estava pronto
Foi preciso eu descascar
Já estava muito de noite
Quando acabei de aprontar.
21
Na casa de Pedro Pinto
À noite eu me agasalhava
Dormia alí bem tranqüilo
Com pouco tempo eu sonhava
Que um animal batia no outro
E a carga derrubava.
22
E ainda mesmo em sonho
Botei esta carga virada
Deixei os dois animaýs
E corri pela estrada
Sumiram de minha frente
Porém não avistei mais nada.
23
Acordei esqueci o sonho
Eu disse: eu vou agora
Chamei o João do Pedro Pinto
E ele acordou na hora
Arreamos os animais
Pus a carga e vim embora.
24
Começou meu sofrimento
Do jeito que eu sonhei
A carga caiu mesmo
Foi do jeito que contei
Foi por cima de um chão duro
Nem o rastro eu avistei.
25
No finado Antonio Pereira
Começou o meu tormento
Entraram em uma broca
Em um mato bem no centro
O Mundico Rodrigues achou
Pelo berro de um jumento.
26
Fui tirar as cargas no mato
Quando o Mundico achou
Continuei a viagem
Meu sofrimento dobrou
Pois a viagem era longe
E logo a noite chegou.
27
Eu tinha dito ao meu pai
Que chegava às dez horas do dia
E às dez horas eu estava
Na mais completa agonia
Com os animais perdido
Sem saber pra onde ia.
28
Cheguei na Lagoa Velha
Era quase de madrugada
Na casa do senhor Sentú
Pedi a ele uma pousada
Me negou esta caridade
Disse que não arrumava nada.
29
Foi mais um ponto na vida
Que por mim ficou gravado
Eu Jamais esquecerei
Um pobre desesperado
E quando eu mais precisava
Pois vinha muito enfadado.
30
Mais não tinha um companheiro
Para eu andar reclamando
Só Deus e mais ninguém
Que vinha me acompanhando
Na outra manhã seguinte
Quatro e meia vinha chegando.
31
E continuei na minha vida
Lutando com animal
Mas me aconteceu uma
Que não achei muito legal
Um transporte que eu fiz
Do senhor Modesto Vidal.
32
De Tucuns ao Paraguai
Fui fazer uma mudança
Dizendo que me ajudava
Mais só foi a esperança
Pois eu lutei foi sozinho
Nem tudo que é bom se alcança.
33
Os animais se deitavam
Lá pelo meio do caminho
As cargas muito pesadas
Madeira, barro, alumínio.
Foi grande meu sofrimento
Para eu levantar sozinho.
34
Em mil novecentos e cinqüenta e dois
Ai foi meu casamento
No dia cinco de julho
Satisfiz o meu intento
Mais veio o cinqüenta e oito
Faltou até alimento.
35
Mas continuei a vida
Cavando a terra de enxada
Criava alguns suínos
Achei bonito a manada
A vida de agricultor
Eu achei muito pesada
36
Meu pai logo adoeceu
E foi de um esquecimento
E se tornou arteriosclerose
Um mal horrível e cruento
Pois eu gostava muito dele
E do seu ensinamento
37
Eu queria bem- ao meu pai
Não queria vê-lo morrer
Viajei para São Paulo
Não foi com muito prazer
Ele chorou minha falta
Por causa do bem querer.
38
Em dezembro de sessenta e seis
Quando de São Paulo cheguei
Abracei minha família
Com- minha mãezinha chorei
E pra São Paulo de novo
Com seis meses eu voltei
39
Voltei a São Paulo de novo
Só a fim de me empregar
E arrumar uma colocação
Para a família vir buscar
Voltei passei mais seis anos
Com minha vida a pelejar.
40
E desta vez que eu voltei
Fundei até sindicato
Dos trabalhadores rurais de Cruz
Vou dizer não é boato
Nada fiz na minha vida
Pois trabalhei muito barato.
