O poeta Zeca Muniz
Conta tudo que passou
Do drama do alcoolismo
Todo mal que lhe causou
A malvada da cachaça
Que em todo canto se acha
Cheirosa como uma flor.
II
Logo no alvorecer
No copo busquei amparo
Pra vencer a timidez
Naqueles momentos raros
Mais passada a euforia
Sobrava melancolia
E isso me saiu caro.
III
Ela é dama sedutora
Garra forte de serpente
Prova hoje e amanhã
Inebria sua mente
E depois de viciado
Já está acorrentado
Mesmo que seja valente.
IV
Fui do álcool dependente
Deixo aqui minha lição
Só causei constrangimento
Buscando motivação
Perambulava sem fome
Fui um molambo de homem
Sem futuro e sem razão.
V
O álcool me consumiu
Nenhuma força restava
Só me animava um pouquinho
Quando dois tragos tomava
Para o mal que eu tinha feito
Pra curar a dor do peito
Era o remédio q’eu achava.
VI
O álcool é como a ferrugem
Vai comendo devagar
Quando o homem se dá conta
Não dá conta de parar
O que fazer nessa hora
Por a coragem pra fora
Pra poder se levantar.
VII
Sofri muito e fiz sofrer
Debitando a qualquer um
Os fracassos que vivi
Para mim era comum
Sofria noites caladas
Idéias desajustadas
Sem objetivo algum.
VIII
Era a morte da alegria
Respeito e dignidade
Do caráter, da vergonha,
Do homem da minha idade
Tropeçando pelas botas
Ser motivo de chacotas
Pelas ruas da cidade.
IX
Antes de tudo perdido
Alguém me estendeu a mão
Tirei minha sorte grande
Botei joelhos no chão
O frangalho de pessoa
Deixou de vagar à toa
Tinha Deus no coração.
X
Beirando os oitenta anos
Foi que parei de beber
Quando meu irmão caçula
Conseguiu me convencer
Já livre da dependência
Me acordou da demência
Me deu um livro pra ler.
XI
O livro era do AA
Os 12 passos da luz,
Que brilhou na minha mente.
De imediato me pus
A decorar os seus passos
Como a repousar nos braços
Do homem da Santa Cruz.
XII
Evoluí com o grupo
Criei laços de amizade
Fui dos Alcoólicos Anônimos
Dei palestras de verdade
Isso não é brincadeira
Me salvei da bebedeira
Aos oitenta de idade.
XIII
Livre das peias do vício
Da cachaça como amante
A sedutora senhora
Hoje vive bem distante
Renasci um homem novo
Quebrei a casca do ovo
Me salvei naquele instante.
XIV
Aos oitenta e oito anos
Oitenta e nove à porta
Faço versos todo dia
Se o computador suporta
Vou publicar outro livro
Pois se fica no arquivo
Vai se tornar letra morta.
XV
Amigos o alcoolismo
É chaga da sociedade
Pobre de quem se entrega
Ao vício com pouca idade
Se eu consegui aos oitenta
Foram anos de tormenta
Usem a mentalidade.
XVI
O vício destrói o homem
Que de tolo não percebe
Família sofre calada
Como queimasse de febre
Contudo não fica mágoa,
Se ele bebe da água
Que passarinho não bebe.
XVII
Quero contar que venci
A cachaça, o meu vilão.
Fiz correias do meu couro
Mas restou a opinião
Hoje sou homem de punho
Deixo aqui meu testemunho
Cachaça não é água, não!!!
XVIII
Liberto dos desenganos
Tornei-me um ser coerente.
Aos poucos fui trabalhando
Desperto de corpo e mente
Outros prazeres busquei
Na leitura me espojei
Me lamiei no repente.
XIX
Fui aos livros estudando
Afloraram sentimentos
De Deus me aproximando
Clareando o pensamento
Tal o silêncio das rosas
Poesias, versos, prosas,
Sem cantiga de lamento.
XX
Me livrei daquela ingrata
Nem me lembro da Marvada
Sinto o cheiro já de longe
Outrora mulher amada
Me livrei do capiroto
Hoje eu estou aqui solto
E ela lá, engarrafada.
XXI
Quem se apega na bebida
Aos poucos vai atolando
Caminho de sofrimento
Estrada de desengano
É ferida que não sara
É um corpo sem a cara
Apenas um ser humano
XXII
Foi o que se deu comigo
No fundo escuro do poço
Já vendo a desgraça feita
Com a corda no pescoço
Já não tinha mais coragem
Pra seguir minha viagem
Com o peito em alvoroço.