41
Da sede do Acaraú
Cheguei até ser secretário
Quase a minha vida entorta
Por um sujeito usuário
Obrigou-me a renunciar
Pois não ganhava um salário.
42
Fui a São Paulo de novo
Só por causa deste alguém
Mas quando Deus nos atrasa
Num caminho um anjo vem
Hoje moro em minha casa
Em São Paulo eu vivo bem.
43
Há dezoito anos vivo ausente
De minha mamãe querida
Mas eu tenho um mistério
Adivinhar sua vida
Eu mando uma contribuição
E não se acha perdida.
44
Eu sinto como eu tivesse
Com minha mãe ao meu lado
Do dinheiro que eu ganho
Sem ainda ter gastado
E minha mãe que precisa
Mando pra ela um trocado..
45
Quando cheguei em São Paulo
Todo trabalho enfrentei
O emprego de lavar prato
Foi logo que comecei
Fui pizzaiolo e mecânico
Todo trabalho encarei
46
Todo trabalho encarei
Eu fui também faxineiro
Eu vendi confecção
De hotel fui mensageiro
De prédio residencial
Eu fui vigia e porteiro.
47
Quando vendi confecção
Eu fui também enganado
Dos famosos trombadinha
Dez vezes eu fui roubado
Enfiavam a mão no meu bolso
E deixavam esvaziado.
48
Já moro em casa própria
Acabou-se o meu tormento
Principalmente aluguel
Não tenho aborrecimento
O que passou na minha vida
Terminou meu sofrimento
49
Todos os anos eu tiro férias
Me lembro quando criança
Vou visitar minha mãe
Que não me sai da lembrança
Meus amigos e minha terrinha
Que meu pai deixou de herança.
50
Em julho de noventa e dois
Vim passear novamente
Pra rever os meus amigos
Mãe, irmão e parente.
Aconteceu uma comigo
Que eu quase fiquei doente.
51
Fui até o Acaraú
Quando entrei no barracão
Estava o cimento liso
Ou foi por uma distração
O sapato deslizou
Quem me aparou foi o chão.
52
Com água lavei as mãos
Pois tinha ficado melada
Nem grito nem assovio
Eu não ouvi gargalhada
Eu me admirei e pensei
Oh gente civilizada.
53
Eu não falei de meus filhos
Agora preste atenção
Os filhos você já sabe
São corda do coração
Tenho três filhos legítimos
E um filho de adoção.
54
O filho de criação
Também criei com carinho
Casou-se já tem dois filhos
Ensinei-o bom caminho
Mora lá em Martinópoles
Lá em um povoadinho
55
Os meus três filhos legítimos
Os criei com muito afeto
José Arlindo Vasconcelos
Um filho bom e correto
Tem Felipe Ariel
Que foi meu primeiro neto.
56
Tem Raimundo Erivaldo
Que ainda é solteiro
E tem Mamuel Arrilson
Que casou foi o primeiro
Pois sendo assim deste jeito
Manoel é o terceiro.
57
Minha vida com a esposa
Maria do Livramento
As nossas brigas são poucas
Quase não me dá tormento
Eu sempre tenho capricho
De não faltar o sustento.
58
No dia cinco de julho
Foi o meu aniversário
E de meu primeiro neto
Pois era tão necessário
Meus quarenta de casado
Pois marquei no calendário.
59
Meu velho pai faleceu
Mais deixou muitos amigos
Com sua morte eu herdei
E são todos bem comigo
Chegando na minha casa
Tem almoço, jantar e abrigo.
60
O autor faz um parêntese
Pra falar de um ocorrido
Ao terminar esta historia
Fiquei muito comovido
Chegaram com a noticia
De Djaci falecido
61
Fiquei muito emocionado
Ao saber desta historia
Faltava uns quatro versos
Me faltou até memória
Falei com a voz trêmula
Deus Ihe dê a sua glória.
62
Me contaram a história
Eu vou contar mais ou menos
Disseram foi uma barroada
No Diaci Filomeno
Jogou numa distancia grande
E foi um carro pequeno.
63
Saiu numa bicicleta
De certo foi um mandado
Vinha vindo um carro grande
Vinha um pequeno do outro lado
O carro pequeno pegou
Deixou o pobre esmagado.
64
Teve o crânio fraturado
E uma perna perdida
Foi uma pancada muito grande
Ele em sua plena lida
Tanto que fez diligência
E liquidou sua vida.
65
Deus te dê felicidade
Do autor que escreveu
Não pene no outro mundo
Pelo que não prometeu
Deus vos dê a recompensa
É a sorte que Deus Ihe deu.
66
Digo adeus a Djaci
Que já dorme o eterno sono
A sua esposa querida
Que ficou no abandono
Em sua casinha chorando
Pela falta do seu dono.
67
Quase findando a história
O amor é quem consome
Deus me deu inteligência
Coisa que não há quem tome
Abaixo eu vou escrever
Em três estrofes o meu nome.
Acabei esta história
Na vida em desprazer
Tinha um grande amigo meu
O qual veio a falecer
Numa grande barroada
Isso foi inesperada
Ouvi o povo dizer.
Já chorei a sua falta
O mundo é mesmo assim
Zelou tanto a sua vida
Ele mesmo disse a mim.
Deus o chamou foi embora
Os anjos chegam na hora
Saudades deixou sem fim.
Sou eu o grande poeta
Antônio Pedro, o artista.
Não posso escrever melhor
Tenho falta em minha vista
Olhos cinzentos de velho
Sou poeta repentista.
UMA TRAJEDIA PELO AR
01
Peço a Jesus divino
Minha memória e clareza
Para eu fazer em verso
E contar uma certeza
De uma tragédia horrorosa
Que se deu em Fortaleza.
02
Era um avião da Vasp
Saiu da terra urbana
Cento e trinta passageiros
Tudo era gente bacana
No dia oito de janeiro
Agora nesta semana.
03
Na cidade Pacatuba
Na serra da Aratanha
Chocou-se contra a serra
Na mais alta montanha
Deixando carbonizado
E fisionomia estranha.
04
Um alguém em Pacatuba
Quando viu o clarão
Disse: parece um relâmpago
E imitando um trovão
Parecia mais não era
Foi uma grande explosão.
05
Se embrenharam na mata
Logo de manhã bem cedo
Por caminhos tortuosos
Dentro de pau e rochedo
Todos com muita coragem
Ninguém estava com medo.
06
Ficaram todos pasmados
Do horrível desodoro
Farrapos pelas matas
Parecia um coradouro
Precisava coração forte
Pra não haver muito choro.
07
Havia grande nostalgia
Estava tudo tão sério
Como quem viaja junto
Em busca de um cemitério
Com pessoas da família
Levando um caixão funéreo.
08
Veio o corpo de bombeiros
Também os radialistas
Com os rádios-amadores
Todos faziam entrevistas
Também gente da família
Fotógrafos e jornalistas.
09
Edson silva não parava
Mesmo com grandes pesares
De vez em quando um conforto
A todos familiares
A noticia não parava
Para a radio Verdes Mares.
10
Todos eles muito aflitos
Seguiam a mesma trilha
Juntando corpos humanos
Como quem junta mobília
Fazia até piedade
O lamento da família
11
Ai baixou helicóptero
Dentro dos matagais
Pois avistaram de longe
Sabiam pelos sinais
Havia naquele campo
Muito mais restos mortais.
12
Na região metropolitana
Aqui em Fortaleza
Ao povo cearense
Foi uma grande surpresa
Deixando o povo, em massa
Todos com grande tristeza.
13
Naquelas tristes montanhas
Onde a nave se espatifou
Afirmava a auditoria
Aqui ninguém escapou
A família cearense
Só de tristeza chorou.
14
Brinquedos, livros e álbuns.