XXIII
Durante bastante tempo
Me arrastei, sem esperança.
Cambaleei pelos becos
Procedi feito criança,
E conforme o tempo passa
Velho Zeca da cachaça
Só existe na lembrança.
XXIV
Quem me vê assobiando
Não sabe por que passei,
A vida do dependente
É uma terra sem lei.
Quem se entrega ao vício,
Se joga no precipício,
Ainda bem que acordei!
XXV
Já estive no escuro
E hoje vivo de afago.
O jovem que bem pensar
Evita tomar um trago
É remédio ao contrário,
O fim do itinerário
Na vida só faz estrago.
XXVI
Quem não ouve o mais velho
Sempre cai na esparrela
Tudo ta de bom tamanho
Não escuta quem apela
Quando é questionado
Diz que não é viciado,
Mais morre de amor por ela.
XXVII
Contei tudo que sabia
Sobre tudo que passei
Se faltou alguma coisa
É porque não me lembrei.
Que a pulga faça lama
Debaixo da minha cama
Do resto que não contei.
XXVIII
Por derradeiro confesso
Tenho o peito aliviado
É como tirar um peso
Do velho lombo cansado
Agora, carga no chão,
O cordel na sua mão,
Se isso for publicado
XXIX
Zeca Muniz hoje em dia
Goza de boa saúde
Sua ruma de poemas
Da pra encher um açude
Quero ver se agüenta
Fazer poema aos noventa
Deus do céu que lhe ajude!
XXX
Aqui termina o cordel,
Zeca Muniz se supera.
O gosto da aguardente
Lembrança de uma era
De baixa estima e dores,
Da ausência de amores,
Que sua mente hoje zera.
14/01/2010
2 comentários:
A Flor do Amor!
Quero uma flor no formato do amor,
Que seja assim, uma vida sem dor;
Quando sonhardes vai compor do amor,
E toda alma do Céu tenha a cor.
Toma o carinho e floresce o caminho,
De amor e luz faz o seu próprio ninho;
Seja o luar tua vida a clarear,
Beija o sorriso, ele ensina do amar.
Viaja a mente, ama tua vertente,
Planta a semente e colhe tão somente,
Chame uma estrela sente o seu brilhar,
Na terra és luz enviada pra amar.
Em teu contexto vence o preconceito,
Olha o irmão sente a causa e o efeito;
Reparte o pão põe nos lábios a canção,
Teu despertar seja um alegre cantar!
Em tuas dores rende a Deus louvores,
Tal qual a rosa sempre bem formosa,
Corre ao jardim abre os braços pra mim,
Sou Deus do Amor toda “Glória” sem fim.
Vai pela fé reconhecendo o amor,
A nada temas, sou quem te formou;
Quando uma luta tentar abater-te,
Lembras de mim, sou “Amor e Poder!”
Goretti Albuquerque.
Publicado no site: O Melhor da Web em 22/05/2010
Código do Texto: 56278
Ao meu Pai com emoção!
Rua sete de Setembro
Quase no final da rua
Em um casarão branquinho
Lá mora um Senhor franzino
Por nome: Zeca Muniz.
Parece um combinado
De o nome de sua rua
Se encaixar com os seus atos
Para libertar-se dos fatos
Que se refez no passado.
Um jeito dócil e manso
Enquanto cala ensina
Na cadeira de balanço
Olha nas mãos a caneta
E seu caderno de escrita
Vai esboçando as facetas.
Passos lentos e alongados
São sua marca registrada
Mostrando que assim chegamos
Se olharmos bem a estrada
Nega-se ser um letrado
Porque não teve um Mestrado.
De olhos negros marcantes
Aos seus oitenta e oito anos
Através de seus “Poemas”.
Independente para quem
Em seus romances e prosas
Eterniza-se e ensina alguém.
Para por alguns instantes
Olha o Céu com olhar profundo
Como perguntando a Deus
Onde ficou o seu mundo
Percebe que o coração
Guardou seu Amor profundo.
José de Sousa Albuquerque
Não nascestes no Egito
Mais na pequena “Aningas”
És de fato um “Sonhador:”
Mesmo calando seus sonhos
És por Deus um “Pensador.”
Meu Pai Poeta desculpe
Os meus singelos versinhos
Que com sua caneta e caderno
Fiz algo assim mais fraquinho
Para escrever que “Te Amo:”
De ti serei um pouquinho.
Goretti Albuquerque.
Publicado no site: O Melhor da Web em 17/01/2009
Código do Texto: 11983
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