Todos ficaram em pedaços
Só se via espatifado
Pernas, costelas. e braços
Fuselagem de avião
Tudo estava em fracasso.
15
Fazia pena se ver
O raio de destruição
Com cem metros de distância
A asa do avião
Com um metro de tamanho
Foi encontrada no chão.
16
Encontraram as partes que tem
Coisa que bem se combina
Ainda estava fumegante
Quando acharam a turbina
Tudo estava acabado
Não restava uma bobina.
17
Às oito horas começaram
Os trabalhos de resgate
Ao redor de duzentos metros
Procuraram em toda parte
E por meio de cada função
Exerciam sua arte.
18
As providências foram tomadas
Na área o isolamento
A subida da serra era difícil
Havia um regulamento
Para a famílii das vitimas
Chegarem nesse momento.
19
Choravam as incertezas
A policia não permitia
Que fossem a lugar algum
Era o que ela dizia
E ficaram sempre aflitos
Até que findasse o dia.
20
Difícil acesso ao local
Só helicóptero baixava
Ainda com mais de cem metros
E ainda se aproximava
Levando restos mortais
Que para o campo levava.
21
No aeroporto Pinto Martins
Era grande a movimentação
Gente querendo saber
Da queda do avião
Tudo emocionado
Pedindo informação.
22
Ai tiveram a notícia
De onde tinha caído
Que não há sobrevivente
Está tudo destruído
Com este comunicado
Ficam todos comovido.
23
Com a relação divulgada
Deste vôo extravagante
Cento e vinte e oito passageiros
E mais nove tripulante
Um total de cento e trinta e sete
Neste avião gigante.
24
As emissoras de rádio
Eram totalmente ocupada
No aeroporto Pinto Martins
Havia muita zoada
Entre amigos e família
Ficando desenganada.
25
Militares e populares que foram
No lugar do acidente
Ficaram admirados
De um caso tão recente
Para contar a historia
Não houve sobrevivente.
26
Era lixo pelas matas
Era ferro retorcido
Havia homens e mulheres
Mulheres e seus maridos
E as famílias choravam
Pois tinham todos morrido.
27
A equipe fazia busca
De documentos e revistas
Era o que encontrasse
Realizavam conquistas
Pra ver se podiam fazer
A identificação das vitimas
28
Os profissionais com pressa
De cordas desciam distantes
Juntando pernas e braços
Com os trabalhos constantes
Mas não reconheciam nada
E continuavam avante
29
A caixa preta do avião
Também foi localizada
Por gente de confiança
Esta também foi levada
Para outros lugares
Para ser examinada.
30
As nove horas as emissoras
Anunciavam constantemente
A catástrofe ou desastre
Que chamam de acidente
Foi um acabar de vida
Para as famílias presentes.
31
No município de Pacatuba
Todos queriam ver de perto
Já sabiam do desastre
Queriam contar por certo
O destroço do aparelho
Para ficar mais alerto.
32
Às dez horas já era grande
Lá na serra a multidão
Só viam os pedacinhos
Que sobrou do avião
Só se ouvia muito choro
Daquela população.
33
Era uma grande fila
Na vereda principal
Mesmo velhos e crianças
Também subia casal
Com muita dificuldade
Até chegar ao local.
34
Minutos depois chegava
Reforço do policiamento
Da base aérea de Fortaleza
Colocando impedimento
E conseguiram fazer
Para não haver tormento.
35
A subida da serra era difícil
Precisava uma parada
Pra recuperar as forças
E continuar a jornada
E quem se esmorecia
Voltava sem contar nada.
36
Da delegacia de Pacatuba
O ilustre José Nival
Ele e outros auxiliares
Todo este pessoal
Devido o desgaste físico
Acabaram passando mal.
37
Um oficial que compunha
A equipe sempre em frente
Pra colher informações
No local do acidente
Quando viu o caso horrível
Quase morre de repente.
38
Sempre pediam notícias
A telefonista avisou
A equipe fez o resgate
Do avião nada sobrou
Em outros telefonemas
A verdade declarou.
39
Na cidade de Pacatuba
Eram muitos os visitantes
As principais ruas ficaram
Cheias de carro em instantes
Parecia dia de festa
Só que não era importante.
40
Os helicópteros que sobrevoavam
Noticias torna a contar
Aos que aguardavam novas
Pois queriam indagar
Eles contavam o certo
E não queriam acreditar.
41
Somente às treze horas
Um helicóptero proseguia
Os trabalho de resgate
E ainda prosseguia
Pra facilitar a tarefa
Antes que findasse o dia.
42
José Maria Lucena
Junto a outros militares
Uma comissão do governo
Confortava todos os lares
Prestando solidariedades
Com a rádio Verdes Mares.
43
Todo grupo lamentava
Este momento atroz
A comunicação social
Fez ouvir a sua voz
Também o industrial
Chamado Edson Queiroz.
44
O lamentável acýdente
Foi bem brutal sem defesa
Toda população chora
Lamentando a incerteza
Os municípios vizinhos
E a capital Fortaleza.
45
No Instituto Médico Legal
Ficam todos de plantão
Oito médicos auxiliares
E um grande número de caixão
Nas calçadas do IML
Era grande a multidão
46
Viajava também na Vasp
O Afonso Temporal
Dona Dulce Oliveira
Representante comercial
Júlio Oliveira Baiano
Um outro profissional.
47
O empresário Edson Queiroz
Este fiel companheiro
Era pra ir a Recife
Sair do Rio de Janeiro
Mais não encontrou passagem
Livrou-se do desespero.
48
Tinha muito o que contar
Mais me faltou a memória
Pra contar todo ocorrido
Tornou-se longa a historia
Espero ser deparado
Com uma grande vitória.
49
Dom Aluisio, o bispo
Celebrou pessoalmente
Pensando em todos os corpos
Vitimas daquele acidente
Deram conforto as famílias
Que se encontravam presentes.
50
Não achei um vivente
Que me desse informação
Só tive esta noticia
Da queda do avião
Fiquei muito pesaroso
Sentindo no coração
51
Emocionado escrevi
Pra atingir minha meta
Sentindo no coração
Como que fosse uma seta
Pois em nada lhe garanto
Que Antônio José dos Santos
Seja um pequeno poeta.
JOÃO NETO
01
Oh, bom Jesus do universo
Daí - me uma inspiração
Para eu fazer em verso
O que vi numa canção
A triste cena horrorosa
É de cortar coração.
02
A historia que me refiro
É de um rapaz analfabeto
De herança que traz dos pais
Só lhe chamavam João Neto
João Batista Araújo
Era o seu nome completo.
03
Um dia ele viajou
Pra casa de seus parentes
Quando regressava ao lar
Viajando em boa mente
Um cretino desordeiro
Cruzou-se em sua frente
04
Às seis horas mais ou menos
Eu tenho este roteiro
Viajou junto com ele
Fingindo ser companheiro
Fazendo boa palestra
Sendo ele um desordeiro.
05
O pobre rapaz inocente
O monstro cheio de censura
Tirou logo um cacete
Dez centímetros de grossura
Ele manso como um cordeiro
Foi levado a sepultura
06
As nove horas do dia
Numa casa encostou
Só andando pelos matos
Assim o rapaz contou
Vinha com muita sede
Pediu água e tomou.
07
O monstro não encostou
Com o cacete na mão
Ficou no pé de uma cerca
Só olhando para o chão
Anacleto dono da casa
Prestou-lhe bem atenção.
08
O rapaz se despediu
Continuaram a viagem
Ensinando caminho perto
Como quem leva bagagem
Por dentro de um mato alto
Para sair na rodagem
09
Tiraram numa vereda
Ele dizia é melhor
E pela dita vereda
No meio tinha um cipó
Quando ele passou por baixo
O monstro matou sem dó.
10
Quando o rapaz caiu
E ficou sem sentido
O covarde tirou-lhe a roupa
Deixou o pobre despido
Ficou só com uma bermuda
Porque de Deus foi servido.
11
De costume andava um rapaz
Por aqueles matos caçando
E pela dita vereda
O moço ia passando
E viu o pobre cadáver
Chegou em casa contando.
12
Era às cinco da tarde
Deitado no frio chão
Todo ensangüentado
Como quem quer punição
Se a família soubesse
Ah! meu Deus que aflição.
13
Correu logo a notícia
Por toda localidade
Já tendo quase certeza
Isto por felicidade
Que o Anacleto contou
Porque lhe tinha amizade.
14
O moço avisou a polícia
Já ia bem informado
Que o Anacleto falou
Conhecia o desgraçado
Contou tudo direitinho
Certo foi acreditado.
15
De certo a polícia foi
Junto com três companheiros
Foi buscar logo o finado
E lá pegou o roteiro
Pra ir pegar o bandido
Iam correndo ligeiro.
16
Chegaram e cercaram a casa
Pegaram logo o bandido
Botaram no mesmo carro
Que já ia o falecido
Correndo pra detenção
Mas foram mau sucedido.
17
O carro ia correndo
Um rapaz facilitou
Deu uma tainha danada
Do carro mesmo pulou
No rumo que ele correu
O cabo ainda atirou.
18
Ficou só o comentário
Que só ficou o finado
E pra saber de qual família
Era um caso ignorado
Pois ninguém não conhecia
Era pra ser sepultado.
19
E alí chegou um homem
E disse é meu conhecido
Chama-se João Neto
Pobre deste falecido
Capaz até de saber
O dia que foi nascido.
20
Sua mãe se chama Elza
Seu pai se chama Luiz
Conheço são meus vizinhos
É uma família feliz
Pra haver uma coisa dessas
Foi a má sorte que quis.
21
Ele mora na Jijoca
E este é meu companheiro
Ai botaram em um carro
Saíram muito ligeiro
E pra avisar a família
Foi na frente um mensageiro.
22
E quando chegou o corpo
O povo todo chorou
O seu pai estava em pranto
Que agonia passou
E pra sua pobre mãe
Um punhal o transpassou.
23
Ainda foi muito feliz
Ninguém diz que foi tão mal
Ainda encontrou bondade
De todo este pessoal
E logo foi sepultado
Na sua terra natal.
24
A pobre mãe pesarosa
Reclamava a sua sorte
Por sua grande fraqueza
Chegou a pedir a morte
Pai e mãe sofre muito
Precisa ser muito forte
25
Com oito dias depois
Pegaram sempre o bandido
O leitor há de lembrar
Que ele tinha fugido
Quem deve a Deus paga a Deus
Por mais que esteja escondido.
26
Foi este o grande crime
A dezenove de janeiro
Deixando penalizado
Todos os seus companheiros
Que morreu martirizado
Por um cruel desordeiro.
27-
Foi no ano 1970
Que este sujeito tirano
Matou um pobre inocente
Por um pedaço de pano
Mas recebe a recompensa
Do grande Deus soberano.
28
O mesmo autor escreve
Deus te dê felicidade
Na grande mansão celeste
No reino.da eternidade
Deixando para os seus pais
A grande dor da saudade
29
Agora cheguei no fm
No que vi numa canção
Tirando de minha memória
O que vi na ingratidão
No dia em que foi morto
lnocente e sem conforto
O nosso pobre João.
30
Já findei minha história
O mundo é mesmo assim
Zeloso que seja o homem
Ele um dia terá fim
Deus é grande e poderoso
O homem sempre orgulhoso
São da raça de Caim
31
Sei que vão saber agora
A grande calamidade
Nunca eu tinha visto
Tanta dor, tanta maldade
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